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Incursões

Instância de Retemperação.

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diário político 230

d'oliveira, 29.10.20

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O jogo do chinquilho

(Versão sec XXI)

 

d’Oliveira fecit (28/10/20)

 

 

A história, caso se lembrem, começou no dia em que o PS perdeu as eleições legislativas. O dr. Costa apareceu com caro de enterrado vivo, pesaroso, a família estava em lágrimas e tudo levava a pensar que um governo minoritário PPD/CDS.

Isto pareceu verdadeiro até aparecer o sr Jerónimo de Sousa travestido de Jesus de Nazaré a fazer ressuscitar um morto. No caso o dr. Costa. De facto foi o Secretário Geral do PCP quem virou o bico ao prego, quem inventou a geringonça, quem varreu a coligação centro/direita, quem realmente decidiu acabar com a fumaça de um (im)possível bloco central.

O dr. Cavaco Silva, presidente da República, descrente de alianças espúrias ou assim consideradas desde os inícios da IIIª República, obrigou a que se celebrasse um contrato escrito- Também ele é, ainda que sem o querer, pai da geringonça.

E, na verdade, durante quatro anos, a coisa funcionou. Com equívocos vários, seja dito. A “austeridade” manteve-se com outro nome graças a cativações que impediram excessos despesistas, o investimento público foi mais baixo do que durante o horrível período da Passos Coelho, mas a comunicação faz milagres. E a propaganda fá-los parecer ainda maiores...

Entretanto, quando o PS sonhava com uma maioria absoluta, o milagre pareceu excessivo. Não a teve e o PPD, mesmo ferido na asa, conseguiu aguentar-se. A geringonça II teve hipótese de seguir mesmo sem o milagroso Centeno, um Ronaldo de pouca dura mas sabedor que os milagres não se repetem e que depois do Verão vem o Outono e, pior, o Inverno.

A pandemia e o dr. Rebelo de Sousa fizeram o resto. A primeira pôs a nu as debilidades de uma economia que devia tudo, ou quase, ao turismo. O segundo achou desnecessário exigir acordos escritos entre os falsos irmãos geringoncistas.

E chegamos a isto. O BE sabe perfeitamente que por muito dinheiro que nos chegue, vai haver austeridade por uns anos. O desastre, o verdadeiro, o “diabo” sicut Passos Coelho, está prestes a chegar. As consequências da pandemia, que está viva e em progressão, vão ser duradouras. Com ou sem vacina, o período de terror vai estender-se por todo o ano que vem. A UE, que reservou 700 milhões de doses da futura vacina, já fez saber que a vacinação nunca estará completa antes do fim do próximo ano. Não basta descobrir a molécula maravilhosa também é preciso produzi-la em quantidades impensáveis até agora. E há a recuperação da confiança, o restabelecimento de relações de todo o género mesmo se, nos próximos tempos, nada suceder de especialmente dramático. Qualquer doença deixa sequelas, exige um longo período de convalescença. De certa maneira, mesmo falsa, a ideia de que nada voltará a ser como dantes, vai ser verdadeira durante algum tempo. E a nossa vida mede-se em algumas dezenas de anos apenas. Daqui a cem anos isto vai merecer apenas um período breve, meia dúzia de linhas num futuro manual de história. O diabo é que já cá não estaremos nem os nossos filhos. O tempo que nos resta é limitado.

Ora o BE sabe tudo isto mesmo sede economia e finanças no sistema capitalista saiba pouco. E vive na obsessão da via albanesa ou algo no género. A pequena burguesia radical que desconhece a classe operária e a verdadeira vida dos pobres acredita nas receitas que durante um inteiro século já mostraram ser nados mortos. Em boa verdade vive, viveu sempre, da alucinação fracturante porque nunca teve de governar fosse o que fosse. Nem a recente experiência grega em que o BE embarcou alegremente lhes serviu de lição. Depois de vermos a candidata Marisa ao lado dos gregos momentaneamente triunfantes nunca mais a lobrigámos logo que a realidade, a “estúpida” realidade, derrubou um governo práfrentista.

O BE contou com o ovo no cu da galinha, isto é, pensou que o PC o ajudaria. Vê-se que os bloquistas nunca leram Lenine e muito menos a “doença infantil...”. O PC, este PC é um velho partido bolchevique enraizado numa parte do país real, informado do que as pessoas comuns pensam. Ao votar o OE, o PC vai, n especialidade marcar alguns pontos e tentar atenuar a erosão eleitoral que o tem atingido. Dá a ideia que Jerónimo de sousa e os seus camaradas conduziram com o seu silêncio o BE para um beco sem saída.

Há indícios, ténues mas indícios, de que o BE pode recuar no voto final. Tentará reduzir os prejuízos mas mesmo essa alternativa é perigosa porquanto, à mínima cedência, será acusado de traição por uns e de oportunismo por outros. Logo veremos o que se passará.

Finalmente, mesmo que ninguém, ou poucos, a queiram, a crise política paira por aí. Um OE chumbado obrigará, queira o dr. Rebelo de Sousa ou não a eleições legislativas mesmo que só depois do período “europeu”, isto é d primeira metade do ano. Até agora, o PS parece estar em boa posição para vencer sem maioria absoluta. A menos que a ruptura do BE resulte numa forte transferência de votos para o PS. Isso, dadas as características do BE permitirá alguns aumentos de votação nas grandes cidades ou seja mais lugares de deputados praticamente garantidos. I Chega morderá sobretudo as franjas da Direita ou seja o CDS e algum PPD. A anomalia Livre evaporar-se-á e não é crível que outra anomalia chamada PAN conserve aquele bizarro número de deputados. Para o PC o melhor resultado possível seria o estancamento da sangria que tem sofrido de eleição para eleição. É provável que a sua atitude quanto ao OE decorra desse cálculo. Poderá até captar desiludidos do BE. Convenhamos que de uma pequena ou grande recomposição da extrema esquerda não virá mal ao mundo.

E talvez os jogadores de chinquilho desapareçam do cenário onde andam agora alegremente. Que diabo, já nos basta a pandemia...