estes dias que passam 1015
Mais perguntas (e respostas) de um leitor que não é operário
mcr, 25-9-25
Um amigo meu convidou-me para fazer parte de um pequeno grupo que iria discutir o esboço de um livro que acabava de escrever.
Aceitei com agrado tanto mais que ao convidar-me, ele juntava-me a um grupo de estudiosos e académicos que só conheço de leituras dispersas e que muito considero.
Infelizmente, a CG deu um gigantesco trambolhão, fez tr^s fracturas e quev não pode mexer-se, muito menos, andar.
Eis-me pois de enfermeiro para todo o serviço 24 horas por dia ,
O livro em questão é um ensaio, com forte componente diarística sobre o 25 de Abril que o apanhou já na Universidade.
Não vou agora, falar dos méitos que são vários do livro, desde o esforço de memória, o estilo limpo, a audácia de algumas tess mas não posso deixar de relevar, uma vez mais, algo que tem sido norma geral na descrição do golpe militar e posteriores desenvolvimentos revolucionários.
Quero apenas cingir-me a algo que tem sido mais ou menos constante na descrição do golpe militar e que com inteira justiça realça o papel de umas largas dezenas de “capitães” todos do quadro que se foram juntando e pouco a pouco passaram de uma reivindicaçãoo corporativa para o mais vasto plano de derrube de um regime que se esgotava na defesa sem futuro do “império (já não falando nas características ditatoriais e ultra conservadoras do Estado Novo que, em 74, mais do que velho estava fossilizado à espera de uma justiceira certidãoo de óbito.
Em boa verdade, para além do dever de honrar quem com determinaçãoo e coragem, criou o “movimento das forças armadas”, conviria começlar (que já é mais do que tempo...) a tentar perceber como é que um reduzido grupo de oficiais derrubaram sem especial esforço e com inusitada rapidez o governo então vogente.Normalmente, fala-se dos “capitães” de Abril numa série concertada de acções e movimentações militares destruíram o regime em menos dedoze horas.
Conhecem-se os nomes e apelidados de boa parte deles, o que é de toda a justiça, mesmo se, a esmagadora maioria dsas descrições olvide o facto simples da constituiçãoo das diferentes colunas que saíram dos quartéis.
A começar pelos soldados que aceitaram seguir os seus oficiais mesmo que, em certos casos, possam não ter tido uma ideia exacta do que com a sua presença aquilo significava e os riscos (muitos) que corriam.
Depois, e este é o meu ponto, quase não se referem os oficiais subalternos praticamente todos milicianos, saídos directamente das universidades e que, obviamente já tinham uma fort consciência política tanto mais que os últimos anos escolares tinham sido marcados por forte contestaçãoo para já não falar na greve de 1969 que começada e desenvolvida durante meses em Coimbra acabou por suscitar apoios e solidariedade nos restantes campus universitários. E aqui trata-se de umas centenas decombatentes que preparados para embarcar para África se juntaram entusiasmados e determinados aos objectivos dos “capitães”. Pessoalmente conheci umas largas dezenas de colegas antigos, de amigos e companheiros de várias lutas que sem qualquer hesitaçãoo se prontificaam a ajudar a derrubar o regime.
Na generalidade a presença de oficiais milicianos sem ser ocultad passa em duas linhas, de raspão, normalmente sem direito ao nome (no livro em questão, só dei conta do João Anjos e do Carlos Marvão, e apenas porque, depois do 25 de Abril se recusaram a a intimidar, possivelmente prender (ou pior ainda) os grevistas dos CTT . Sou, já era, amigo de ambos desde Coimbra 69 e sei perfeitamente que sabiam perfeitamente o risco que corriam, antes (durante a movimentaçãoo do dia 25) e e depois já com a responsabilidade de assegurar uma transiçãoo pacífica, justa e democrátia para um novo regime que, naturalmente teria desde logo como saudável o direito à greve.
