estes dias que passam 315
A estupidez não tem limites.
E a praxe também não!
Desconheço o grau de veracidade atribuível às notícias que uma televisão privada forneceu sobre a “tragédia do Meco”. Ao que se diz, o “conselho da praxe” (sic!) funcionava como uma sociedade secreta e vinculava todos os seus membros à assinatura de um “termo de responsabilidade” que eximiria a cretiníssima instituição praxista da Lusófona de toda e qualquer responsabilidade atrbuível às práticas imbecis e criminosas da seita.
Quando frequentei Coimbra tomei partido contra todas as burrices e pequenas violências da “praxe” coimbrã. De todo o modo, a coisa, naquele tempo, tinha como ponto forte na tolice as trupes e suas consequências: “rapanço” e “unhas” distribuídas pelos caloiros e “bichos” apanhados na rua depois do toque da Cabra. Fora isso, havia uma que outra sessão de “gozo” em Repúblicas, já estavam em desuso, ou quase, os “julgamentos”.
Claro que as raparigas (em minoria, apesar de maioritárias em Farmácia, Letras e em certos cursos de Ciências) estavam dispensadas de toda e qualquer praxe de rua e, por junto, podiam usar capa e batina e “proteger” namorados e amigos.
Os defensores da praxe argumentavam com o factor integrador da praxe: a caloirada vinda da província aprendia à sua custa no meio de dichotes de duvidosa eficácia e reduzido humor a “funcionar” no seio da “Academia”.
As trupes, mero agrupamento de imbecis embuçados nas capas e batinas, tinham por missão obrigar os caloiros a não sair de casa com o benemérito fito de os obrigar a “encornar” as sebentas e a ter bom resultado académico.
Nos anos sessenta a praxe “dura” decaiu fortemente a pontos de serem quase inexistentes as trupes e as suas práticas violentas. Em 1969, na sequência da Crise Académica, a praxe de rua foi absolutamente abolida por meio de um “decretus” do Conselho de Veteranos amplamente concorrido.
Convirá, entretanto, lembrar que, a partir de 1960 (direcção Candal na AAC) começaram a ser permitidas aos caloiros saídas à noite para assistir a actos culturais, participar em actividades dos organismos autónomos e em Assembleias Magnas. Ou seja, boa parte da população académica estava já protegida da bestialidade trupística.
Agora é o que se vê: certas praxes ressuscitaram que não as trupes e outras barbaridades. Mesmo assim, quando se passa por Coimbra, no início do ano escolar ainda se pode assistir a ignominiosas cenas de “gozo de caloiros” que normalmente não passam de gritaria grosseira e indesculpável violência verbal, exigências imbecis tudo provas que a Universidade não melhora muitos dos seus discípulos.
Na “Universidade” (???!!!) Lusófona, famosa pelo diploma atriobuído a um político de segunda, a coisa fia muito mais fino. Aquela espécie de fábrica de diplomas tinha um “conselho oficial de praxe académica”. Uma coisa pomposa que imitava mal e porcamente a praxe coimbrã mas em mais estúpido e brutal. Não eram apenas os caloiros (as “bestas”) as vítimas da burrice e dos baixos instintos dos “doutores”. Inclusivamente, sempre a fazer fé no testemunho da TVI, mesmo os estudantes com duas matrículas ainda tinham muito que penar para saírem da condição de “pastranos”.
Convem esclarecer os leitores que a noção tradicional de pastrano era aplicada aos estudantes caloiros logo depois da Queima das Fitas, data mandatoria do fim do seu estado de caloiro (ou novato como devria ser mais correcto. Isto significava finalmente que o estudante poderia usar a “pasta” universitária proibida aos caloiros e aos bichos. Nada mais.
A parvoíce congénita dos cérebros praxistas da tal Lusófona até confunde os conceitos. Não é caso único mas pelos vistos esta espécie de instituição de ensino dito superior é ainda mais tonta e provinciana do que as restantes congéneres públicas ou privadas. Inmventaram-se trajes académicos que não correspondem a nada e que mais não são do que uma tentativa de fingir independência em relação a Coimbra. A coisa, ao que me consta, chega até ao corpo docente: dizem-me que um dos mais instantes problemas daquela casa é criar um traje para o ilustre corpo docente! Como em Coimbra, outra vez, mas diferente, claro para mostrar não se sabe bem o quê!
Se o que foi descrito é verdade, então o desastre do Meco obedeceu a uma incomportável estupidez com consequências que terão de ser severamente ponderadas. Nresta altuira, a tal universidade que se arroga de luto pelas mortes já deveria ter suspenso, dentro das suas instalações a deletéria comissão da proaxe, todas as manifestações a ela ligadas.
E isto em obediência não a um código penal qualquer mas tão só a uma famosa lei elaborada há muitos anos pelo poeta Joaquim Namorado e que rezava assim
Artigo Iº e único: é proibido ser estúpido
§ único: fica revogada toda a legislação em contrário.
E basta! Praxistas para a Síria, JÀ!
Declaração de interesses: nos meus anos de estudante, usei escassamente capa e batina, participei numa trupe simbólica e "política" e fiz parte do "Conselho de Veteranos" acima citado e que decretou o fim das praxes violentas. A minha assinatura consta do "Decretus" em cuja redacção copiosamente colaborei e assino com o nome em macarrónico "Marcelus Fluviulus".