Diário político 216
(o texto que se segue pertence a d’Oliveira. De facto, na sequência de uma estranha complicação de assinaturas desapareceu a de d’Oliveira pelo que entretanto a sua série “diário político” se publicará à boleia de mcr)
Afinal como é? Como foi?
Alguns senhores Secretários de Estado entenderam apresentar a sua demissão para, segundo Sas Ex.as poderem defender-se de uma fantasiosa acusação fabricada (ou a fabricar) no Ministério Público.
Achavam os respeitáveis governantes que havia na opinião pública um processo larvar e pertinaz que os “assava em lume brando”. Assim, e sem que, pelo menos para a generalidade dos cidadãos interessados, houvesse constituição de arguidos (coisa que neste momento –que eu saiba - ainda se não concretizou) resolveram os alvos dessa feroz, cavilosa e alegada conspiração (a todos os títulos “injusta e ridícula”) avançar eles próprios com o pedido ao MP de “constituição de arguido” para lavar a face e salvar a honra.
Conviria desmontar esta historieta barata que mete água poor todos os lados.
Porque é que os jovens estadistas demoraram um inteiro ano em dar o passo que, segundo os admiradores, foi de autentico respeito pelo interesse de Estado. Foi?
Andam por aí gentes que, notoriamente de má fé, inimigas do progresso pátrio e da virtude pública, que garantem que os agora ex-governantes sabiam da acusação do MP.
Assim, em vez de saírem à estacada para defender o bom nome, os demissionários resolveram defender-se “corajosamente”, desafiando os novos “inquisidores” a sair a terreiro e a mostrar a sua horrenda fauce de perseguidor de justos.
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Estava este texto naquele exacto ponto quando sai a notícia que o MP tinha enviado a 6 de Julho os respectivos avisos de constituição de arguidos. Teria assim havido, como de costume, uma fuga de informação que permitiu aos demissionários aparecerem de corda ao pescoço e vestidos de burel perante o algoz.
Afinal a famosa coragem política, o súbito rebate de dignidade ofendida não passariam de um tosco ardil cozinhado no fim de semana.
Oiço, neste momento, o dr Miguel Sousa Tavares, comentador da SIC que, em substância, acha que ambas as versões (demissão por motu próprio ou obrigada pelas circunstâncias) deixam muito espaço para dúvidas. Está enganado o ilustre comentador. Redondamente enganado. Se há um despacho do MP com data de 6, quinta feira que, de facto, só poderá ser conhecido – e com sorte – na segunda seguinte, das duas uma. Ou isso é verdade e o MP não está a tentar torpedear a renúncia dos agora arguidos ou é mentira e está a tentar lançar areia aos olhos do estimável público e finge que se antecipou à demissão das “vítimas” de um (mais um...) processo politico. Para tal, falsificou entre esta manhã e depois do anúncio da demissão e consequente pedido dos senhores Secretários, a data do despacho!
O dr. Sousa Tavares é licenciado em Direito, quiçá ainda advogado. Que me lembre sempre o vi na onda do jornalismo e, nos intervalos, a escrever umas vagas mediocridades ficcionais com grande favor público, coisa em que não é o único mesmo se sabemos que qualquer criatura que apareça na televisão e nos jornais pode, mesmo sem querer, ser tomada por génio literário. O país de poetas é hoje uma zona infestada por romancistas & similares saídos da mesma mole televisiva. Felizmente, isto, esta gloríola proto-literária, dura o tempo de um suspiro e desaparece nas dobras da História da Literatura num par de anos. Aliás, a receita já é tão conhecida e a concorrência tão numerosa que estes robustos talentos comentarísticos e literários se atropelam uns aos outros.
Acrescentou o imortal autor de “Equador” que não aprecia o MP e que sempre o criticará desde que ele se comporte como correntemente acha que se comporta. É um seu direito exactamente como, e muito bem, é contra o acordo ortográfico e, menos bem, a favor das touradas. Não vou questionar o seu direito à opinião mas já me parece duvidosa a sua campanha contra o MP entidade que não me é particularmente querida mas a que reconheço, dadas as conhecidas limitações em que trabalha, algum mérito e alguma virtude.
Aliás, sempre que o MP avança com um inquérito ou um processo sensível desata-se uma gritaria nem sempre inocente nem visando o triunfo da justiça.
Estamos em Portugal, está tudo dito.
D’Oliveira fecit 10-07.17