estes dias que passam 711
A debandada
mcr, 7-7-22
Na velha e original pátria da democracia (não vale pena vir com Atenas pois esse exemplo perdeu-se por um ou dois milhares de anos e não incluía nem as mulheres, nem os escravos e os estrangeiros, a menos que estes fossem ”hóspedes” de algum cidadão) há leis implacáveis e não escritas sobretudo em política.
Boris Johnson apesar de truculento foi um bom presidente de câmara (Londres) escreveu um par de livros interessantes evenceu confortavelmente umas eleições gerais. E levou avante o “brexit” quando todos previam um colapso medonho.
Porém, e num país que respeita e muito as aparências, cometeu um par de pecados que, na aparência veniais, irritaram soberanamente o povo, a classe política, e os seus mais directos colaboradores. Boris disse um par de mentirolas sobre umas vagas festarolas enquanto a pandemia obrigava o Pópulo a quedar-se por casa, chateado e receoso.
Cá, isso seria um pequeno solavanco mas não daria azo a nada de grave. Basta ver o que vai ocorrendo com o actual Governo, s charadas ministeriais, os ministros incapazes, a notável tolerância de Costa para com eles e tudo o resto. “aqui não se passa nada” como se diz na maravilhosa “Casa de Bernarda Alba”.
Na Grã Bretanha estas patetices pagam-se caro, muito caro. Os britânicos prefere um coxo, um pobre diabo sem pernas a tentar ganhar a maratona do que um mentiroso. E Johnson deixou-se enredar numa historieta de meia dúzia de copos bebidos à sorrelfa no nº 10 para festejar já nem sei o quê.
Eu, sempre ingénuo, até sou capaz de conceder que o diabo do homem nem sequer estivesse presente. Todavia, corre que esteve e sobretudo afundou-se numa poça de mentiras e afogou-se em dez centímetros d água suja.
E as críticas choveram de todo o lado, incluindo do seu. Primeiro, umas largas dezenas de conservadores tentaram um golpe de mão mas foram batidos pelos adeptos do primeiro ministro.
“Ai isto não vi a bem?”, ter-se-ão perguntado os poderosos dirigentes do partido. “Então vai a mal!” e cinquenta (para já) membros do gabinete, entre ministros e secretários de Estado bateram com a porta, Um desastre! Um escândalo!
Boris, já não manda no partido, irá eventualmente governar mais dois meses, enfraquecido e impotente, até ao Congresso do seu partido.
Não sou adivinho nem conheço assim tão bem a mentalidade britânica mas desconfio que não sobreviverá politicamente a este desaire.
É verdade que Churchill, um seu biografado, sobreviveu a alguns maus, péssimos, momentos mas o velho leão, mais do que um sobrevivente, era de outro estofo. E quando ninguém apostava nele, regressou com estrondo e mostrou que era capaz e genial. E conduziu a Grã Bretanha da iminente derrota à vitória final.
(aliás, valia a pena meditar nisto. Depois da guerra, este homem aureolado pela vitória, pelo reconhecimento unânime dos seus compatriotas e do mundo, acabou por perder umas eleições contra um político trabalhistas razoavelmente medíocre mas portador de novos valores. )
Johnson sai ou sairá pela porta baixa impotente para conter uma debandada de notáveis que querem garantir os seus lugares no parlamento e a credibilidade perante os seus eleitores.
Esta é uma da vantagens de um deputado ser responsável perante os eleitores e responder sozinho perante eles. Por c´, onde os deputados são eleitos à pazada não há escândalo que permita aos votantes acenar-lhes com um lenço branco.
Aqui ninguém se demite e muito menos é demitido. Pelo menos agora.