estes dias que passam 709
"Despacharam" o despacho
Mcr, 1 -7-22
A silly season costuma começar lá mais para o Verão, ou seja para a temporada de banhos, Agosto.
Desta feita começou bem mais cedo pelos vistos com o estranho caso de um despacho despachado para a sargeta da História.
Passa-se isto noutra geografia mais pitoresca , a coisa daria para a costumeira risota dos mais indulgentes e para a afirmação sempre agressiva de que “aquela gente” daquelas excêntricas paragens não é igual a nós mas claramente inferior.
No entanto, isto foi anteontem e em Portugal, país com pergaminhos de oito séculos de História . E o protagonista, mesmo pitoresco e vagamente pindérico, é Ministro! Ministro, reparem bem, mesmo se um ministro já aureolado e conhecido pelas suas bombásticas declarações que normalmente não ultrapassam o fragor de tiros na água.
Se não estou em erro, o sr Pedro Nuno dos Santos entrou no círculo dos famosos quando propôs não pagar a dívida e, com essa atrevida e caloteira atitude, pôr as “perninhas” dos banqueiros alemães a tremer.
Diga-se que a ameaça não teve sequer o efeito de uma bola de sabão, pelo menos no que toca aos membros inferiores dos cavalheiros teutónicos.
Ou porque não sabiam português, ou não tinham pernas ou, finalmente, as deles não tremem com estes arremedos patéticos e patetas de ameaça vã.
Portanto, anteontem, enquanto o dr. Costa andava, como já vem sendo costume , pela Europa eis que os portugueses foram surpreendidos com uma notícia: o famoso aeroporto de Lisboa que jamais seria construído na margem sul, ia de fato arrancar em Alcochete provavelmente transferida honorariamente para norte do Tejo.
A coisa aliás era mais complicada. Numa 1ª fase faziam-se umas obras em Lisboa, gastava-se a bagatela de 600 milhões no Montijo e depois começava a grande obra em Alcochete, coisa para terminar (miraculosamente num país sempre adiado e sempre com adiamentos) em 2035!
Pelos cálculos mais baixões, parece que a empreitada ficaria em 10.000 (dez mil) milhões de euros desconhecendo-se, como também é hábito nacional, de onde viria essa pipa de massa.
O azougado ministro Pedro Nuno dos Santos veio dizer, e por mais de uma vez, que assim é que é, nada de esperas pelo PSD, nada de tremores agora nas pernas nacionais, nossas: para a frente é que é caminho, mesmo que tudo isto parecesse uma corrida de lemings para o abismo.
O Quarto Pastorinho, digo, o Sr Presidente da República quando interrogado declarou não conhecer o despacho ministerial. O sr Primeiro Ministro, terá dado um uivo desde Madrid e ameaçado o sr PSN: ou se demite ou é demitido.
Este, encolheu as unhas e veio de corda ao pescoço afirmar que errara que era o melhor amigo de Costa e mais duas ou três toliçadas. E o despacho foi prontamente anulado e tudo pareceu esquecido. Tudo?
Temo bem que não!
O sr Presidente da república, numa declaração tão breve quanto agreste, veio dizer que era ao Governo que cabia a responsabilidade, que queria uma solução clara, boa, “consistente” e mais não sei quê.
Os sr.s Costa e Santos estiveram uma hora à conversa mas disso não transpirou nada. Moita, carrasco!
E tudo voltou, mas mais tremido que as perninhas alemãs, à primeira forma: aguarda-se que o PSD diga o que entender. Tornando-o assim, caso o seu líder queira, fiel da balança.
Para um Governo com maioria absoluta é obra!
Para um candidato a 1º Ministro foi um tiro no pé.
Para um Primeiro Ministro, uma valente canelada na tíbia esquerda.
Para os portugueses, tristemente habituados a estas acrobacias vaudevilescas, mais uma ocasião para sorrir amarelo e para lamentar o estado bananeira da República.
“Isto vai ser uma tourada à antiga portuguesa” manda-me em mail a Juju Cachimbinha. “Ou uma garraiada infantil à moda do antigo Casino Peninsular da Figueira” contrapõe W, alvoroçado mas com farta experiência destas “portuguesices”.
Os restantes membros do “”Sétimo de praia com latim e grego por fora”, amável grupo de velhos velhíssimos compinchas rebolam de riso (amarelo, desolado e envergonhado).
E mandam-me um recado: “M, vê lá se acertas o passo a esta gentinha, sobretudo ao pimpão das infra-estruturas”.
Eu faço o que posso mas há algo que me incomoda. Então este senhor PN tem trinta (30!!!?) deputados às ordens no Parlamento? Dispostos a seguir o chefe, o líder, o conducatore até ao fim do mundo ou até ao cargo de 1ª Ministro? Será possível tal ataque de louca cegueira partidária, de brutal autismo político?
E onde param esses famosos 10.000 milhões de que se fala, fora os desvios sempre previsíveis e quase certos ou isto não se passasse no torrãozinho de açúcar à beira mar plantado?
Que um ministro fora da caixa permaneça, já estamos habituados. Só, por uma e irrepetível vez, um foi corrido (o dr. João Soares) . Os restantes arrastaram a carcaça moribunda longos, longíssimos meses porque o sr. Costa não gosta de remodelar. Ou gosta de ter no rebanho que dirige uns piões das nicas que lhe evitam ser atingido pelas críticas.
Já imaginaram o efeito que estas coisas têm lá fora? Na Europa, para onde, consta, o sr. Costa gostaria de ir? Alguém acredita que depois destas aventuras circenses e do seu, até agora, desfecho, ainda haja quem lhe queira confiar responsabilidades europeias?
E falam em habilidade política? Uma habilidade que transforma os choque violentos de opinião (e acção) num drama de faca e alguidar, numa telenovela sensaborona, numa paz dos cemitérios?
Será que merecemos isto?
Que aceitamos isto?
Responda quem souber.