Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 484

d'oliveira, 17.08.20

350px-Waterhouse_decameron.jpg

 

 

 

Os dias da peste

Jornada 150

The end

mcr,17 de Agosto

 

this is the end...

... the end of laughter and soft lies

the end of nights we tried to die

this is the end.

 

Chega ao fim esta série de textos que foi diária durante praticamente cinco meses e que constitui, também ela, um quase diário meu que nunca fui pessoa de escrever um diário. A preguiça, esse feio pecado capital, nunca foi vencida e grande espanto é ter, durante cento e cinquenta dias, aguentado este fardo que por vezes, não muitas, foi difícil de levar.

Agora, quando o tempo está insuportável quase invernoso, vou para férias. Não para as que projectara mas para as possíveis, no interior (logo eu que sou da praia!), numa casa que me garantem agradável, com ar condicionado, wifi, piscina, paisagem idílica no meio do verde Minho, perto de tudo o que preciso, desde jornais a um café decente. E com a família mais chegada que agora gira à volta do Nuno Maria que está que ferve. Pelos vistos, agarrou em toda a sua roupa, meteu-a numa mala que apanhou a jeito e passeia essa pesada bagagem pela casa dizendo que vai para férias. Temo que, na descrição haja algum exagero que um petiz de dois anos e meio não é assim tão desenvolto. Se a família lê isto, estou frito!

As férias, mesmo estas, são um bom pretexto para cessar essa tarefa diária, fundada longinquamente no senhor Bocácio que da peste de Florença tirou um dos grandes livros de sempre. Fique claro que não me comparo seja de que maneira for a esse príncipe das letras. A única parecença é eu ter imitado o sub-título “jornada” que achei mais do que adequado ao dia a dia que vivi tentando chegar a um par de leitores. E foram bem generosos alguns deles que além de terem tido a trabalheira de me lerem, me escreveram simpaticamente. Bem hajam!

Para este último texto eu gostaria de ter coisas interessantes a relatar mas a realidade pode muito e não é assim tão gentil. A começar pelas estatísticas sobre o SNS tão falado pelos seus entusiastas mais fanáticos. Se é verdade que o SNS é uma boa, muito boa, ideia, também não deixa de ser verdade que, para acudir à emergência covid, muito ficou por fazer, O “Público” de hoje noticia que há mais de cem mil utentes que já esperam (e desesperam) há mais de um ano por consulta e, pior, por uma intervenção médica. Há zonas do país onde, pura e simplesmente os atrasos se medem em anos, mesmo se, por serem zonas do interior, não seja enorme o número de utentes afectados. Todavia, são portugueses, como eu , como vocês leitores eventualmente citadinos e do litoral. E são cidadãos mais desprotegidos, mais frágeis, mais pobres, mais abandonados.

Por outro lado, houve, e já está provado, um forte aumento de mortes (extra-covid) em relação a períodos idênticos do ano passado. A coisa andará pelos quatro mil o que não é despiciendo. Porém, o mais intolerável é a afirmação da certas “autoridades” da saúde (incluindo ministeriais) que atiram para o calor excessivo o aumento da mortalidade. Só que quatro mil mortos de calor é numero em que ninguém honrado acredita. É uma mentirola que, ainda por cima, tenta fazer de nós todos uns parvos, uns trouxas, uma espécie de sub-gente!!! Irra que assim é de mais!

A segunda notícia com foros de escândalo é o discurso do sr. Jerónimo de Sousa, abundantemente visto nas televisões. Já nem refiro a arrogância mas tão só a esfarrapada desculpa de que aquilo, a “festa” é, fundamentalmente, um acto político que por isso mesmo não pode ser condicionado pelas medidas de prevenção sanitária em curso. A segunda intrujice é a de que a “festa” não tem nada a ver com a recolha de fundos para o “partido”. Por pouco, ainda diriam que, coitados, até perdem dinheiro... A terceira que seria cómica se não fosse cínica é a ideia de que a festa é feita para transmitir esperança!

A quarta é insistir que este ajuntamento (já reduzido a 30.000 pessoas) se realizará com distanciamento social como se fosse possível – mesmo que formalmente se façam no chão divisórias pintadas- evitar que as pessoas se juntem e confraternizem.

Depois, o PC (e Jerónimo) voltam à velha técnica de serem perseguidos por todos quantos entendem a situação irresponsável. Querem homiziar o PC! Querem confiná-lo!

E falam nos “festivais” que, entretanto, se estariam a realizar. Onde? Quando? Com que participantes?

E nas praias que, “e muito bem” (sic) estariam demasiado cheias. Eu ainda não vi nenhuma praia cheia. A televisão, sempre atenta ainda não deu sinal de tal escândalo mesmo se, é legítimo suspeitar que, alguma(s) vez(es) uma que outra praia possa ter tido, momentaneamente, mais gente do que seria razoável. Só que, nesses casos, se os houve, trata-se de movimentos desorganizados de pessoas e não de algo tão disciplinado quanto os futuros festejadores da Atalaia.

Há quem diga que esta atitude de continuado desafio serve para, no momento preciso, o PC poder denunciar mais um atentado à democracia e à liberdade de que ele, como é sabido, é o único e vero campeão.

Outros afirmam que este tipo de declarações tonitruantes são apenas uma dura pressão, diga-se uma chantagem, sobre a DGS e restante comandita.

Ou ainda, uma maneira de descolar da geringonça ou de tornar mais caro o acordo que Costa quer.

A única coisa que o PC não pode dizer é que o estão a isolar. É o PC que se está a isolar e de que maneira! É provável que o autismo dominante nessa organização não permita dar por isso mas esse é um problema deles e não do país e dos milhões de pessoas que, sem vontade, com pouca ou nenhuma alegria e rara esperança, vão cumprindo as regras de distanciamento, aturando as máscaras e o mais que aí vem.

* a citação é, obviamente, de "the end" de Jim Morrisson (e um pouco) dos Doors, cantor e grupo míticos e da minha geração. 

** a vinheta: é um quadro de John Waterhouse e, há que dizê-lo, não está à altura da obra de Bocácio. Teria sido preferível uma imagem do filme (da extraordinária trilogia de Pasolini, claro) mas não encontrei nenhuma a meu gosto. 

 

Alguém entendeu pôr um desconchavo imbecil e ultra-reaccionário no meu texto 479! Eu respondo a tudo mas tem de ser a algo que diga respeito ao que escrevo. O que não é o caso. Portanto, recuso o texto mais por cretino do que por reaccionário. E por ininteligével e mal escrito.