Há pouco tempo, assisti ao lanlamento de um livro sobre o MFA na Guiné (Guiné os pficiais milicianos e p 25 de Abril, Ancora edt. 2024) onde algumas dezenas de milicianos conseguiram transformar os desígnios dos oficiais spinolistas em algo que fundamentalmente se tornou no imediato reconhecimento do PAIGC e no estabelecimento de relaçãos com a guerrilha. Foram eles os artífices da “revolução” nesse território conseguindo em poucas semanas mobilizar agrande maioria das unidades militares e pôr fim a um desastrecolectivo e cada vez mais inadiável.
Como dizia um deles, alferes na Guiné e participante na autoria colectiva do livro em causa, “aqui ninguém se quer pôr em bicos de pés” E, de facto, depois do serviço militar obrigatório, regressaram à sua vida de todos os dias , longe dos quartéis, do Conselho da Revolução, das ”assembleias selvagens” (e das “civilizadoas”), dos golpes, e contragolpes que caracterizarm o ano de 75 que agora está em vias de comemoraçãoo asperamente discutida por alguns revanchistas bem como por muitos zelotas abrilistas que ainda não percebeam que a sua derrota conduziu o país à democracia, à liberdade e evitou uma eventual guerra civil que, em muitos lados , cá e lá fora, se anunciava iminente.
Brecht, num grande poema intitulado “perguntas de operário leitor tem um verso que diz tudo:
“César bateu is gálios.
Mão teria consigo um cozinheiro pelo menos?”
Os oficiais do QP que se revoltaram tiveram consigo soldados, furieis e oficiais milicianos que, de certeza, como eles, sabiam bem ao qie vinham.
E sabiam mais: é que, no caso de insucesso, a punição deles seria quase certamente bem mais pesada. Um miliciano, ou cem, está só e não tem uma poderosa corporação a su lado mesmo que em desacordo.
( o autor não foi militar mas isso não o impediu de nos dias 24 e 25 ter desempenhado um pequeno papel activamente solidário com os revoltoos. E nesse gesto estava acompanhado por um punhado de pessoas de que quer destacar Rui Feijó e Jorge Delgado, Alcinda Delgado e Marfarida Grala bem como Tresesa Feijó e Maria João Delgado.
Mais um quarteirão de amigos desde Coimbra 69 estiveram também eles solidários e prontos ajudar no que fosse necessário fazer (desse grupo generoso, entusiástico, e cotrajoso destaco três que já cá não estão: Fernanda Bernarda, a Joana “aleijadinha” e Manuel Strechf Monteiro).
A Joana e a Fernanda ficaram também encarregadas de, caso as coisas dessem para o torto, de contactar e mobilizar imediatamente um grupo de advogaos to anterior à nossa e que conhecíamos desde a grande mobilização para a defesa de estudantes por ocasião dos julgamentos da crise dos coros universitários (apenas destaco os desaparecidos Antonio Tborda, Vasco Airão Marques, Antonnio Rebordão Navarro, José Luis Nunes, Rui Polónio Sampao e Mário Brochado Colho vindos de uma geralçao imediatamente anterior à nossa, sobretudo da crise de 62 e quase todos meus amigos desde os primórdios do CITAC.
Em princípio só seriam contactados no dia 25 depois de verificada a eventual e indesejada derrota do movimento. Nessa época já tínhmos percebido que a regra n´1 da conspiração era reduzir riscos, e evitar desnecessárias informações que poriam em perigo uns e outros (revolucionários, cúmplices e eventuais advogados de defesa). De todo o modo é bem provável que alguns deles, ou quase todos, tivesse alguma informaçãoo proveniente de outras vias
Ese texto não vem desmistificar cosa alguma, reduzir o peso dos capit\aes ou misturar alhos com bugalhos. Apenas se pretende, cinquenta anos depois de Abril tornar menos baças as páginas de ua História que nem sempre foi levada acabo com rigor, verdade e despida de demasiados preconceitos.