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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 332

d'oliveira, 19.01.16

António de Almeida Santos

 

Desculpem mas não vou falar do político, do legislador, do ministro.

Quero, apenas, referir o amigo do meu pai, num Lourenço Marques já longínquo, na Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra. Os dois eram cantores de fado de Coimbra, unia-os uma forte solidariedade de "coimbrinhas" que ultrapassava eventuais diferenças políticas ou percursos profissionais obviamente diferentes. 

Quero, somente, mencionar, comovido, e grato enquanto cidadão, enquanto pessoas comprometida com a luta anti-colonial nos anos duros, a presença de Almeida Santos no reduzido e corajoso grupo de advogados que nas margens do Índico defendiam a democracia, os africanos e a honra dos habitantes brancos de Moçambique que, mesmo escassos, não alinhavam na política colonial.

Gostaria de citar, a par de António Almeida Santos, Antero Sobral e Adrião Rodrigues. Estou, provavelmente a omitir outros homens de bem mas, em minha defesa, apenas recordo que na altura eu era um rapazola e os anos, muitos anos, passaram. 

Na única vez que o vi, depois desses anos, tive oportunidade de falar desses tempos e, paralelamente, lhe comunicar a morte do meu pai. "O seu pai foi um João Semana no norte de Moçambique e foi uma das poucas pessoas que tentou melhorar a sorte dos negros". E cantava bem..."

Não me atrevi a dizer-lhe que o fado de Coimbra me era indiferente ou quase insuportável. 

De certo modo, a sua morte súbita foi uma benção. António Almeida Santos morreu, pode dizer-se, com as botas calçadas: no dia anterior, mesmo adoentado, esteve ao lado da Maria de Belém Roseira mostrando que, enquanto socialista, não esquecia a sua pertença à familia política que honrou e a que permaneceu fiel. Nem todos poderão gabar-se do mesmo.