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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 328

d'oliveira, 17.12.19

Daumier_Le_Ventre_legislatif.jpg

 

Telhados de vidro seguido de

Palminhas, muitas (e tontas) palminhas

 

 

Ontem, a SIC mostrou três intervenções do então deputado Ferro Rodrigues durante o anterior governo PPD/CDS.

Nelas o senhor deputado por três vezes (três), tantas quantas as que o galo cantou, disparava sobre o governo da altura várias tonitruantes Vergonha e “É vergonhoso

O eventualmente ingénuo Presidente da AR dessa altura devia ignorar que tais palavras eram ofensivas do Parlamento, dos parlamentares e dele mesmo Ferro Rodrigues. Não repreendeu o fogoso (ainda que pouco inspirado) tribuno nem lhe chamou a atenção para o agora considerado abuso linguístico e semântico.

Tudo leva a crer que, nessa época bárbara e viciosa, aqueles termos eram considerados vulgares e apropriados à oratória tribunícia. Em suma português corrente e normal como aliás ainda hoje parece ser consensual.

Quatro anos depois, Ferro Rodrigues, agora presidente da mesmíssima assembleia, admoesta com inusitada acrimonia um deputado, tão eleito e tão legítimo quanto ele próprio, pelo uso das mesmas expressões que, se não erro, iam dirigidas ao escândalo da persistência teimosa de amianto em edifícios públicos, mormente escolas.

Que dizer, para além do que em tempo se registou em anterior folhetim?

Que as palavras envelhecem e se envilecem em menos de uma década?

Que as palavras mudam de significado consoante saem da boca de um cavalheiro alegadamente de esquerda ou de outro assumidamente populista e já tachado de fascista?

Que a idade não perdoa e que Ferro envelheceu irremediavelmente a pontos de não se lembrar das suas extravagancias vocais de outros tempos?

Depois da crítica quase unânime da opinião pública (jornais, rádio, televisão, anedotas e redes sociais de todo o espectro político) será que não seria tempo de Ferro Rodrigues perceber que ultrapassou autoritariamente as suas competências e que isso deveria dar lugar a um pedido de desculpas já nem digo ao abencerragem Ventura mas pelo menos a nós todos, eleitores que nos demos ao trabalho de ir num domingo recente a uma assembleia de voto para meter o papelinho na urna e legitimar aquilo a que se chama escolha dos representantes do povo?

É que povo é toda a gente desde a que elege Ventura até aos que levam Ferro ao mesmo local , a AR.

E já que de vergonha se fala, devo lembrar em mau trocadilho que nestas circunstâncias há que ter “as vergonhas” no sítío e sobretudo ter vergonha na cara para reparar os disparates que esses sim ofendem eleitos e eleitores.

 

Palminhas, palminhas

Em seu tempo pedia-se aos inocentes pequerruchos quase bébés ainda, “palminhas” e toda a família encantada se ria da ingénua criaturinha quando esta batia as mãozinhas uma na outra. Os babados adultos achavam que o menino (ou menina) demonstrava com isso um génio digno de Einstein e futuravam-lhe momentos de glória para quando fosse adulto.

Era uma tolice mas  dali não vinha mal ao mundo.

Todavia, ao rever a cena na AR entre Ferro e Ventura, confesso que me espantei com a reacção do grupo parlamentar do PS que aplaudiu freneticamente a farpa do presidente da AR e a profundidade do seu pensamento político e filosófico.

E lembrei-me de Eça, sempre esse homem fatal, que descrevia na “Campanha Alegre” um par de sessões no parlamento. Dos parlamentares da altura ninguém se  lembra  enquanto que o seu crítico continua eterno e jovem como uma consciência moral que grande falta faz a muita gentinha. Sobretudo aos batedores de palmas e palminhas seguramente mal inspirados e sobretudo desoladoramente ignorantes da língua que são supostos usar.

Que tempos! Que costumes!   ...

*a ilustração vm de Daumier, um génio da caricatura política  

  

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