Estes dias que passam 332
António de Almeida Santos
Desculpem mas não vou falar do político, do legislador, do ministro.
Quero, apenas, referir o amigo do meu pai, num Lourenço Marques já longínquo, na Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra. Os dois eram cantores de fado de Coimbra, unia-os uma forte solidariedade de "coimbrinhas" que ultrapassava eventuais diferenças políticas ou percursos profissionais obviamente diferentes.
Quero, somente, mencionar, comovido, e grato enquanto cidadão, enquanto pessoas comprometida com a luta anti-colonial nos anos duros, a presença de Almeida Santos no reduzido e corajoso grupo de advogados que nas margens do Índico defendiam a democracia, os africanos e a honra dos habitantes brancos de Moçambique que, mesmo escassos, não alinhavam na política colonial.
Gostaria de citar, a par de António Almeida Santos, Antero Sobral e Adrião Rodrigues. Estou, provavelmente a omitir outros homens de bem mas, em minha defesa, apenas recordo que na altura eu era um rapazola e os anos, muitos anos, passaram.
Na única vez que o vi, depois desses anos, tive oportunidade de falar desses tempos e, paralelamente, lhe comunicar a morte do meu pai. "O seu pai foi um João Semana no norte de Moçambique e foi uma das poucas pessoas que tentou melhorar a sorte dos negros". E cantava bem..."
Não me atrevi a dizer-lhe que o fado de Coimbra me era indiferente ou quase insuportável.
De certo modo, a sua morte súbita foi uma benção. António Almeida Santos morreu, pode dizer-se, com as botas calçadas: no dia anterior, mesmo adoentado, esteve ao lado da Maria de Belém Roseira mostrando que, enquanto socialista, não esquecia a sua pertença à familia política que honrou e a que permaneceu fiel. Nem todos poderão gabar-se do mesmo.