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Incursões

Instância de Retemperação.

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Diário político 224

d'oliveira, 20.11.19

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Foge cão que te fazem barão.

Mas para onde se me fazem visconde?

d'Oliveira, Nov19

 

Este texto havia de chamar-se “e ele a dar-lhe e a mula a fugir”, ou seja perdi uma oportunidade de ouro para dar nome a uma croniqueta, dure ela o que durar na memória de algum leitor.

O caso é o seguinte

Julgo lembrar-me de uma declaração de Sª. Ex.ª , o Senhor Presidente da República onde, ainda em princípio de mandato, afirmava que neste país havia condecorações mais. E por tudo e por nada!

E, em consequência a nova Presidência seria muito mais cuidadosae atenta a essa chuva de benesses honoríficas.

Um jornal pegou-lhe nas palavras e descobriu que Soares teria sido o mais pródigo, logo seguido de Sampaio. Eanes e Cavaco tinham sido menos generosos ou até, no caso do segundo, forretas.

Contudo, passados estes aos de presidência, beijinhos e “selfies” a esmo (a pontos de o meu amigo K dizer que, mais dia menos dia, seria o único português que não se retratara mão na mão com o Presidente. E isso, essa desconcertante ausência, dar-lhe-ia, vejam bem!, uma infinita notoriedade, quiçá um lugar na história das primeiras décadas deste século.)as condecorações dispararam a um ritmo jamais visto. Pelos vistos aquela prometida acalmia nas comendas foi esquecida, obnubilada pela pertinácia dos portugueses que se terão excedido em acções meritórias obrigando o seu lídimo representante a dar o dito por não dito. 

Agora, na hora da morte do José Mário Branco, eis que S.ª Ex.ª acolhe a ideia de uma condecoração póstuma, caso a família do finado não se oponha. E mais: S.ª Ex.ª recordou que já teria, e por várias vezes, proposto uma comenda ao cantor mas que este, como se esperava, sempre recusara.

Quem conheceu o Zé Mário, desde os seus tempos aventurosos de Coimbra sabe que isto era nele algo de inato. Para o Zé, as honrarias protocolares eram detestáveis.

Agora que o apanham morto e desprevenido, eis que a comenda ameaçadora espreita. Basta a família não se opor!

Ontem, mcr, num post aqui mesmo, já se arreceava de uma panteonização do cantor e compositor. Ainda as suas curtas linhas não se tinham (metaforicamente) secado e lá vinha a palavra do Chefe do Estado que, aliás, e sem se rir, abundava num discurso elogioso sobre um adversário político de sempre. Eu desconhecia que nos idos de 60/70, o jovem estudante de Direito Marcello Rebelo de Sousa pertencia já ao pequeno mas combativo núcleo dos admiradores do autor de FMI e, mais na época, da “ronda do soldadinho”. É sempre bom saber que, nesses tempos de combate incerto, um jovem que tudo empurrava para a Direita, se revelasse um resistente, porventura silencioso mas sempre resistente.

Não fui votante de MRS em nenhuma ocasião. Não fui seu entusiasta enquanto frenético dirigente do PPD/PSD. Ouvi-o, as mais das vezes enfastiado, na sua posição de professor Marcello comentador. E, nessa altura, apostei com um par de amigos que aquele homem, inteligente, astuto, frio e bom explicador dos assuntos que pecsava no seu comentário semanal, tinha a ambição de ser Presidente da República. Os meus amigos acharam-me “exageradote” (sic) e aceitaram todas as apostas que propus. E pagaram, sem amuos mas recusando dar-me o estatuto de pitonisa, os almoços em questão. Já renovei o dsafio mas eles, mais precavidos, ainda não se decidiram. E com o elogio ao JMB duvido que arrisquem.

Nada tenho contra o facto de o Doutor (por extenso) Rebelo de Sousa gostar de ser Presidente tanto quanto gostará de nadar. Não tenho qualquer dúvida que, no caso de se recandidatar, ganhará (sem precisar do meu solitário voto) e por larga maioria. Por um lado isso tornou-se já uma tradição: todos os Presidentes da Democracia bisaram e com inegável êxito. É mesmo provável que o PS (como outrora o PPD na 2ª eleição de Soares) apoie ou, no pior dos casos, recuse dar o aval a uma candidatura hostil a MRS. Lá terá as suas razões.

Portanto, essa futura campanha será um passeio (ainda maior e mais fácil do que o anterior) para o actual inquilino de Belém. Aparecerão, claro, uns aventureiros a disputar-lhe a eleição. Não porque pensem ganhar mas sempre é uma ocasião de se tornarem falados. Na melhor das hipóteses essa corrida ganha à partida será uma espécie de Branca de Neve contra os Sete Anões, sem rainha má, sem maçã envenenada e sem príncipe beijoqueiro e salvador. Não é a melhor história mas é a história possível.

O hino de campanha do actual Presidente poderia muito bem ser “a cantiga é uma arma” mesmo se “FMI” fosse mais promissor. Não serve por ser longo de mais e conter palavrões.

 

(Vai a crónica oferecida a Maria Assis por muitas razões e com um beijo)