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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam 331

d'oliveira, 27.01.15

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Setenta anos!

Há setenta anos Auschwitz era libertado pelo exército russo. Dachau, o campo protótipo, seria libertado só em Abril do mesmo ano. Em ambos os casos, os comandantes militares das tropas libertadoras, americanos no último caso, tentaram dar o máximo de publicidade à macabra descoberta destes grandes cemitérios.

Os comandantes americanos mais tarde, à medida que iam encontrando campos de concentração e/ou de extermínio (a diferença é muito ténue, diga-se), obrigaram os cidadãos alemães a percorrer a passo lento essas monstruosas mostras da absoluta impiedade, iniquidade e infâmia colectivas. Para que mais ninguém pudesse dizer que não sabia.

Convém, agora, recordar que se houve vítimas de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todas as confissões, de todas as opiniões, houve carrascos e cúmplices em todos os países atingidos pela guerra. Sem a prestável colaboração francesa (que não só prendeu adultos mas igualmente crianças), sem as denúncias de vizinhos (na Holanda), sem a aprovação de populações inteiras (na Ucrânia, por exemplo) muitas vítimas poderiam ter escapado.

Também é bom não esquecer que, nas próprias comunidades judaicas houve uma espécie de colaboração com os fanáticos Não que os dirigentes desses desgraçados ghettos quisessem mandar outros judeus para a morte. Todavia, a atitude pusilânime, a incrível ingenuidade, o desejo de evitar “provocações” tiveram como resultado ainda mais mortes.

Seria também conveniente saber que em todos os países (Alemanha incluída) houve “justos entre as nações” gente que correu riscos tremendos para salvar judeus. A Polónia, tão acusada de anti-semitismo, tem quase cinco mil “justos...” e é até o país que mais justos tem. Também era o país que proporcionalmente albergava mais judeus.

Finalmente, não se esqueça que juntamente com os judeus foram presos, torturados, gaseados “arianos” (mormente alemães muitos deles comunistas, socialistas, conservadores, religiosos, para não falar nos homossexuais que desde o primeiro momento foram atirados para os campos. Alemães igualmente, os negros e mestiços originários da Namíbia e da Tanzânia alemães de nacionalidade foram praticamente exterminados.

E, finalmente, outra vez, temos o caso dos ciganos. Como os judeus, os ciganos foram perseguidos apenas por o serem.

Como diz um ditado judeu, “um homem que salva outro, salva o mundo”. Daqui decorre, sem dificuldade, que quando um homem é morto por razões de raça, confissão, nacionalidade, preferências políticas ou sexuais, é o mundo inteiro que morre.

Não quero de modo algum subestimar o número de judeus mortos mas apenas insistir neste ponto: é abusivo tentar limitar seja de que maneira for a mortandade a algo especificamente judeu.

Também vale a pena lembrar que nem todos os judeus marcharam para os matadouros como carneiros. Não só tentaram resistir com abnegação e coragem imoderadas (o ghetto de Varsóvia, os resistentes do “Afiche rouge”, os espiões e lutadores da “Orquestra Vermelha” e os “partizans judeus das florestas bálticas, da Ucrânia ou da Bielorrússia. E foram muitos, dezenas de milhares, a mostrar de que madeira eram feitos.

A História não deve ter filhos e enteados mas apenas personagens iguais mesmo se diferentes. E já agora a talho de foice não se esqueça a proteção de judeus norte africanos levada a cabo por árabes, mormente por tunisinos que resistiram com dignidade e coragem às ordens de oficiais alemães do Afrika Korps. Seria bom lembrar que o heroico Rommell foi um entusiasta de Hitler durante muito, demasiado, tempo e que só começou a duvidar quando a derrota era mais que previsível.

 

Sou “um pobre homem de Buarcos”, o mesmo é dizer da Figueira. Nessa terra, abençoada pelo mar e pela serra, foram asilados muitos refugiados judeus (como nas Caldas da Rainha e na zona de Lisboa). Sei, de ciência certa e por conhecimento próprio que foram bem recebidos, bem tratados a ponto de alguns como um Jan que ainda conheci terem ficado na cidade. Os meus pais e os meus tios falavam (e os sobreviventes ainda falam) desses tempos solidários. E de como se partilhava o pouco que se tinha com quem ainda possuía menos.

 

 

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