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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 757

d'oliveira, 13.11.22

 

 

 

 

 

 

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“A história repete-se...”

ou “rei morto, rei posto!”

mcr, 13-11-22

 

 

Valerá ainda a pena refletir sobre a vida interna do PCP? Ou será que, à semelhança da Maçonaria, o PC faça parte do nosso quotidiano de mistérios mesmo se o “partido” se anuncie como tendo paredes de vidro. Se são de vidro esse há de ser fumado pois o que os cidadãos vão vendo é apenas a encenação ritual de uma missa cantada e com sermão de pregador de dentro, sempre igual, sempre previsível e sempre exaltando a comunidade interna e protestando contra as trevas exteriores. O “partido” apresenta-se sempre cercado de inimigos tremendos, de conspirações constantes que só a fé imperturbável dos fieis permite vencer ou, pelo menos, resistir a um cerco malévolo e insidioso que quer não só o extermínio dos militantes mas a morte da da democracia, a escravidão dos trabalhadores e do povo (como se os primeiros não fizessem parte do segundo ). 

Vejamos o quadro. Há meia dúzia de dias o público (e os militantes e simpatizantes) souberam que o Secretário Geral Jerónimo de Sousa deixava o cargo e que o seu sucessor, oum desconhecido sr.  Paulo Raimundo, membro do Comité Central, fora indicado para o substituir. Para o efeito convocava-se uma “conferencia nacional onde o “comité (ia a dizer comissão...) central  votaria o seu nome. Isto de votar tem, no caso  em apreço, um significado especial. O CC iria reafirmar solenemente o que já estava decidido!

Pelos vistos, e sempre segunda as parcas informações prestadas, esta movimentação andava a ser discutida há meses! Pelo menos há quatro meses! É obra! Durante quatro meses, cento e vinte dias nada transpirou cá para fora. Isto num país em que o segredo é manteiga em focinho de cão (como eventualmente Jerónimo de sousa poderia dizer). 

A política de segredo, herdada possivelmente dos longos anos de clandestinidade que, todavia, teriam terminado há uns bons 48 anos (tantos quantos os da “longa noite fascista” que, para o PC ainda não se extinguiram totalmente porquanto pelo menos do ponto de vista parlamentar e eleitoral subsistem incólumes todos os males, todas as perversões do fascismo e, sobretudo, do anti-comunismo... ) continua afinal a imperar. 

Não se vai agora voltar à extraordinária biografia proletária do sr. Raimundo. De resto não será a primeira vez que um funcionário do “partido” aparece aureolado com o exercício de profissões humildes. Já a sr.ª coordenadora de CGTP também ele, desde sempre nos quadros internos da central, sem nunca ter visto um patrão a sério, foi distinguida do mesmo modo e apontada como vinda do mesmo universo proletário ou, pelo menos, laboral. 

Assim se salva a famosa “regra de ouro”  outro chavão incontornável do discurso comunista. Como se esperava, o sr. Raimundo foi votado por unanimidade (não vale a pena contar com a sua abstenção) o que terá sido um progresso dado que na reunião que o propôs teria havido um par de abstenções. 

Como se esperava o discurso do recém eleito indica que o PC vai voltar à rua (onde aliás já anda desde que saiu da geringonça). Também era previsível que o amável, simpático e sorridente Jerónimo de sousa fizesse um discurso de despedida em voz forte e tom agressivo mesmo se nisso incluísse (e deque maneira!) o PS que apareceu nas suas palavras de mão dada com o Chega. 

Isto, este rosário de recriminações, veio exactamente do mesmo cavalheiro que numa já longínqua noite eleitoral veio passar a mão pelo pelo de um costa choroso e desanimado afirmando que nem tudo estava perdido, bem pelo contrário e que a sua derrota se transformaria em vitória graças ao meigo abraço do PC. 

Desta feita, Jerónimo que, de resto, nunca foi tido por “renovador” veio relembrar de que farinha é feito e tonitruou um agravamento impetuoso da renovada luta de classes. O PC “passa” à oposição (onde aliás já estava)  e prepara-se para a  “rua”, para as greves para o que for preciso  .Resta saber se tem dentes para tal tarefa mas isso é outro falar. 

O público que assistiu à entronização do seu sucessor (mesmo que se insista sempre no “colectivo”...) vibrou com os discursos e aplaudiu freneticamente durante longos minutos. A diferença para os rituais coreano e chinês tem  dois aspectos. Apesar de tudo as palmas duram mesmo tempo e os comunistas portugueses não usam uniformes nem se vestem todos de igual. Todavia, se tentarmos encontrar pontos de convergência com esses “camaradas” orientais e longínquos basta ouvir as condenações do costume, a exaltação do périplo de sacrifícios, a confiança no futuro de manhãs cantantes e a indiferença pelo mundo real que, queiram eles ou não, os cerca. 

E, já agora, a referência à guerra em que todos eles se escusam de indicar um agressor e um agredido. Pior: tudo indica que no caso Rússia Ucrânia o agressor chama-se NATO, EUA, Europa, Ocidente, o agredido Rússia sendo a Ucrânia cujas tropas acabam de libertar a única capital provincial tomada pelos russos, uma espécie de pião de brega  que não percebe os ventos da história .

De resto, os mesmos ventos que Jerónimo afirma serem os que sopram contra os comunistas e a que estes nunca viram as costas... Não sei se isto é meteorologia ou ideologia mas, no actual momento, a coisa é de somenos. 

(não vamos ao ponto de citar a máxima chinesa “o vento do oriente prevalece perante o do ocidente” pois, como se sabe o parido português nunca alinhou pela “heresia” maoísta. ) 

*na vinheta: Fujin o deus dos ventos japonês Em termos de vento oriental foi o que se arranjou...