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Incursões

Instância de Retemperação.

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diário político 228

d'oliveira, 23.08.18

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Ai a silly season...

d'Oliveira fecit 23.08.18

 

1 Repegando num tema quente: parece que o Governo obteve uma grande vitória em Monchique: não houve pessoas mortas!

Conviria lembrar que mortos em incêndios de Verão foram até ao Verão passado, a excepção e não a regra. Desta feita mal seria que além das restantes desgraças houvesse mortos. Os meios empregados (Às vezes mal empregados...) foram tais, o “salvamento” de habitantes ameaçados (por vezes “manu militari” e em demasia) que realmente mortos seria algo de medonho e poria em causa tudo a começar pela cabecinha do dr Costa.

Não houve mortos ou melhor, morreram animais domésticos, gado, fauna silvestre de todo o género e perderam-se casas, lavras, plantações (sobretudo medronheiros, o que é uma desgraça por três razões: demoram a crescer, acabam com pequenas indústrias de licores e destilados e desaparece – provisoriamente- um arbusto eficaz contra o fogo). Mias uma vez se referiram os eucaliptos. Mais uma vez os seus críticos esqueceram que, em terras quase abandonadas, o eucalipto é o único ganha pão dos escassos habitantes. Cresce e é rentável em metade do tempo do pinheiro e nem vale a pena referir outras espécies, por exemplo o sobreiro, que demoram três vezes mais a ser rentáveis.

Agora, timidamente surge a referência à escassez de estradões corta-fogos. Pelos vistos só havia entre 15 e 20% do que seria necessário. Quem é que não fez os trabalhos de casa?

Anda por aí um secreto júbilo sobre a escassez de fogos. Tirando alguns dias extremamente quentes, este Verão e este Agosto (por exemplo, ontem e hoje) tem sido moderadamente quentes. Às vezes a meteorologia ajuda...

 

2 Os panteonistas continuam esforçados. Agora a sociedade Portuguesa de Autores quer agarrar nos ossos do Zeca Afonso e metê-los naquele lúgubre monumento. Quem conheceu o ZA – e eu conheci-o bem – sabe que ele era contra todo o tipo de honrarias. Disse-o vezes sem conta. Troçou delas ainda mais vezes. Deixou claro que queria ser enterrado em campa rasa. Nada disto chega para as criaturas da SPE. Nem sequer as declarações da viúva, do primeiro verdadeiro editor do Zeca (Arnaldo Trindade) e seguramente, pelo menos, da malta que o conheceu em Coimbra. A SPE que vive languidamente no torpor estival à falta de resolver os problemas reais dos seus autores vivos, entendeu tornar-se a campeã dos mortos...

 

3 O Partido Socialista teve, desde o seu atribulado nascimento (1973) uma pequena seita que Lenin qualificaria de “doença infantil”. Cito apenas dois exemplos, aliás os menos tontos: Manuel Serra e a malta do posterior POUS (aires Rodrigues e Carmelinda Pereira). Em qualquer dos casos vinham aureolados pela efectiva e tenaz resistência ao Estado Novo. Era gente séria, mesmo se desvairada pela tentaçãoo radical. No caso de Serra, havia claramente, o esforço da reconversão de líder católico em revolucionário puro e duro. Os recém conversos são sempre assim. Aires e Carmelinda usaram, como bons trotskistas, da táctica do “entrismo” num partido que necessitava desesperadamente de gente inteligente e com duas ideias claras sobre a Esquerda.

O partido suputou-os sem dificuldade e lá se foi acomodando com uma vaga ideia de social democracia que, aliás, nunca se esforçou muito por ser idêntica às dos eficazes alemães ou escandinavos. O PS, graças a Soares, foi sempre afrancesado e o “mon ami” Miterrand forneceu as minguadas armas ideológicas com que o PS se foi afinando. A herança da 1ª República é neste partido muito mais forte do que a de qualquer agrupamento socialista (e nem vale a pena referir o velho Partido Socialista fundado por Antero... esse morreu e foi enterrado na 1ª República graças à trituradora do Partido Democrático e ao desinteresse das organizações sindicais)

Agora, viceja mais um grupo dito “esquerdista”. A sua figura mais eminente parece ser João Galamba. Por mais que uma pessoa se esforce não se distingue na criaturinha nem os dotes de coragem de Serra nem a inteligência de Aires e Carmelinda. Galamba serve apenas como exutório para o politicamente correcto e centrista que vai governando a amálgama de interesses do Partido. O seu ataque a Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, é só isso. E foi só durante uns parcos momentos. Já veremos que mete a viola no saco quando Costa e os que o assistem lhe der as instruções necessárias.

 

na gravura: medronheiro