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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 601

d'oliveira, 16.11.21

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A morte lenta

mcr, 16-11-21

 

 

O espectáculo infame a que se assiste na fronteira entre a Polónia e Bielorússia carece de palavras suficientemente duras para ser clarificado. Aquilo ultrapassa tudo o que os desacordos políticos possam conter, guerra incluída.

Ao atirar para a “terra de ninguém” alguns milhares de refugiados, melhor dizendo de sobreviventes de uma longa e mortífera marcha que tem por fim escapar à morte pessoas cujo crime foi nascerem em terras onde ninguém respeita ninguém, onde a morte, mais do que o futuro, é o presente de famílias inteiras, o governo bielorusso torna-se passível de crime contra a humanidade, de tantos crimes quantos os retidos naquele inóspito lugar, a que um inverno inclemente já chegou, sobretudo quando se sabe que a maioria dos que ali estão vem de climas quentes.

Não tenho a menor simpatia pela gentinha que governa a Polónia mesmo que entenda que abrir a fronteira será  criar um perigoso precedente numa batalha desigual em que o bielorusso usa escudos humanos.

Não sei, porém, se a presença de vinte mil militares polacos, ou seja quatro a cinco soldados por refugiado, mulheres e crianças incluídas beneficie no que quer que seja a nossa Europa, a civilização que dizemos defender, os direitos humanos...

Sabe-se que já terão morrido, alegadamente de frio oito ou nove pessoas. Calcula-se que este número de prófugos de países instáveis e em guerra, seja apenas uma quota parte dos que partiram mas não sobreviveram para chegar aqui, isto é a nenhures.

Esta fronteira, este campo horrendo entre muros de arame farpado é bem pior do que o Mediterrâneo onde todos os dias se naufraga e se morre- Morte, apesar de tudo mais rápida, mais clemente, se clemência há em morrer desesperado, do que esta aqui à vista de todos, filmada, gravada com som e imagem a cada momento.

Também não entendo por que territórios passaram estes fugitivos. Pela Rússia?. Pela Ucrânia? Decerto não vieram dos países bálticos pois aí o mar banha países acolhedores e decentes. As duas primeiras hipóteses merecem anotações diferentes. A Ucrânia com fronteiras marítimas pode ter sido ponto de entrada. Se assim foi, que espera a União Europeia para a sancionar? A Rússia significaria uma viagem com o dobro da extensão e um território policiado ao extremo, sobretudo nesta zona onde o conflito com a Ucrânia permanece em aberto.

Ninguém acredita que estes milhares de emigrantes tenham chegado de avião, logo agora que um grande número de companhias aéreas abandonou os seus bielorussos.

No meio de tantos mistérios a realidade é esta: milhares de pessoas encurraladas entre a indiferença e a crueldade.    E o frio! e o desespero... 

 

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