estes dias que passam 341
Andam a brincar aos governos e, pior, a brincar connosco
Um bando audacioso (ou nem isso: simples conhecedor do terreno e das fragilidades das instalações militares – obsoletas, sem dinheiro para coisas simples, à mercê do primeiro que as queira violar - ) roubou armamento que estava guardado num par de paióis de Tancos. Poderia ter sido em Santa Margarida, mas foi ali, onde se guardavam munições, granadas, lança granadas e não sei que mais. Santa Margarida fica para mais tarde...
Não precisaram de muita imaginação para levar a cabo o assalto. A vídeo-vigilância não funcionava, as vedações exteriores estavam num estado deplorável (só umas centenas de metros tinham sido reparados) e os turnos de vigilância só podiam fazer-se com grandes intervalos de tempo.
Claro que, no meio desta palhaçada toda ainda foi preciso arranjar um meio de transporte preparado para transportar cargas sensíveis. Digamos que há de ser coisa mais que conspícua, dessas que não andam por aí aos pontapés. Sobretudo nos arredores de um campo militar, se é que Tancos, uma honrada e respeitável velharia, merece ser chamada campo militar, coisa que, em teoria, e quase por todo o lado, excepto no “torrãozinho de açúcar”, claro, é algo com ar de fortaleza inexpugnável. No caso em apreço, Tancos oferece menos segurança do que o castelo de Leiria...
Depois do roubo, um primeiro e insólito escândalo: foi um jornal estrangeiro (espanhol) ue publicou a primeira lista do armamento roubado que cá, pelos vistos, era um segredo de Estado.
O segundo escândalo foi uma surpreendente “suspensão” (ou algo do mesmo teor e imbecilidade) de cinco oficiais superiores, todos comandantes de unidades de prestígio e sediadas em Tancos. Não foram exonerados mas tão só “afastados” para (riam-se se conseguirem...) para não perturbar o inquérito!!!
O autor desta extraordinária “solução” foi o senhor Chefe do Estado Maior do Exército. Se agiu por si só ou se o fez por encomenda de alguém, por exemplo o Sr Ministro da Defesa, é algo que desconhecemos.
Este senhor ministro teve oportunidade de ir prestar umas declarações patéticas à televisãoo. Eram de fazer chorar, à gargalhada, as pedrinhas da calçada. S.ª Ex.ª não sabia, não se sentia responsável, tanto mais que não era sentinela em Tancos, cabo da guarda ou polícia sinaleiro.
S.ª Ex.ª já se tinha notabilizado, pela negativa, enquanto presidente de uma Alta Autoridade que fez a posterior parecer excepcional.
S.ª Ex.ª, à semelhança da Ex.ª Ministra da Administração Interna é licenciado em Direito, professor universitário enfim um barra em questões jurídicas. Parece, todavia, tal qual a sua colega, que uma coisa é a responsabilidade jurídica, outas a política.
E é desta que se trata. Nos dois casos. Tenho a impressão que quer o Sr Ministro, quer a sua colega, são pessoas de bem, honradas, incapazes de fazer mal a uma mosca mesmo a uma tsé-tsé se é que a reconheceriam. Porém, nada disso tem a ver om os cargos políticos que ocupam. Aquí é de ética, de política que se trata.
Há muitos anos, houve um senhor ministro que se demitiu porque um filho teria cometido já não sei que tratantada. Depois o senhor Coelho demitiu-se porque uma ponte caiu. Poderia citar mais mas estes bastam para o que quero dizer. A responsabilidade política nada tem a ver com pratica de ilícitos por parte do mandatário político. quem faz parte de um Governo não anda por aí a cortar fitas ou a dizer baboseiras sobre o que lhe apetece. Nem a atirar sobre outros as culpas, reais ou imaginadas, do que acontece.
