diário político 255
Os ovos todos no mesmo cesto
d’Oliveira, fecit 31deJaneiro 2022
Um velho, querido e saudoso amigo meu, afirmava, nos anos seguintes ao PREC, já com eleições a sério e sem as fantasias “revolucionarias” da época, que “nunca se deviam pôr todos os ovos no mesmo cesto”.
Ele tinha por certo que, numa república democrática e com um parlamento, havia que procurar o máximo consenso comum para evitar o maior divisor também comum.
A História desmentiu-o com a Aliança Democrática mas esta pouco resistiu às mortes de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa (o verdadeiro artífice político e ideológico do CDS, na altura uma “democracia Cristã” importada da Itália e não confundível – como os detratores queriam – com uma extrema Direita.
Não me atrevo a dizer que vem daí, dessa época, um espantalho eleitoral que se persigna sempre que alguém fala em maioria absoluta.
Pessoalmente, e sobre as maiorias absolutas, apenas digo que podem ou não ser benéficas. Aliás, a sua existência traduz sempre a vontade popular, dificilmente sai de conspirações ou arranjinhos pré eleitorais. Uma maioria destas pode permitir finalmente o avanço de reformas profundas, de quebra de acordos eleitorais mínimos que não andam nem desandam, como ocorreu com estes seis anos de uma caricatural “frente popular” em que, como é tradição neste género de falsas unidades, vícios redibitórios constantes e com severas consequências.
Costa (e assessoriamente o PS, nesta exacta ordem)btem a oportunidade histórica e provavelmente irrepetível a curto e médio prazo, de fazer andar o país para a frente, de acabar com estrangulamentos, práticas antigas (e especial destaque para a corrupção) e reformar quer a justiça, quer a saúde, quer o trabalho e a administração pública. São muitos trabalhos de Hércules e pesa no horizonte o conhecido “amiguismo” peculiar de Costa, o que como o sono da razão criou monstros como Cabrita ou Sócrates (de quem Costa tenta fazer passar a ideia de nunca ter sido ministro dele).
Esta maioria absoluta, criada expressamente pelo BE e pelo PC que agora uivam inocências e perversas endemoninhadas conspirações Costa/Marcelo, traz também algumas salutares novidades.
Á uma acabou com o mito “juvenil” a dirigir partidos. Aquele pobre diabo do CDS conseguiu o que até agora ninguém tinham conseguido: rebentar com um partido que sempre esteve no Parlamento. Foi exterminao pelo Chega e pela IL sem dó nem piedade. O CDS é agora um moribundo sob respiração artificial e não se vislumbra com clareza se consegue sair do coma.
Depois, começa aperceber-se, cada vez mais nitidamente, que o PC começa a dar de si cada vez com mais violência. Sempre que um velho alentejano morre é menos um voto, como se verifica com a tremenda derrota do delfim Oliveira em Évora. Mesmo assim, o PC averba uma pequena mas consoladora vitória, está à frente do BE em deputados. E merece, digam lá o que disserem.
Os Verdes (por fora e vermelhos por dentro) passam pelo cano. Sempre foram um logro, algo vagamente muleta e História não registará grandes lágrimas por eles.
O BE é outro caso flagrante de suicídio colectivo. Vê-se que nunca perceberam realmente o que aquilo era: um partido de protesto, um lugar de refúgio para descontentes urbanos que não suportavam já o PC nem se atreviam a entrar no PS.
Serem ultrapassados pelo Chega e pela Iniciativa Liberal deve ser um pesadelo que os vai assombrar por muitos e bons tempos.
A Sr.ª Martins bem que pode esperar por uma conversa com Costa como audaciosamente prometia. Talvez um pequeno banho de realidade lhe limpe o ouvido político e a cabecinha sonhadora. A pequena e média burguesia urbana que andou com o BE ao colo cansou-se das tropelias e prefere o colo gordo, burguês e confortável de Costa.
Aliás, parte dos votos que se escapuliram permitiu ao LIVRE voltar ao Parlamento mesmo depois do absoluto desastre Joacine. De todo o modo, o LIVRE e a PAN casa um com o seu deputado, são irrelevantes e é duvidoso se alguma vez acrescentaram algo ao debate político nacional. De todo o modo, o castigo do PAN é mais do que merecido depois de se declarar apto a aliar-se com quem quer que fosse. A falta de espinha dorsal é algo que nem nos animais ajuda, quanto mais nos bípedes humanos.
O caso do PSD também não traz especiais novidades. Pela primeira vez, e a sério, Rio morde o pó. É verdade que os dois partidos emergentes na Direita retiraram-lhe importantes franjas de apoio, sobretudo a IL pois o Chega terá engordado sobretudo `custa do falecido (ou quase) CDS.
A mansidão suave de Rio não convenceu os adversários do PS, antes o beneficiou. Alguém terá pensado que se era para viabilizar um Governo de Costa mais valia deitar logo o papelinho nele. O PSD vi ter de continuar o seu caminho das pedras e tem quatro anos para tal a menos que o PS cometa algum erro colossal.
Finalmente o PS.
É verdade que Costa pediu e despediu a maioria absoluta, que prometeu tudo a todos, que falou de maçanetas e portas mais do que um marceneiro mas, por ele, tinha o ar de vítima coisa que o povão adora. Traído, enganado pelos parceiros de Esquerda que nunca perceberam quem Marcelo era ou podia ser, Costa mesmo “sem vontade” (como alguns acusaram) lá foi fazendo o seu caminho.
Os portugueses, combalidos pela pandemia, intrigados pela tactica do PPD (onde até Santana Lopes, essa velha ave agoirenta compareceu!!!), recordados dos anos dourados pré pandemia, alvoroçados pela dinheirama que virá da Europa preferiram “antes asno que me leve do que cavalo que me derrube” como bem ensina Mestre Gil na farsa de Inês Pereira.
A última grande derrota da noite foi o sucessivo desenrolar das sondagens do empate técnico. Nem a ligeira descida da abstenção justifica tal dislate. Alguém anda a enganar alguém...