diário político 228
A grande ofensiva
Ou um fantasma percorre Portugal
d'Oliveira fecit 1-09-20
Se um leitor descuidado der com o texto da Sr.ª Ana Sá Lopes (hoje publicado) verificará, alarmado, que está em curso uma segunda noite das facas longas, desta feita contra o proletariado, as forças progressistas, o povo humilde e trabalhador e os seus aliados.
Então não querem lá ver que as forças do capitalismo monopolista, da reacção ultramontana, do social fascismo, dos falsos democratas e do patronato explorador (aliadas como se verá aos banheiros e aos exploradores do turismo balnear e às forças do clericalismo mais radical) querem proibir o livre exercício dos mais simples direitos democráticos consagrados na Constituição, a saber o direito de reunião, o direito de associação, o direito à alimentação e o direito a ouvir o líder do Partido (no caso, este “partido” é o único que usa letra grande) proclamar uma vez mais que está vivo o pensamento de Marx, Engels, Lenine Estaline e Mao, que a luta pelos mais amplos direitos e liberdades está a ser posta em causa pela conspiração burguesa, capitaneada pela reacção, sua filha dilecta, tudo isso alimentado pelo Governo pusilânime, pela DGS (só as iniciais dizem tudo!) pelos comerciante da cidade de Amora, pelos manifestantes da marcha lenta, pelos impulsionadores da acção no tribunal contra uma festa pacífica, patriótica, progressiva e esquerda. E esta festa é um dos mais altos cumes da cultura, quase um Evereste, pelo menos um monte Ural de sabedoria que o “Partido” generosamente oferece ao povo trabalhador, ao proletariado, às mais amplas camadas populares etc., etc...
E mais, o “Partido” nega terminantemente que este ajuntamento não obedeça às mais rigorosas regras da higiene sanitária e marxista leninista, bem como ao mais severo distanciamento social, garantindo que num recinto de 300.00 metros quadrados (o sublinhado é da camarada Ana SL, digo da “amiga” do mesmo nome, dessa esclarecida companheira de estrada do progresso social gloriosamente iniciado num dia de Outubro, aliás Novembro, e sempre percorrido, sobretudo no carinhoso arquipélago Gulag, até tropeçar num mau caminho do Afeganistão e no muro a desabar de Berlin) podem caber muito mais de dezasseis mil e quinhentos camaradas, companheiros e amigos, sempre distanciados, sempre disciplinados.
Que isto, e voltando à camarada, companheira ou amiga Ana SL, é muito menos do que o que se passa nas praias, do que se passou em Fátima (quando? E quantos?) do que se passa nos centros comerciais (quais?) é revoltante. É uma conspiração contra a paz, contra o progresso, contra as justas aspirações do proletariado (onde ele já vai), dos trabalhadores “conscientes” e com “sentido de classe”, do povo trabalhador e honesto, das forças progressistas (outra vez!) e dos intelectuais comprometidos com as “justas aspirações do povo e das forças do trabalho”. E contra o “único partido ( aliás Partido) que não verga, não desiste, mão fraqueja perante a odiosa campanha da reacção, das forças capitalistas (etc., etc...) que não descansarão enquanto não virem o país governado por Trump, Bolsonaro, Hitler, Mussolini sob a meiga sombra do dr. Salazar (que, como é sabido, “está vivo nos nossos corações”, a exemplo de Stalin, patrono durante trinta gloriosos anos –entre a fome na Ucrânia, os processos de Moscovo e a deportação de milhões de inimigos do povo, do progresso e do socialismo, para as ridentes e confortáveis regiões siberianas dos “homens de boa vontade” de todo o mundo, incluindo-se neste grupo as escassas centenas de portugueses que sempre viram na URSS, o Sol da Terra, o paraíso dos trabalhadores e o primado do Direito e da Justiça.
A burguesia e o seu mais hediondo estracto, a reacção fascista, brandem a bandeira do Covid para combater a bandeira vermelha, para esmagar os sindicatos (os bons sindicatos, que também os há maus...) e para acossar o “Partido” (com letra grande) e para negar às mais amplas camadas populares o direito à alegria, à música, à cultura em geral e às bifanas proletárias.
Camaradas, estamos a caminho do 25 de Novembro, digo do 28 de Maio!
A reacção não passará!
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Adam por aí uns rapazolas (e rapariguinhas) que acham que o covid é apenas um fantasma que à semelhança de um outro, bem mais antigo, andou há quase cento e oitenta anos a assustar a Europa.
E acham que o uso dos açaimes, digo, mordaças, digo máscaras, é uma manifestação da ditadura do sistema, mesmo se usadas apenas em meios fechados.
O direito à opinião, mesmo a mais disparatada, é livre mas deveria ser confrontado com as consequências. Suponha-se que, contra toda a espectativa (pelo menos do ponto de vista destes novos negacionistas), um destes protestatários é infectado. Que fazer?, como diria o falecido camarada Ulianov, ou a sua múmia embalsamada? Vai sempre guiado pelas suas convicções anti sistema, mandar a maleita às urtigas ou recorrerá ao SNS e às medidas postas em prática pelas duvidosas autoridades que propõem as conhecidas medidas por ele desvalorizadas?
Alguém aposta comigo?
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A DGS, esta, actual e não a outra, antiga e de má, péssima memória, tem uns tiques que, mesmo com muito boa vontade, se terão de considerar desagradáveis. Entre eles, o do excessivo secretismo sobre este processo que, estou em crer, lhes criou uma sensação de comer sapos vivos. Não fora a forte campanha pública e a ajuda do Presidente da República e aposto que ainda hoje desconheceríamos as regras editadas para a “festa”!
Mais, tenho as mais sérias suspeitas de que, a não aparecer uma opinião pública forte, as regras seriam ainda mais generosas.
E nisto, as desconfianças não se ficam pelo organismo da Dr.ª Graça Freitas mas alastram até às esfarrapadas desculpas de vários membros do Governo, incluindo o conspícuo dr. Costa que, aflito por ter o “Partido” do seu lado na questão do Orçamento, se desmultiplicou em desculpas de mau pagador, em piscadelas de olho, em veladas promessas e em públicas afirmações quanto ao carácter político da festa. Como se não soubesse, e de ginjeira!, que a “Festa” é o mealheiro incontrolado da organização. Que a malta só atura os dois pequenos comícios porque no resto do tempo anda nos comes e bebes e nos concertos, na festa fraternal (ninguém duvida) ou seja em meras actividades lúdicas que tem a escassa desculpa da assistência a duas repetições da consagrada cassete que toda a gente conhece de cor
Ainda sobre a DGS conviria acrescentar que o sinuoso discurso desta começa a fazer-nos pensar que aquilo é mais uma repartição burocrática do que um organismo independente. E que voga ao sabor das continuas convulsões da OMS que, nisto, também parece navegar sem leme nem timoneiro.
E já agora, lembrar, aos menos versados que o,4% de 500 é diferente de 0,4 de 5000 e muito diferente de 0,4 de 50.000. Ou seja, dito desse modo até pode parecer que se baixou o número de infecta. O que, obviamente, é falso.