O que se passa neste momento é inconcebível. Cinco comandantes de unidades pagam as favas de anos de sub-orçamentação, de desmazelo e de irresponsabilidade. Há quem defenda que eles deveriam ter-se recusado a comandar as unidades aquarteladas em Tancos sem haver uma clara definição de quem é que guardava os paióis. Tolice. Por junto, poderiam (se é que o não fizeram) ter feito notar que as regras de vigilância não eram suficientemente específicas, que não estav identificado quem deveria gerir rondas, reparar vedações, organizar a defesa de zonas que não eram as afectadas às suas unidades.
Sabe-se, por outro lado, que o Exército, isto é as suas mais altas chefias e, obviamente, o Ministério, conhecia o estado comatoso das instalações onde se depositavam as armas e as munições. Tanto sabiam que havia uma previsão de despesa lá para as calendas gregas. Só que os gatunos, muito pouco desportivamente, resolveram apoderar-se de algum material, de resto pouco caro mas com mercado certo entre o banditismo civil.
Em suma, faltam artigos à “guarda” da tropa, sobram coronéis suspensos e anda por aí um cadáver político a fazer de ministro. Chega.
Aliás andam dois. Um cavalheiro e uma senhora. Até que enfim que se chegou à paridade!
Este Governo parece, seriamente, constituído por um 1º Ministro e por uma série de criaturas sem autonomia e sem peso. Ou melhor: com diferentes pesos. Dois ou três tem algum passado consequentemente alguma espessura. O resto abana a cabeça e faz os recados a quem de direito. Tout va bien, madame la marquise.
No meio desta “stravaganza”, oficiais indignados e com um raro “Esprit de corps” irão amanhã, sem condecorações a Belém, entregar as espadas. Já durante a 1ª República houvera um chamado “movimento das espadas” que fez cair um governo. A coisa foi o pretexto para o chamamento de Pimenta de Castro que também não se eternizou no poder. (Como aliás os cinquenta e um governos durante os interessantes dezasseis anos de 1ªRepública).
O Senhor Presidente da República, o 4º pastorinho desta época pós Fátima, vai ter de fazer alguma ginástica. Talvez lhe faça bem.
Não se julgue que eu aplaudo esta reprise do movimento das espadas. Muito menos que a condene. Então não se ouvem, desde há semanas, ameaças de uma greve de Juízes, nunca desmentida por eles? Não assistimos a permanentes ameaças de greve do Ministério Público? Da Polícia? Que é que se murmura na GNR?
Deixando o espinhoso tema das forças armadas, da Justiça e da Segurança Pública. No meio desta “cour des miracles” à portuguesa, temos que outras corporações ameaçam a segurança dos portugueses. Estão nesse caso, os senhores enfermeiros cuja greve poderá ter consequências graves na saúde dos cidadãos e, sobretudo de mulheres em trabalho de parto. Igualmente anda no ar uma ameaça de greves sem tempo limitado de outros corpos sanitários (farmacêuticos, técnicos de diversas áreas hospitalares desde as análises aos exames de toda a ordem).
O que parece curioso é que, na maioria dos casos, desde os juízes aos enfermeiros, estamos perante reivindicações salariais que, em primeira mão, parecem razoáveis. O Estado que reverte tanto desde que os parceiros políticos do Governo abram a boquinha mimosa, o mesmo Estado que, agora que estamos a rebentar de turistas, resolveu baixar o IVA da Restauração (mais 400 milhões de perda, para já) em vez de aplicar essas verbas em coisas mais úteis e mais necessárias do que o preço de uma dose de bacalhau com grão no restaurante da esquina.
O mal dos grupos em contestação é não serem representados pela CGTP, não terem organizações correias de transmissão nem poderem ser confundidos com a habitual clientela do PC e do BE, sequer do PS.
De todo o modo: aguarda-se a demissão destes dois ministros. Seria mais curial que fossem eles a apresentar o pedido mas, como já se duvida do seu sentido de Estado, convinha que o dr Costa desse um ar da sua graça. Que as férias, sem dúvida merecidas, lhe revigorem o corpo e sobretudo o espírito. Para que não se comece a pensar que também se precisa de um Primeiro Ministro...