Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 343

mcr, 18.10.17

images.jpeg

 

Já devia ter ido há muito, desde sempre!

(mcr 18.Out.2017) 

A Sr.ª Ministra Da Administração Interna pediu finalmente a demissão. Na carta que os meios de comunicação reproduzem afirma que esta demissão fora pedida logo a seguir a Pedrogão. E que só não fora publicitada porquanto o Sr. Primeiro Ministro lhe pediu para permanecer.

Todavia, agora, depois do que aconteceu, depois dos acabrunhantes relatórios sobre os fogos onde pereceram mais de sessenta pessoas (que o Estado não protegeu e que, até à data não obtiveram deste qualquer pedido de desculpas...) , eis que a sr.ª Ministra renova terminantemente o seu pedido não deixando margem a qualquer outra solução.

Por acaso, só por um inefável acaso, morreram mais quarenta portugueses, dos mais pobres, dos mais desprotegidos, dos com menos possibilidades de se defenderem quer pela idade, quer pelo isolamento, quer pela violência da catástrofe. Por acaso, começaram a surgir por todo o lado críticas violentas à Sr.ª Ministra, manifestações, artigos condenatórios na Imprensa e um discurso do Sr. Presidente da República onde a Sr.ª Ministra é claramente um dos alvos.

Não por acaso, mas por canhestra insensibilidade, a mesma Sr.ª Ministra veio para as televisões dizer que para ela “o mais fácil seria pedir a demissão (coisa que nesse momento se recusava a fazer) e que nem férias tinha gozado. No meio destas deploráveis palavras, entendia ainda a Sr:ª Ministra que no repartir de culpas (não dela, claro) havia algumas a apontar às comunidades vítimas, eventualmente aos mortos e feridos, a necessidade de se tornarem mais resilientes às catástrofes. Que esta absurda demonstração de falta de sensatez e de absoluta falta de piedade, de desgosto, não foi obra do acaso prova-o o facto de um seu Secretário de Estado ter abundado no mesmo sentido clamando que tem de ser os povos perdidos nas serranias quem se deve defender sem esperar aviões ou bombeiros.

Isto, esta sintonia miserável e insultuosa entre dois altos responsáveis governamentais não pode ser mera coincidência. Há aqui uma sintonia planificada de declarações que, cumpre dizê-lo, foram passadas em silêncio (concordante?) pelo Sr. Primeiro Ministro.

Foi preciso que o Sr. Presidente da República viesse a terreiro, foi preciso uma ameaça de “moção de censura”, seguida de uma manifestação e precedida de um coro de críticas e de anúncios de mais manifestações, para que, subitamente, a Sr.ª Ministra se tentasse retratar com a carta de demissão e com a “narrativa” de uma outra e anterior atitude idêntica.

Mais uma vez, não se descortina uma palavra de conforto às vítimas (mal de que também enferma o Sr. Primeiro Ministro que, eventualmente, pensará que isso incumbe aos milhares de cidadãos que se solidarizaram enviando contributos pessoais, e ao Presidente da República que (honra Lhe seja) tem constantemente acorrido aos locais das desgraças com uma palavra, as invitáveis selfies e os beijinhos. Mesmo criticando, muitas vezes, a “pro-actividade” (raio de palavra!) presidencial, sou obrigado – e não me custa nada! – a reconhecer que foi o Doutor Rebelo de Sousa quem encarnou os deveres próprios e os do Governo. O que lhe dá o direito (e nunca as mãos lhe doam) de fazer o discurso que fez.

Eu não conheço a Sr.ª Dr.ª Urbano de Sousa. Nem tenho qualquer vontade pois o que dela adivinho é apenas uma absoluta falta de comiseração por quem sofre, por quem está em baixo, pelos cidadãos deste pobre país, por todos quantos a criticámos desde Pedrogão. E a este pecado primário e definitivo junta-se o da falta de ética republicana, queira isto dizer o que quiser. Esta senhora não deve, não pode fazer política. Não se pode depender dela para nada.

Vai fazer as merecidas férias a que tem direito. Que durem anos, décadas! E que leve com ela aquele Secretário de Estado tão repelentemente “pro-activo”. Num país que no dizer do “Jornal de Leiria” perdeu, com o incêndio do pinhal de Leiria, setecentos anos de história, podemos sem qualquer problema perder de vista duas criaturas incompetentes e arrogantes.