Estes dias que passam 506
Era mau? Muito mau?
É pior!
mcr, 10 de Dezembro
Confesso que não pensava voltar ao assunto TAP, mesmo se o escândalo me parecesse evidente e de perigosas consequências fosse qual fosse o ângulo de observação. Porém, sou pouco de continuar a bater no ceguinho, sobretudo se, e infelizmente, o dia a dia nos oferece mais casos a pedir “justiça de Fafe”. Mesmo não me sentindo o “Joãozinho das Perdizes” a varrer feiras com a ajuda de um par de moços de lavoura e sólidos marmeleiros habilmente manejados, a vontade de pelo menos por escrito chamar os bois pelo seu nome é grande.
Soube-se ontem que a TAP está ainda mais doente do que se supunha. Estará nos cuidados intensivos e não ha médico que, debruçado à cabeceira da doentinha, não franza o sobrolho e solte dois palavrões dos antigos, dos que faziam mossa e ofendiam oum surdo mudo catatónico.
Então é assim. Para o ano que vem, são absolutamente necessários mil milhões, e não quinhentos como se previa. Para os dois anos subsequentes, preveem-se mais dois mil milhões, sendo que est ano estão a ser emprestados mil duzentos milhões apenas para que a companhia se mantenha operacional.
O ºrejuízo dos primeiros nove meses foi de 707 milhões pelo que, até ao fim do ano poderá chegar aos 1000 milhões.
Além disto, cão ser despedidos 2000 trabalhadores e abatidos à frota vinte e tal aviões. O restante pessoal sofrerá um corte global nos salários de cerca de 25% (espera-se que o corte não seja cego pois a TAP tem muirtas categorias de vencimentos pelo que poderá ocorrer que as mais altas percam até 35% enquanto as mais baixas se ficarão entre 15 e 20%
Foi neste cenário aterrador que o sr Pedro Nuno dos Santos imaginou uma golpada: levava o caso TAP ao Parlamento e os deputados que decidissem. Esqueceu-se o Ministro que nem toda a gente é tonta e que transferir uma claríssima acção governamental para a assembleia seria um tiro no pé. Do Governo e dos Partidos representados na AR. Até o PS, pela voz de Ana Catarina Mendes, veio dizer que isso era impossível. Parece que o Governo, onde Pedro Nuno faz de galgo de corrida, também achou ideia peregrina e mandou o irrequieto rapaz regressar a quartéis e meter a viola no saco.
Este sr. Pedro Nuno é uma espécie de radical pequeno burguês barbudo que acredita piamente que inventou a pólvora. Ficou célebre a sua ideia de usar a “bomba atómica” (sic) que consistia em ameaçar “os banqueiros alemães” afirmando que Portugal não pagaria a dívida! “A impetuosa criatura entendia que com essa fanfarronada os ditos banqueiros, ficariam “com as perninhas a tremer”. Claro que o rapaz, nado e criado , no Portugal profundo, nunca deve ter passado pela Alemanha e se passou nunca falou com nenhum banqueiro alemão. Aliás a língua de Goethe é difícil e foi usada por gente pouco recomendável.
O país, primeiro espantado, depois divertido, riu a bandeiras despregadas, inventou um par de ditos sobre o tema e foi à sua vida. Fizeram mal os distraídos. Como de costume (e o caso de um certo comentador desportivo, agora deputado, prova que mesmo os tolinhos não podem deixar de ser levados a sério) uns quantos entusiastas do “morra Sansão e quantos aqui estão” adoraram a ridícula ameaça pedronunista e apareceu uma espécie de tendência no PS que, nestas coisas, tem vocação de saco de gatos. O homem passou a ser considerado um verdadeiro e valioso elemento da “esquerda” do PS e eventual candidato à sucessão de Costa. Este, provavelmente para o vigiar de perto, meteu-o no elenco governamental. E, azar dos Távoras, erro absoluto, confiou-lhe o dossier TAP.
A TAP, coitada, foi uma invenção do Estado Novo e tinha alguma razão de ser enquanto houve colónias e os aeroportos africanos eram caça guardada portuguesa. Depois é o que se sabe. Foi vivendo à custa do erário público, sempre aos trancos e solavancos, de prejuízo em prejuízo até a situação se degradar a tal ponto que depois de várias tentativas só teve um comprador. E continuou no vermelho mas com mais aviões, mais trabalhadores, mais rotas e mais passageiros. Em 2018 2019, recomprada pelo Estado, continuou a dar prejuízo : a bagatela de duzentos e tal milhões.
Qualquer pessoas com olhos na cara, teria tido o extremo cuidado de não alardear promessas, de não fazer afirmações salvíficas e de encarar com prudência o descalabro da empresa. Com alguém que só parece saber dizer fanfarronadas, isso não aconteceu. Até os trabalhadores, agora em cólera, pareciam estar confiantes. Os mesmíssimos trabalhadores que fizeram a vida negra a anteriores governos acreditaram no ocifernate profeta da noca Arcádia Lusitana.
Agora é o que se vê. Um naufrágio a prazo, a menos que a Senhora de Fátima, Santa Clara padroeira da aviação e a Santinha da Ladeira se juntem, num esforço titânico para levar a barca a bom porto. De açoitador de alemães desalmados, o sr Pedro Nuno vai ter que se transformar no “Cavaleiro da Imaculada” o que, para alguém com tão sólidos princípios marchistas (escrevi, e mantenho, marchistas que Marx não é para aqui chamado nem de resto parece ser leitura deste “herói do nosso tempo” que, na melhor das improváveis hipóteses, viu algum livrinho da srª Marta Harneker, autora felizmente esquecida responsável por muita e forte confusão ideológica. ) também não será tarefa fácil. Os caminhos do Senhor são improváveis e pouco adequados a quem gosta de Maserattis e Porsches...
(ontem duas empresas do universo TAP, fizeram despedimentos colectivos: pessoal de limpeza e de segurança. Quase trezentos ao todo. Gente de baixos salários, claro. E de baixas expectativas de arranjar rapidamente um emprego de substituição...Alguém viu ou ouviu o senhor Pedro Nuno falar sobre isso? Se sim, alvíssaras!)