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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 582

d'oliveira, 26.03.21

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Saída precária 12

Quis custodiet ipsos custodies?

mcr, 26 de Março

 

 

Leitoras e leitores, não se amofinem com o latinório. Trata-se de uma citação de Juvenal (ou a ele atribuída) que simplesmente significa “quem vigia, controla, julga, os nossos vigilantes (juízes etc....).

Lembrei-me desta citação que apanhei num belíssimo policial italiano de uma dupla de escritores (Frutero e Lucentini) e que eventualmente se chamaria “La dona della do menica”. Esta dupla escreveu vários romances todos bastante potáveis mas terminou com o suicídio de Franco Lucentini que se lançou pelo vão das escadas. Do livro que citei fez-se um filme realizado por Luigi Comencini que também se deixava ver sem desprazer. Agora de filmes italianos só os noticiários da televisão e já é uma sorte.

Portanto, a vera raiz da minha erudição (esta vai para um amável leitor) tem origem no meu fervor pelos “gialli” italianos pois não me recordo de ter lido Juvenal.

Todavia, antes de continuar em modo italiano, vamos à substância: e essa é a do “meritíssimo” magistrado que cristalizou no ortorrômbico e proibiu os restantes membros do tribunal de usar máscara. Pior, terá encerrado a sessão por estes se recusarem a retira-la. Vá lá que não lhes deu voz de prisão...

Este senhor filma-se a si próprio a dizer coisas inacreditáveis enquanto conduz o que provavelmente é uma infracção ao código da estrada para além de o ser à inteligência. Ou, pelo menos, ao bom senso. Imaginemos o qe pensarão os possíveis justiciáveis da comarca onde o magistrado exerce o seu múnus! Parece que, entretanto foi suspenso, aliás por razões que nada têm a ver com estas atitudes.

O filme segue dentro de momentos.

E já que citei dois escritores italianos, ldos há uns bons quarenta anos, vale a pena salientar que ontem foi o Dia de Dante, cavalheiro florentino, dos séculos treze (fins) e catorze  e autor da “comédia” (que mais tarde foi proclamada “divina”.

De Dante, sabe-se pouco (mas mais do que de Camões). A “Beatriz” quem era? Morreu como? Com que idade?

A Comédia foi escrita quando? Se lermos o primeiros versos (nell mezzo camindi nostra vita mi ritrovai per una selva oscura ché la dirita via era smarrita) pode pensar-se que cerca dos 35 anos Dante começou  escrever a obra imortal. Mesmo se para alguém nascido no 3º quartel do sec XIII, a idade normal de vida não chegasse aos setenta anos (aliás morreu antes dos sessenta...) considera-se que foi na dobra do século que começou a escrever. Ontem a RAI 1 consagrou boa parte da noite à efeméride mas já só apanhei o final. De todo o modo, basta verificar a lista de personagens mais ou menos contemporâneos que aparecem na comédia para conseguir datar a obra...

Eu, já por aqui me declarei acérrimo leitor e admirador de Dante, e por isso lamento-me pelo leite derramado.  Vou vingar-me deste contratempo e rever   “Tutto Dante” um belíssimo programa de Roberto Benigni, gravado em 16 cd (5 volumes +1 epílogo) de que só tenho os três primeiros referentes ao Inferno. Descobri esta pequena maravilha, quando ainda tinha duas RAI na antena do  prédio. Depois, passei a ter a NOS e da RAI só um canal de notícias. Há dias a RAI 1 voltou pelo que agora vou ter mais cuidado.

Eu recordo a interpretação de Benigni porquanto, ele não só recitava toda a Comédia como fazia longos comentários de grandíssima qualidade. A declamação passava-se em praças apinhadas de gente e dava gosto ver o interesse com que seguiam o discurso do actor e a récita.

Vou, finalmente, pesquizar se ainda há disponíveis os restantes volumes e encomendá-los.

Se algum(a) leitor(a) estiver interessado  num autor de há setecentos anos (e porque não?) há no mercado uma muito boa tradução da Divina Comédia. Foi o Vasco Graça Moura, homem de muitos talentos, quem a levou a cabo com mais outras, aliás. O Vasco era um excelente amigo, um advogado de mão cheia que me ajudou nos primeiros passos da profissão e com quem me cruzei depois na Segurança Social. Deixou uma obra poética notável, excelentes ensaios, , e quase todos, sobre Camões. Dirigiu com um êxito e pudor o 2º canal da RTP demitindo-se contra os pudores imbecis de meia dúzia de beatos sacripantas que ficaram horrorizados com a projecção de um filme chamado “pato com laranja” onde apareciam umas maminhas. Ai Jesus, Maria José! Mais tarde VGM dirigiu a Casa Fernando Pessoa onde também mostrou o que valia. E antes teve uma intervenção marcante na Expo. Foi obviamente atacado por uma série de pequenos e médios intelectuais que não lhe perdoavam o apoio ao PSD enquanto governo.

Depois de morto, foi um ver se te avias de elogios e homenagens. Muitos provenientes das mesmíssimas ratazanas que lhe mordiam o calcanhar!  O costume!