estes dias que passam 710
Entradas de leão...
mcr, 3-7-22
Os/as leitores/as (eu não vou na gramática inclusiva e abusiva dos advogados dos sexos “não binários” que aliás não são obrigados a ler.me...) conhecerão o resto dessa frase. A cautela, aqui vai: “saídas de sendeiro”.
E, estou em crer, sabem ao que venho e que enche televisões, rádios e jornais: sempre a triste anedota do ministro peru que se tomou por pavão.
Eu ando, e desde há muito, a afirmar, que agora a vergonha é um pecado três vezes mortal e que, por isso, se evita a todo o custo.
E como, por isso, ninguém tem vergonha na cara, ninguém, por mais aleivosias que lhe façam, se demite. Quem nasce com vocação para capacho nunca chega a tapete, mas é o que temos. Parece que a nossa sina é sermos o alvo das padas de quem, na europa, nos segue divertido e com um vago desprezo.
A historieta do ministro Pedro Nuno e da sua ânsia em se agarrar ao poder que, agora, é pouco ou nenhum, mostra bem que género de classe política (ou de certa classe política) nos foi dado ter.
Eu, desde a famosa (e ridícula) declaração de desafio aos banqueiros alemães, sempre afirmei que a criatura deveria ter ficado no seu cantinho. Não ficou porque alguém, seguramente mal avisado, achou que a criatura ornamentaria um governo eficaz. E foi o que se viu: uma passagem por sucessivos gabinetes sem especial brilho mas com muito parlapié. E apareceu o “pedro-nunismo” uma versão parola da “esquerda socialista com uma queda indubitável para o “geringoncismo” mesmo quando desnecessário como é o caso, actualmente.
Agora ouvem-se vozes que juram que estavam à espera e à espreita de um tropeçâo do género deste que foi dado. Cheira-me mais a aquela velha teoria que manda que os prognósticos só se deem depois do jogo.
No pequeno círculo do “sétimo de praia com latim e grego por fora” assomou Y que jura que “à semelhança dos palermas e palermoides há astros e asteroides”. Ou seja que nem tudo o que luz é oiro. K. Por sua vez (esta troca de impressões está mais concorrida que as festas da Agonia), K corrigiu: “nem isso, o criaturo é um cometa de cauda curta em rota perdida. E os cometas causam sarilhos quando embatem na Terra.”
Para já o sarilho reduz-se a um despacho e respectivo contra-despacho e uma humilhante auto-crítica. Poderia ser pior se, por exemplo, a coisa fosse mesmo para a frente. Já imaginaram o que era começar-se a construir Montijo e a fazer os projectos de Alcochete sem sequer haver uma ideia de qual seria a posição do PSD que, em ganhando as eleições poderia deitar tudo a perder?
Alguém consegue explicar de onde é que viriam os oito a dez mil milhões de euros para Alcochete? Alguém poderá dizer que, num país que já leva uns dois ou três bons séculos de obras de Santa Engrácia, essa dezena de milhões não se alargasse desmesuradamente?
Só numa mente fantasista é que cabe a esperança de que essa dinheirama toda viria outra vez, uma vez mais, dos donos das perninhas que tremem. É que confiança se pode ter num político que se diz socialista mas que, à vista de todos, se assume como um “inocente útil” às ordens de um ou dois debilitados partidos radicais de extrema esquerda, cujas propostas vão todas no sentido de menos Europa (ou nenhuma) de mais dívida pública, mais Estado como se este não fosse já demasiadamente gordo e ineficaz como se vê todos os dias em capítulos tão diversos como a saúde, a educação ou a segurança social que regista uma altíssima taxa de queixas junto da Provedora de Justiça?
Eu não faço parte dos que acham que este estúpido fait divers derrube a curto ou a médio prazo o Governo. Porém cá dentro ou lá fora a imagem deste foi abalada. Não sei se a oposiçãoo vai ou não aproveitar esta tragicomédia lusitana nem isso me importa demasiadamente. A mim, o que me espanta, é a permanência do Ministro por tibieza ou sofisticado e mal intencionado cálculo político do Primeiro Ministro.
Da desesperada vocação de lapa agarrada ao rochedo do poder que se verifica em PNS pouco se me dá. Não digo que a esperava mas também me não surpreende. Conheci ao longo de uma vida longa muita gente assim. Nos últimos anos vi casos de tentativa de sobrevivência política idênticos ou parecidos. Vi criaturas a deixarem-se assar lentamente ao fogo da opinião pública e dos remoques da comunicação social sem perceberem que à sua simples vista as pessoas se riem. O poder ou o cheiro dele enlouqueceu-as. Mas espanta-me que, no caso em apreço, ainda se fale de uma fracção do PS com gente dentro do parlamento, pronta a seguir um chefe de fancaria. Será (ainda) verdade? Deus nos proteja desta malta!