estes dias que passam 686
O partido “irmão” pisa o acelerador
mcr, 6 -6-22
eu convidaria os leitores mais resistentes a darem uma vista de olhos `s posições e proclamações do chamado “Partido Comunista da Federação Russa” mormente sob a questão da guerra na Ucrânia.
Esta organização de fraca implantação na Rússia é tolerada pelo regime putinesco e serve-lhe mesmo de “cão de guarda” na acepção antiga e lúcida de Paul Nizan, um intelectual comunista que, pela corajosa posição imediata anti-invasor alemão na França, foi acuado de tudo pelo seu partido.
Não vou sequer elencar todas as invectivas desta caricatura política russa mas apenas relembrar que foi dela que partiu a proposta de reconhecimento imediata das regiões separatistas ucranianas e, desde esse momento, tudo o que proclama vai num crescendo obsceno , ultrapassando os mais alucinados nacionalistas e nacional-fascistas russos que não pedem meças mais nenhum outro partido de direita radical.
É, todavia um partido irmão, que ultrapassa largamente o da Coreia, outra aberração que vive na respeitosa e absoluta admiração pelo líder, melhor dizendo pela dinastia norte-coreana que já vai no netinho do fundador. (Os leitores mais exigentes poderão verificar que da banda de cá, o PC cnorte coreano é um ramalhete de virtudes proletárias, anti-capittalistas, progressistas e renovadoras do mais fino quilate.
(Basta ir à internet para ler o que os comunistas locais afirmam sobre o seu “irmão” coreano) .
É neste cenário de abjecta coincidência de posições que agora, alguns filhos e filhas de Putin vem alertar os portugueses sobe o “efeito boomerang” do anti-comunismo.
Convém esclarecer que qualquer crítica ao PC, aos seus eleitos locais, à prática de algumas autarquias por eles governadas, é obviamente uma horrível maldade e um ataque sem precedentes contra um partido nacional e repleto de virtudes democráticas como é timbre do PCP.
Eu faço parte de uma geração que conheceu p PCP nos tempos difíceis, que apoiou muitas lutas por ele promovidas ou (mais verdadeiramente) a que ele se associou e tentou capitanear.
Escondi, quando me foi pedido, um que outro militante comunista que se sentia em perigo, colaborei em iniciativas deles mesmo sabendo de onde vinham e quão perto ou longe estavam das minhas próprias posições.
Em nas vezes em que fui eu próprio detido nunca me passou pela cabeça delatar ou sequer confirmar que A ou B seriam comunistas, do mesmo tratamento por parte de alguns não me posso gabar como qualquer interessado poderá comprovar lendo os vinte e muitos volumes do processo contra os estudantes em greve em 1969 em Coimbra.
Apenas um, logo que fui libertado, me pediu desculpa e reconheceu que sua juventude, a sua inexperiência e o facto de o processo ser conduzido pela polícia judiciária o tinham induzido em falar de mim, ingenuamente crente que a “judite” nunca passaria tais informações à pide!...
Nunca questionem, nem questiono, o direito do PCP ter posta aberta, concorrer a eleições, existir livre de qualquer espécie de vigilância por parte de quem quer que seja. Bem pelo contrário, entendo que a sua presença é útil como útil é a presença de outras formações radicais estejam elas onde quer que se encontrem no vasto especto político nacional.
Todavia, vir afirmar que o PCP renegou, abandonou toda a estrutura ideológica leninista é um embuste, uma parvoíce e, de certo modo, uma ofensa ao partido e à sua história pregressa.
Ora, na ânsia de se mostrarem mais progressistas, mais amigos da “verdade que temos direito” (há ainda quem se lembre do jornal que tinha este slogan; ou, já agora, haverá quem recorde que “Verdade” -Pravda em russo- é um velho título vezes sem conta utilizado pela imprensa revolucionária, inclusive em Portugal onde deu nome a um efémero jornal da ultra-esquerda nacional nos anos do PREC) vamos lendo com honras de publicação nos melhores jornais defesas apaixonadas da existência do PCP. Inclusivamente, algumas vindas de criaturas que recentemente tentaram junto do Tribunal Constitucional uma revogação do reconhecimento do Chega!
Não se consegue perceber como é que há esta viragem de 180 graus quanto ao direito de existência de um partido que, no caso em apreço tem o dobro dos votos do PC...
Pela parte que me toca, devo dizer que o “Chega”, uma criação quase pessoal de um arrivista político, populista e capaz de dizer tudo e o seu contrário não me seduz, entusiasma ou comove. Todavia, existe, recebe a confiança de muitos milhares de eleitores e só por isso tem direito à vida e a sentar-se na AR. Exactamente como o PC!
Sei também que há, sempre houve, neste país e em todos os outros, gente que detesta o PC, a sua ideologia e, mais ainda a sua prática ou a prática dos seus congéneres europeus, vivos, em estado de profunda letargia ou até desaparecidos sem deixar saudades. Mesmo que, dentre a prática do que não mais de cinquenta anos era característica do chamado bloco comunista, houvesse diferenças. Ninguém pode comparar o partido comunista luxemburguês com o do Cambodja que por pouco não eliminou toda apopulação kmer. Também se notam, à vista desarmada diferenças entre o partido comunista alemão e por exemplo o coreano que agora – e já naquele tempo, servia uma dinastia. E o PCUS nunca foi idêntico ao partido albanês do sr Enver Hodja, ao jugoslava do “marechal” Tito. E praticamente, nenhum se comparou com o actual e poderoso pC da China que tem nos seus quadros uns milhares de grandes capitalistas cuja actividade tornou o país um forte polo industrial e financeiro.
Porém, há nesta diversidade de partidos que estiveram no poder (quase todos...) uma característica comum: eliminaram sem contemplações todos os seus adversários e governaram /ou governam) sozinhos amparado por votações gigantescas e grotescas que, a certa altura, com uma vaga aragem de liberdade os fez ruir , perder o poder e quase desaparecer, havendo mesmo casos em que, nas suas zonas de influência, surdiram quase como herdeiros grupos radicais de extrema direita que, como no caso da França ou da Alemanha ameaçam a vida democrática.
Mas reflectir sobre isto parece ser um exercício demasiado pesado para certos e certas “progressistas” portugueses...
na vinheta:os saudosos tempos do sr Pol Pot e doskmhers vermelhos que só desapareceam do mapa graças a uma intervenção do exercito vietnamita