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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 549

d'oliveira, 20.02.21

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Os dias da peste 183

Um dia “não”

mcr, 20 de Fevereiro

 

Ontem foi um mau dia para o escriba (este). Perdeu horas a tentar recordar-se da maneira como funciona a máquina que se vê na vinheta.

Em primeiro lugar não fazia a mínima ideia da papelada explicativa, sobretudo de uns preciosos apontamentos que há uns largos meses me tinham sido ditados pelo vendedor.

Eu confesso que não tenho paciência para os livros de instrucções. Aliás, sigo nesse ponto, uma velha frase do Manuel António Pina “deveriam editar um livro de instrucções para perceber os livros de instrucções!”

A maior parte das vezes nós apenas queremos saber o essencial e deixamos para os espíritos mais requintados a sabedoria infusa do resto.

No caso em apreço eu comecei por apenas quer um instrumento fácil e fiável (e a preço decente!) onde pudesse escutar as pens que vou enchendo de música. Tudo isto para não ter a maçada de andar de hora em hora atrás de um disco. E de o encontrar entre alguns milhares que estão, honra me seja!, arrumados por género, ordem alfabética e tudo o mais. O problema pões quando, por exemplo quero ouvir uma peça específica de Beethoven. Ora, independentemente de umas dezenas de cds avulsos eu tenho uma caixa com a integral beethoveniana. Uma caixa? Um caixote! E aí há que dar-lhe duro para no meio de quase cem discos encontrar aquele que, subitamente, se tornou imperioso!...

 

Depois de uma busca na internet caí na marca “Block” uma coisa alemã, carota mas com múltiplas hipóteses desde centenas de emissoras de rádio, leitura de cds e de pens. Deve ter ainda mais funções mas, no caso em concreto, eu só pretendia uma leitura razoável das pens.

A máquina lá me chegou, era mais cara do que eu tinha projectado e começou o salsifré: 30 páginas de letra miudinha em inglês (inglês técnico!!!, um horror)Em alternativa, o mesmo em alemão, ainda mais técnico e Deus sabe que a alemoagem nisto de termos técnicos abusa e de que maneira1...

Como ia estar em Lisboa a acompanhar a minha Mãe, uma quase centenária cheia de espírito, de histórias e de apetite, decidi passar pela loja e um empregado gentilíssimo lá me deu uma aula prática. Apontei tudo religiosamente. Apontei e perdi os apontamentos. Convém dizer que isto foi em Agosto e só agora em Fevereiro é que me decidi a experimentar o aparelho.

Isso também tem uma explicação. A casa é, felizmente, grande e durante muito tempo, desaproveitei a sala que é enorme e confortável /Por baixo são 9x6 metros mais um quadradinho de 3x2 (e não estou a contar com a zona de refeições que só tem 6x3 m.) Com a pandemia, resolvi fazer quartel general da escrita do blog na sala. Assim, fingia que estava na esplanada a ver correr meninos e cães e, de longe em (muito) longe alguma rapariga buena de ver e mejor de palpar como dizia o Cela, um brejeiro de primeira.

Eu bem sei que sou um velhadas mas ainda tenho olhos na cara (agora os olhos andam na mó de baixo, mas ainda veem o que deve ser visto). E tenho muita imaginação, algumas boas recordações, enfim quase tudo excepto a “juventud divino tesoro” (Rúben Dario, um poeta gigantesco).

Portanto resolvi dar uso à sala onde também há um bilhar (bilhar, bilhar de só três bolinhas que para um snooker seri preciso uma sala ainda maior) onde em tempos disputei partidas animadas com o Manuel Sousa Pereira (ainda cá está um taco dele) e com o meu genro. Instalei-me a um canto, na mesa de jogo e lá vou dando ao dedo.

Eis a razão imperiosa que me levou a perder uma tarde (ontem) e uma manhã (hoje) a tentar adivinhar como é que se faz para ouvir um cd (no caso são dois do Keith Jarret que estavam à espera de vez.

