estes dias que passam 645
A ignorância quando atrevida é apenas burrice
mcr, 9-2-22
uma criatura de aspecto cansado e gasto, que dá por Pacheco de Amorim e foi eleita para a AR e será candidata a vice presidente da mesma Casa, veio a público bolsar umas patetadas sobre a cor dos portugueses.
Segundo esta luminária, que parece ser o ideólogo e o “intelectual” do Chega, a cor dos portugueses é branca, pois estes serão caucasianos.
Se o pobre homem tivesse dito que os portugueses são predominantemente brancos (menos, provavelmente, que os espanhóis e muito menos que, por exemplo os polacos)nada se lhe poderia dizer, excepto quanto às conclusões em que teoriza sobre a “raça”.
Todavia, este esforçado “pensador” atirou com claros intuitos provocatórios (muito s que semelhantes aos que animam a hoste, igualmente ignorante e pateta dos anti racistas encartados que descortinam em Portugal uma espécie de África do Sul do apartheid, para pior) estas afirmações que, de resto, cheiram ao que de pior se herdou de séculos de abjecta estupidez.
Mesmo entre os teóricos do Estado Novo, onde eventualmente esta sumidade terá dado os primeiros e incertos passos, defendia-se a ideia de um Portugal multiracial, multicolorido, do Minho a Timor. E propagandeava-se como alto benefício da expansão e da colonização, o facto de os portugueses se misturarem alegre e proficuamente com indianos, africanos, indios do Brasil e outras eventuais raças do Oriente.
E corria a história dos múltiplos casamentos entre “reinois” (os nossos, de cá) e jovens indianas em grande quantidade e apadrinhados porAfonso de Albuquerque. Do Brasil, via Gilberto Freire, vinha o luso tropicalismo, a profundíssima mestiçagem em séculos de posse dacolónia. Havia mesmo a pitoresca históriadeportugas desembarcados em plagas brasileiras e rapidamente povoadas por dezenas (um dois até com centenas!!!) de filhos paridos pelo ventre fecundo de dezenas ou centenas de “esposas” brasileiras e índias.
Das colónias, com destaque para Cabo Verde e Angola, façava-se, e com razão, de outro tanto de casos de mestiçagem , de que o arquipélago é o mais perfeito exemplo mas que em Angola deu origem às “ilustres famílias” mulatas que de Luanda a Sá da Bandeira enxamearam as administrações locais.
E, basta ir àHistória, que dizer da longa, longuíssima ocupação “árabe” (melhor dizendo berbere) de boa parte de Portugal?
Acaso a pachequenta figura não leu “o bispo negro” de Herculano?
Que que aconteceu às dezenasde milhares de escravos e escravas que povoaram Portugal a partir das Descobertas? Morreram todos sem descendência e sem e cruzarem com os indígenas locais? Quem era a Maria Parda, momento alto do teatro de Gil Vicente? E os “pretos do sul do Tejo que até aos anos cinquenta se notavam sobretudo nas margens do Sado e que desapareceram diluindo-se na população portuguesa. E as dezenas de milhares de pessoas negras e mulatas que desembarcaram, integradas na enorme multidão de retornados, em Lisboa ente 74 e 76?
E por aí fora...
E os refugiados indianos? Casaram-se todos entre si? E as famílias luso-chinesas? Timor, para não ir mais longe, ostenta , na sua elite dirigente uns centos de cidadãos com nomes portugueses e clara filiação em desterrados que para aquelas terras foram por motivos políticos.
Na própria União Indiana, fiz há trinta anos uma pesquisa sobre nomes portugueses no Governo e na Alta Administração Indiana. Pasmem, amigos leitores: encontrei duas dúzias de nomes portugueses. Aliás nomes com ressonância aristocrática (Noronha, Coutinho, Peçanha, Albuquerque ) ou mais popular (sousa, Frias sei lá que mais.
Num país que tem um primeiro ministro com “sangue” goês, uma ministra com evidentes origens africanas (e das citadas “gloriosas famílias) que se gaba de ter um reputadíssimo intelectual com evidente sangue santomense (Almada Negreiros) que se pode (e bem gabar) de alguns cientistas de origem africana, desde o Drector da Ncva School em Oeiras (Traça) ou do químico e catedrático, cientista do ano, Maulide, por acaso ambos filhos de amigos meus e contemporâneos em Coimbra, a que vem esta cretinice do pobre Amorim, que bem deveria verificar se na sua família não há traços de extra-caucasianos?
É este género de patetas que produz os Mamadu Ba & associados, que dá origem à vandalizaçãoo da estátua do Padre António Vieira e nega toda uma evidência centenária de relações multirraciais (com claros altos e baixos mas sempre contínua e as mais das vezes pacífica).
Parece que é esta a criatura que o Chega pretende levar à vice-presidência da AR. Já não bastava a hipótese tragicómica da falada candidatura da srª. Edite Estrela. S Bento começa a parecer cada vez mais com uma espécie de circo ou de museu das incongruências nacionais.
(não vou pronunciar-me sobre se se deve ou não criar um cordão sanitário em volta do Chega nem se este pode ou não candidatar alguém a cargos honoríficos no Parlamento. A lei só fala em candidaturas mas parece não obrigar à efectiva presença de vários partidos na mesa. Provavelmente, penderia para essa obrigatoriedade mas, neste momento, e desde há muito, a minha guerra é a do voto unipessoal. Deputados eleitos um a um elos cidadãos. O resto é mera paisagem folclórica e perigosa.
E não vale a pena propor ao sr. Amorim que estude. Está demasiado velho para aprender línguas ou História. Deixem-no dormir uma soneca nas bancadas parlamentares e ajudem-no a atravessar a rua que ele vai precisar.
*na imagem: Lisboa, rª Nova dos Mercadores, sec XVI:seprocurarem bem verão um negro com as insignias de Santiafo, o que não era, à epoca, coisa pouca