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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam 514

d'oliveira, 17.01.21

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Os dias da peste 153

Domingo, que domingo?

mcr, 17 de Janeiro

Há dias propensos à melancolia, sei lá por que razão. Ou mesmo por que sem razão. O dia está frio, um griso de cortar a respiração e altamente benéfico para a bicheza que ronda por aí.

Eu, pus o nariz fora de cada, de manhã cedinho para ir pelo jornal e, na passada, aviar um café no supermercado. Cliente único, claro que os passeantes e não hão de ser poucos ainda estão em vale de lençóis.

O café vem da máquina mas é servido em copo de plástico. E para tomar no exterior.

Isto significa que durou menos de dez minutos a minha saída da toca. Já em casa, no quentinho, veio-me à memória um verso do António Rebordão Navarro, lido seria eu caloiro, em Coimbra: “domingos com chuva e bandeiras ao vento”

Seria assim? A memória é traiçoeira e nem sequer sei onde li isto, mesmo que quase jure que foi num jornal. Um contemporâneo meu , mais velho, ficou de me apresentar o ARN que seria estudante voluntário mas nunca foi possível.

Conheci-o, finalmente, no Porto, um pouco como colega e, sobretudo, como amigo. Ele oferecia-me os seus romances com um sorriso aberto e requeria crítica imediata, mas eu baldava-me mesmo se entendesse que naquela obra razoavelmente extensa havia pepitas. Encontrávamo-nos muito em vernissages pois a mulher do António era dada à pintura e, convenhamos que nem era má ilustradora. Nunca vi alguém tão apaixonada e admiradora do marido como a Maria Virgínia que morreu estupidamente atropelada numa rua do Porto. O António ficou bastante ferido e passou meses no Alcoitão em reabilitação.

Nunca ficou a 100% mas continuava a ser um frequentador de tudo o que tinha a ver com cultura. A sua paixão era tal que legou a casa em que viveu sempre à Associação Portuguesa de Escritores. Um intelectual e um homem de bem.

Tudo isto por causa de um domingo de sol e frio de rachar. E por via de um verso que sou incapaz de reproduzir decentemente e, pior, de me lembrar onde o terei lido. Seria na revista fundada pelo pai e em que ele colaborou fartamente, e que se chamava “Bandarra”? Quando se vai adiantado em anos, quando se é velho, começamos a dar por nós cercados de um exército de sombras, de fantasmas, numa vaga saudade e com remorsos de não termos honrado aquelas amizades tanto quanto deveríamos.

Agora, com a pandemia, começa a cercar-nos uma ameaça cada vez mais presente.

Ontem telefonou-me o Manuel Vitorino um alucinado pelo cinema e pelo jornalismo agora reconvertido em passeador solitário que papa quilómetros bem mais do que eu avio metros. Bom companheiro, folgazão, metemo-nos em vários carnavais de que o MES não foi o menos divertido. O Manuel foi jornalista e agora deu-lhe para comer quilómetros à pata. Até já foi a Santiago! Arre que raive e que inveja.

Enquanto me ffalava ao telefone, arfava pois já ia numa boa dúzia de quilómetros. “Exercício físico”, explicou-me. Exercício, o tanas e o badanas! Andava mas é a enganar o confinamento e não foi caso ´único. Mas foi bom ouvir a voz desse velho companheiro de discussões infindáveis sobre tudo e sobretudo sobre cinema. Se isto passa, teremos que nos juntar para umas horas de um bom papo.

Até lá, cuida-te, Manel que ainda tens Roma e Jerusalem para visitar . à pata evidentemente...

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