Estes dias que passam 360
O comentador “comprometido”
por mcr 22.Ago.17
O dr. Marques Mendes viu-se alcandorado ao posto de comentador dos domingos na tv. Marcelo foi para outras e altas paragens, Mendes segue-lhe peugada, sabe-se lá se não sonha com Belém (Credo, Deus nos acuda, Santa Rita nos guarde).
Marques Mendes apareceu na política muito depressa e muito novo pela mão dos cavalheiros nortenhos do PPD. Foi deputado não sei quantas vezes, secretário de Estado, Ministro (e no meio disto tudo terá sido (e ainda é) advogado. Foi dirigente do PPD mas a memória desse conturbado tempo não parece brilhante ou imorredoira. De todo em todo, recordo que foi ele quem tentou pôr ponto final na carreira autárquica de Isaltino Morais. Falhou. Morais livre do partido e de Mendes ganhou redondamente a eleição e continuou a ganhar até dar com os costados na cadeia por, corrijam-me se estou em erro, lavagem de dinheiro e fuga aos impostos. Curiosamente, foi o primeiro político a ir para a cadeia e a cumprir pena.
Saiu e aí está de volta às lides e com fortes probabilidades de ganhar de novo Oeiras.
Não conheço Mendes nem tão pouco Isaltino. Não conheço e falece-me a vontade de os conhecer, mesmo se vários paroquianos de Oeiras me jurem que Isaltino fez um excelente lugar na presidência da Câmara. Provavelmente melhor do que Mendes no Parlamento ou nos Ministérios por onde passou...
Mendes, já o disse, exerce de comentador na TV. Às vezes pergunto-me se um Conselheiro de Estado deveria fazê-lo mas, pelos vistos, o que a mim me surpreende não incomoda ninguém.
Aos domingos, lá o vejo e oiço. Não que tal exercício penoso me seja grato ou que aproveite o facto para descontar nos meus pecados. É a minha mulher que comanda a televisão à hora do jantar pelo que não me resta alternativa viável. Depois, já suportei o piedoso professor Marcelo pelo que já tenho a pele curtida para o melífluo Mendes. Oiço-o entre duas garfadas e resmungo.
Desta feita, porém, Mendes foi longe. E mal. Já sabemos que não suporta Isaltino, logo ele (Mendes) homem pequenino que não consta ser bailarino. Isaltino, pelos vistos, ignora-o publicamente mesmo se em privado possa criticar o comentador.
Ora bem: Mendes, na sua última e untuosa prédica dominical veio dizer que Isaltino não deveria poder concorrer. Que o crime, cuja pena já cumpriu é grave; que, eventualmente, o Tribunal Constitucional –se fosse requerido – poderia condena-lo à inabilitação eleitoral. Que o senhor Paulo Vistas (ex-delfim de Isaltino e, agora, seu oponente, poderia ter recorrido para esse alto Tribunal e que não o fazendo fora generoso e cavalheiresco!
Eu começo por não perceber como é que um cavalheiro licenciado pela mesmíssima universidade que eu, entende que além da pena a que alguém foi condenado ainda lhe deveria acrescer a inabilitação eleitoral. Consultada a Constituição nada lá existe que preveja tal pena acessória. Nada! Ponto final, parágrafo.
Em segundo lugar, não vejo a razão especial para ser Vistas e não nenhum dos restantes candidatos a Oeiras (e serão no mínimo, meia dúzia) a recorrer para o TC.
Mendes ao referir (imprudentemente) Vistas parece estar a aceitar que o anterior despacho que inabilitava Isaltino (dado por um senhor juiz que, curiosamente, mudou de opinião quanto à fundamentação do despacho e que, também curiosamente é afilhado de casamento do senhor Vistas e que, finalmente e mais curiosamente ainda se oferecera vindo de Sintra para juiz de turno em Oeiras no período de validação das candidaturas...) beneficiava o ainda actual presidente da Câmara de Oeiras, directamente herdada de Isaltino...
Eu percebo, ou faço por isso, que o senhor dr. Mendes detesta Isaltino. Lá terá as suas (Boas ou más )razões. De todo o modo, o papel de comentador carece de uma certa altura (e isto não se refere ao tamanho de Mendes) de uma certa neutralidade e não pode, e muito menos não deve, transformar-se em propaganda eleitoral barata e feia contra Isaltino. Mas foi.
Mendes, praticamente, apelou ao TC e às forças partidárias, para que fosse defenestrado Isaltino. Já não recordo se avisou a audiência da sua particular condição de jurista mas esta é, apesar de tudo, conhecida.
Mendes tem todo o direito de pensar que a certos crimes de colarinho branco (que ele entende ser gravíssimos) se deveria aplicar uma pena acessória de inabilitação eleitoral (de dez anos pareceu-me ouvir).
Conviria recordar a Mendes que, por enquanto e até lei expressa, nenhum Tribunal pode aplicar penas não previstas. Isaltino já cumpriu pena. Pagou com prisão efectiva (efectiva!!!, recordo)e com uma valente multa a famosa evasão fiscal relativa a uns dinheiros depositados numa conta na Suiça.
Em Portugal, e até há bem pouco, os políticos ou não iam a julgamento ou não eram condenados, ou sendo-o a pena de prisão ficava suspensa. Aliás, tem havido penas de prisão suspensas por vários anos por crimes de similar gravidade e nunca vi Mendes condenar tal inércia de julgadores.
Uma amiga minha jura que “lhe saltou a tampa” queira isto dizer o que quer que seja. Ver um Conselheiro de Estado e um comentador (que creio regiamente pago) neste papel de cabo eleitoral ou de insofrida raiva é algo que me revolve as entranhas e me estraga a digestão. Mesmo se a coisa vem de Mendes criatura a que dou muito pouco crédito e que me faz,ai meu Deus!, ter saudades de Marcelo!!! (ao que cheguei!)
É claro que poderíamos dizer que estamos em Agosto, em plena silly season, mas mesmo assim...
É que, para terminar, pode ocorrer que esta intempestiva arenga de Mendes tenha um efeito devastador quer para candidatura de Vistas quer para a do PPD local. E que seja utilizada pelos apoiantes de Isaltino (e consta que foram mais de trinta mil os munícipes que o propuseram. Ou seja que na contabilidade das proposituras Isaltino arrecadou mais de metade das que foram publicitadas.) para reforçarem a aura de vitimização do seu candidato, coisa sempre exaltante num país que continua sebastianista.