Resumindo, com muita tentativa e uma paciência de santo, já consigo ouvir algum rádio e os cds. Se alguem souber como é que se faz para ouvir as pens, agradece-se penhoradamente.

Tudo isso fez com que ontem despachasse o rascunho de um texto que deveria ser mais cuidado.

Desculpem lá aquilo mas não tive literalmente tempo. Eu não sou muito de corrigir, de caprichar mas, que diabo!, ontem a coisa saiu fracatível . E o tema merecia mais.

Aliás, à noite, tive uma boa notícia: a senhora Provedora de Justiça mandou a lei vergonhosa para o Tribunal Constitucional com considerandos excelentes.

Esta Provedora não vai aquecer o lugar. Faz muito, faz bem, muito bem, faz demais, leva a sério o seu mester. Ou seja, vão aplicar-lhe a regras de um mandato único. Quem quiser apostar comigo que se apresente. Pago um almoço de lampreia contra um café se perder.

A minha teoria é que os poderes actuais não tem paciência para esta Senhora que está sempre a fazer o que um(a) Provedor(a) deve fazer.

E por falar em paciência, eu já não tenho pachorra para certos anti-racistas e outros anti-fascistas que afora pululam por todos os cantos.

Em tempos que felizmente já lá vão contavam-se pelos dedos das mãos os activistas das lutas anti racistas e anti fascistas. Pratiquei esse desporto, num jogo desigual e paguei o que tinha de pagar. Não preciso de mais pergaminhos de que esses obtidos em locais sinistros e condições digamos desagradáveis.

Ora ontem, ouvi ou li que uma senhora, de sua graça Joana Cabral, entende que não há racismo da parte de negros contra brancos (branquelas...) porque o racismo pressupõe uma relação económica em que o racista obviamente branco tem tudo a ganhar e o perseguido, obviamente preto, tem tudo a perder.

A pobre criatura devia ilustrar-se um pouco. Então e o anti-semitismo é o quê? E aquela famosa lei sul africana que considerava no blanc o chinês mas não o japonês? Ignorará esta candida alma que mesmo quando já não há quaisquer factores económicos em jogo, subsiste o racismo, o preconceito e a desqualificação do outro.

Eu, vivi algum tempo em África, muito pouco aliás. Fiz amigos de todas as cores incluindo um chinês, o Michel Kong Song. A certa altura, numa ida de férias a Nampula um cavalheiro negro misterioso veio ter comigo propondo-me a assinatura de “O Brado Africano”. Claro que aceitei e com isso preguei mais um prego no meu caixão policial. Depois, nesse mesmíssimo ano fui interpelado por uns rapazolas que entendiam que o facto de eu pedir por favor um café aos criados do café do Hotel Portugal indiciavam uma de dua: ou estava mancomunado com a Frelimo ou era da “psico-social”. Lá tive que explicar que conhecia o Ali, o Mussa e o Luís desde que chegara a Nampula para terminar o quinto ano. Tratava-os por tu como eles a mim pois tinham-me conhecido rapazola.

“Ó pá isso era dantes! Agora és estudante na Universidade, tens que te dar ao respeito!”

“O respeito a puta que te pariu!” E acabou assim, segundo os autos da pide local, esta troca de impressões. Segundo a polícia vinha daí a minha simpatia e “eventual“ colaboração com os “terroristas”.

É por estas e por outras que desconfio das boas alminhas que andam por aí a pregar sermões aos peixes e, eventualmente, a pintar a estátua do Padre António Vieira.

Ou como diz o meu amigo e vendedor de arte africana o senhor Keita (do Mali). “Há em África de tudo, tal e qual como na europa! E os filhos da puta tem todas e nenhuma cor!”

 

E eu direi em troca: a cor só tem importância quando não há dinheiro. Em havendo cacau que se veja, até se fecham as lojas para a senhora negra e rica fazer compras à vontade! E se as fazia...