estes dias que passam 603
Repetindo até me entenderem
mcr, 26-11-21
Escrevo neste blog desde finais de 2005. Na altura, o blog era muito jurídico, muito ministério público. Por razões que nunca consegui discernir, entenderam os responsáveis convidar gente que não ó não trataria de questões conexas com o Direito mas até estavam longe dessa área.
Eu, “pobre homem de Buarcos” apanhara com a dose completa do Direito, incluindo, para meu espanto um curso completo de Direito Comparado onde me diverti como um cabinda, o antigo e reservadíssimo 6º ano de que me salvei graças a uma (mais uma, a quarta...) estadia na universidade de Caxias, em mais um curso de práticas subversivas e oposicráticas. A coisa durou uns meses e saí com mais um processo que nunca chegou a mau termo porque entretanto veio o 25 A.
Depois disso, ainda advoguei uns escassos tempos mas, tendo sido chamado para salvar a pátria e gerir uma instituição de segurança social, consegui com algum esforço, muito entusiasmo e pouco apreço pela profissão, escapulir-me dessa maçada de aturar clientes, enfrentar colegas, ouvir doutíssimos juízes & assimilados.
Nunca mais abri um calhamaço jurídico, fugi do Direito como da peste e confesso que me senti muito bem.
Claro que o Direito, pelo menos o que se aprendi soturnamente nos “Gerais”, em Coimbra pega-se à pele e por mais que um se coce nunca sai de todo.
É por isso que ainda hoje, tantos anos passados, ao escrever, tenha o cuidado de não fazer acusações descabidas ou deixar de tentar usar algum bom senso nas opiniões que, enquanto cidadão interessado, vou emitindo.
Quem escreve quase diariamente como se um diário se tratasse tem por força de opinar contra muitas vezes. Contra os maus hábitos nacionais, contra a pacatez e a preguiça de pensar, contra algumas elites (enfim o que por cá se passeia como tal)que se governam desgovernando-nos e devem pensar que vivem num outro e diferente país.
Há um velho dito figueirense que assegura que “dizer bem é supérfluo”. Não é bem assim ms andar por aí a louvaminhar a “boa” governação parece-me lavar o que está limpo. Quem governa deve governar bem; é para isso que lá está e não para depois de uns anos na governação ir descansar à sombra da bananeira sentadinho à mesa do orçamento ou numa pingue empresa privado a que se fizeram favores.
E foi por isso, e só por isso, que à vista de erráticas posições no Ministério da Saúde (da nossa saúde, daquela para que pagamos - não todos, provavelmente, nem sequer a maior parte, mas seguramente alguns, eu incluído), eu critique quem lá manda e não o contínuo que está `porta, ou o motorista de S.ª Ex.ª
Um leitor, generoso e sensato perguntou-me se eu tinha algum #odio de estimação” aos abencerragens a que, de longe em longe, vou alfinetando. Não tenho, era o que mais me faltava!
Guaro os meus “ódios”, aliás poucos mas definitivos para, três ou quatro criaturas com quem cortei relações há muitos, muitos anos. E , aliás, nem ódios são mas apenas desprezo e uma definitiva vontade de os não conhecer. Nem me lembro delas. Isto é como no imortal livro de Orwell – ou será do Huxley?- passaram à categoria de “non persons” estão num limbo escuro onde os meus cansados olhos não entram.
Esse leitor citava sobretudo a srª Ministra da Saúde que já aqui foi referida um par de vezes. Ele a achar que eu era injusto e a criatura a fazer uma discursata onde punha os médicos do SNS em causa. Por falta de resiliência, palavrão recente que encobre tudo e um par de botas. Hoje o jornal relata umas desculpas esfarrapadas onde a referida senhora jura que não disse o que disse. Que ela aré estima muito a classe médica, que sempre a amou devotadamente, que isto e que aquilo. Até o sr Presidente da República reparou na coisa e criticou brandamente a responsável ministerial.
Convenhamos que, num momento em que os alarmes começam a tocar desenfreadamente por cá, a tolice ministerial passou de singular a dupla, quanto mais não seja pela falta de oportunidade.
Em relação a outros cavalheiros mantenho as mesmíssimas razões. Exceptuo por inepto absoluto, o sr. Cabrita. E por pensar que nada, nele, se comove com a verdade nua e crua. Há um pobre operário atropelado numa auto-estrada há meses e ainda ninguém conhece o relatório do acidente a cargo de uma instituição dependente do Ministério por onde o cavalheiro se passeia majestosamente. Aqui a culpa não vao morrer solteira mas virgem, absolutamente virgem viciosamente virgem se possível.
Outros há em todos os lados do espectro político e não só. A mim o que mais me incomoda é a inconsequência, o fala-baratismo, o constante rosário de promessas ue nunca por nunca se cumprem. E o atirr de cculpas sempre, mas sempre, para os outros. E acontece que esses outros, se nacionais, são sempre os que pagam a facturadas experiências sociais alucinadas, os que são esmagados pelo terrorismo palavroso e mais, ainda, pela clara percepção que aquela prosápia, aqueles arrebatamentos são falsos que estamos em frente de cachorrinhos caseiros que fingem ser lobo
Um velho e desaparecido amigo de Coimbra, num tempo em que a palavra trazia pesadas consequências para quem , e eram raros, a usava, se referia a “canzoada” que de longe ameaçava mas que nunca se atrevia a chegar a vias de facto.
Ora é isso, esse deprimente espectáculo, esse faz que anda mas não anda, essas promessas continuamente adiadas, que indigna qualquer um. É isso, politicamente, que provoca o fastio eleitoral, a descrença e a fuga às urnas, o afunilamento crescente das nossas opções.
E devo dizer que, para quem lhe cresceram os dentes na luta contra o Estado Novo, pelo voto livre, pelo pluralismo partidário, pela democracia e pela liberdade, este caminho que trilho desde há 16 anos de blog pode não ser o único mas é o que me resta. E vou continuar assim. Tal e qual enquanto tiver cabeça para pensar autonomamente.
Isto não é uma promessa. É um modo de vida ou, se quiserem, um vício antigo mais forte que o tabaco e de que já não vale a pena libertar-me.
Só tenho um pedido, leiam-me mas discutam comigo caso lhes dê na veneta. É a falar que a boa gente se entende.
na ilustração : Francis Smith , um pintor "apagado" pelo tempo mas que começa a reaparecer e a suscitar interesse ecríticas elogiosas.