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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 48'0

d'oliveira, 13.08.20

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Os dias da peste

Jornada 146

as vacinas do nosso descontentamento

mcr, 14 de Agosto

 

 

Sobre as vacinas possíveis contra o vírus já disse tudo e o seu contrário. Todavia, trata-se de algo demasiado importante para grandes sectores da população humana e, por isso, convém alinhar meia dúzia de parágrafos.

A primeira questão a sublinhar tem a ver com os “tempos” requeridos para a investigação, descoberta e comercialização de uma vacina.

Não se duvida de que no primeiro dos casos a tarefa requer tempo, anos provavelmente. Porém, o que até agora se afirmou tinha como base o passado. E, em boa verdade, ninguém se lembrou de analisar esta coisa muito simples. Neste momento, a mobilização de cérebros e de recursos é a maior de sempre. Mais: não há comparação possível com quaisquer outras investigações científicas tais são os recursos mobilizados, a gigantesca chamada de investigadores (os números são, suponho, de tal amplitude que bem podemos falar de exércitos chineses, americanos e europeus, unidos na mesma corrida mas separados quanto ao objectivo que é, digamo-lo sem ambiguidades, o ganho financeiro que está em jogo. Em boa verdade, o bolo dá para todos, divida-se, ou não, por dois, três ou seis, a quantia a entrar nos cofres das grandes farmacêuticas empenhadas.

Claro que a vontade e o número de cientistas e os recursos alocados não resolvem tudo. Mas que aceleram o processo não há quaisquer duvidas.

Portanto, quando aparecem umas alminhas simpáticas, seguramente de boa fé e certamente conhecedoras das voltas que a Ciência dá ou pode dar, referindo que há ou houve vacinas que necessitaram de dez anos de trabalho, esquecem que os tempos são outros, os meios são outros, a velocidade da comunicação é outra e só isso (como já se viu no que toca a investigação científica militar) modifica os dados do problema e permite, teoricamente, pensar numa aceleração importante da investigação.

E é este o factor mas importante. Descubram a coisa que para fazer os ensaios, tantas vezes quanto forem precisas, poderemos ter a certeza que se baterão recordes.

A terceira parte deste problema tem a ver com o fabrico em massa, a comercialização e a distribuição da vacina.

Alguém duvida que as fábricas nascerão como cogumelos depois da chuva? Que os circuitos de distribuição se transformarão e crescerão tanto quanto for necessário e a fabulosa miragem do lucro propuser?

Mais: pelo menos alguns dos grandes países europeus, os EUA e a China já devem ter preparados os meios para rapidamente receberem, distribuírem e aplicarem a vacina. É que não é apenas a saúde dos cidadãos que está em causa mesmo que piedosamente aceitemos que os governos estão preocupadíssimos com ela. É a ECONOMIA, estúpido, a economia a que nem um sistema ultra autoritário como o chinês está imune.

E as pessoas se, de facto se mexem por via da saúde também se mexerão e com a mesma rapidez por via do emprego, da casa, do conforto, do bem estar.

Eu não me estou a armar em Pangloss e a jurar que tudo está bem ou que tudo vai correr bem. As coisas vão correr porque as pessoas, depois de meses de pandemia, estão fartas, ansiosas, indignadas e animadas, Mais uma vez, a globalização tem aqui um efeito multiplicador, acelerador, violento.

Depois de tudo isto, não vou arriscar uma data para a vacina. Mas também me parece ligeiramente presunçosa a opinião que pelos vistos é predominante no Ocidente sobre a “vacina russa” que até já foi aplicada a uma filha do senhor Putin.

Não faço parte da coorte de admiradores pasmados da ciência russa, sobre a qual sei zero, vírgula zero. Nos tempos da outra senhora, a do poder soviético mesmo com a surpresa do Sptunik, sempre me moderei quanto ao “avanço imparável da ciência soviética” que nos era prometido dia sim, dia não pela imprensa e pela propaganda socialistas.

Já houvera anúncios extraordinários e falhanços ainda mais evidentes nesse domínio. O próprio sistema demasiado hierarquizado, politizado, “militarizado” e sofrendo a constante intromissão dos comissários políticos não conseguia, a la longue, competir com a ciência dita capitalista que recorria à desenfreada competição e à miragem da fortuna para os vencedores.

De todo o modo, esse passado passou, permita-se a expressão. Num país grande, enorme, populoso, dotado de importantes instituições científicas tudo é possível e pouco se me dá que o processo até agora se tenha mantido pouco visível. O culto do segredo na Rússia, depois do trauma soviético, é ainda atávico pelo que me parece sofrer de alguma ligeireza o coro de críticas que se fez ouvir. E, mesmo sem me pôr a dançar o “kalinka” alguma suspeita me invade de que, neste vozear do ocidente, possa perpassar um que outro interesse das grandes farmacêuticas que estão na corrida.

A mera e elementar prudência manda que se aguarde para ver. Sem efusões nem apressadas reservas rotundas.

Quanto às opiniões sobre a “descoberta” russa dos habituais comentadores e especialistas que temos aturado nestes meses basta-me dizer que deles já ouvi tudo, absolutamente tudo, excepto uma simples desculpa pelos muitos enganos em que foram caindo ao longo dos meses.

Aquela gente é como os antigos bonecos “sempre em pé”: quanto maior o soco mais depressa se levantam. Não vale a pena gastar mais cera em tão ruins defuntos.

 

(e uma nota: a senhora Ministra da Saúde reapareceu para dizer que a “festa do Avante” terá de respeitar as consabidas regras de distanciamento e prudência. Ou seja que a lotação da Quinta da Atalaia deverá ser reduzida,. É pouco, e a srª Ministra deveria sabe-lo: nos concertos e nos comes e bebes essa regra desfar-se-á como uma bola de sabão.

A verdadeira questão é esta: não se permitiram festivais de Verão, não se permitem discotecas nem bares, os restaurantes fecham cedo e admite-se, nem que seja só em teoria, uma festa das dimensões da do Avante?

Será que está tudo com medo de o PC ocupar a rua em protesto, coisa que sabe fazer como ninguém? Será que a nova “geringonça” que se adivinha estar a caminho permite mais este frete?

Um cavalheiro cínico e bem instalado na vida, dizia há dias no Chiado (quase deserto, às onze e meia da manhã!!!) que se devia permitir a festa pois, de uma só vez “nos livrávamos de umas centenas ou milhares de comunistas tão idosos quanto assanhados” (sic)

Não creio que os círculos governamentais partilhem o mesmo entendimento e a verdade é que a DGS destacou funcionários para discutir “questões técnicas” com emissários do PC. Trata-se de um mau sinal ou de um sinal pouco prudente tanto mais que a nebulosa expressão “questões técnicas” dá para tudo e, pior, será aproveitada para tudo. Incluindo uma recusa final que dará ao PC um papel de vítima quando tudo o que fez foi o de provocar essa decisão que qualquer pessoa mediamente inteligente sabe er a única como aliás sucedeu em França quando os amigos franceses do PC local, suspenderam a sua festa que a do Avante copia há quarenta e tal anos... )