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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 508

d'oliveira, 18.12.20

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A carta devolvida

mcr, 18 de Dezembro

 

O sr Ministro da Administração Interna entendeu, no seu alto mas surpreendente critério, enviar uma carta de pêsames à viúva do homem assassinado por agentes do SEF

Sª. Ex.ª ainda não percebeu que uma carta enviada vove meses depois dos factos e, com um fundo de infâmias e vergonha, é uma inutilidade se não for uma provocação. A menos, claro, que S.ª Ex.ª ache que tudo isto é normal.

Ora, correndo o risco de desiludir S.ª Ex.ª, nada disto é normal. E não o é porque o assassinato cobarde e vil foi executado com requintes de sadismo e frieza como as testemunhas vão deixando supor. Nem que fosse apenas para salvar a honra do Governo, ou a própria, S.ª Ex.ª só tinha o caminho que Jorge Coelho tomou quando caiu a ponte de Entre-os Rios. Demitir-se! Mesmo sem qualquer culpa como era o caso. Jorge Coelho, honradamente, avisou que “a culpa não podia morrer solteira”.

Com o Sr dr. Cabrita a culpa não morre solteira porque já foram indiciados três matadores mesmo se, ao que se vai sabendo, haja entre o pessoal de segurança e do INEM outros cúmplices que, com a estupidez que caracteriza os assassinos sádicos e a sua entourage, nem sequer souberam disfarçar o crime.

A Directora do SEF permaneceu impassível durante nove meses como se algo passado com agentes sob a sua alçada não a beliscasse. O sr. Ministro nem sequer terá pensado em chamr a dita criatura para uma conversa fora de ouvidos indiscretas em que lhe indicaria a porta de saída. Não se lembrou? Não quis lembrar-se? Mão percebeu que com a sua inacção se tornava, também ele, alvo de crítica e suspeição? Saberá o sr. dr. Cabrita o que é a “responsabilidade política”? Manifestamente não sabe porquanto continua como uma lapa agarrado a um cargo quando a sua força está presa pela confiança do Primeiro Ministro que, pelos vistos, também não percebe quanto este caso o afecta, sobretudo agora que com a Presidência da UE há mil olhos em cima dele.

Depois de uma conferencia de imprensa patética em que se afundou, eis que Sª Ex.ª volta a reincidir, numa entrevista igualmente triste e patética onde jura que “não deserta” nem desertou dada a situação actual. S.ª Ex.ª tem um alto conceito de si próprio que, infelizmente, deverá ser muito pouco partilhado. Sobretudo depois desta borrada miserável, desta vergonha colectiva.

Não contente com o que pensa ser o seu papel fundamental na condução dos destinos do país, S.ª Ex.ª escreveu uma carta! À viúva! Nove meses depois! Confesso que não sei se hei de rir ou de chorar. E chorar porque, queira eu ou não, S.ª Ex.ª representa o meu país, o vosso país, caros leitores. O VOSSO PORTUGAL!

A viúva não aceitou receber a missiva. Maus uma bofetada na cara inocente e pueril do Ministro. É preciso não perceber nada de nada para se sujeitar a mais esta bofetada de luva branca. Camilo, esse genial português, enviou um recado a uma criatura que lhe escrevera onde sucintamente dizia: “A carta de Vª Ex.ª passou ao ventre da mãe terra pelo esófago da latrina.”

Foi isto, mais modestamente, que a viúva disse ao Ministro, E nos disse a nós, mesmo se, como foi o caso, tivéssemos referido o caso aqui mesmo. Em boa verdade, eu pensei que tudo aquilo mão passara de um acidente, péssimo, horrível, mas acidente. Pelo que todos os dias as televisões filtram não foi assim. Houve intenção, houve malvadez, sadismo, houve tentativas de ocultação canhestras, é verdade mas eventualmente acompanhadas de ameaças contra testemunhas.

E sabe-se, agora, graças a relatos de vítimas e de advogados, que a prática, alguma prática era o descaso, o mau trato, a indiferença, a violência, a grosseria, o insulto gratuito. Contra vítimas inermes que, oh ironia!, procuravam em Portugal um abrigo, um futuro, uma vida digna.

Mas S.ª Ex.ª vai continuar Ministro. Para salvar o povo. Para se salvar!

Só não se salva a honra, mas isso é algo que está fora de moda.

Por junto, a Sr.ª Provedora da Justiça vai ter de fixar uma indemnização aos familiares do assassinado. Todavia, não há dinheiro que pague a morte de um marido, de um filho e de um pai de dois meninos. Que terrível Natal o deles!...

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