Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 758

d'oliveira, 24.11.22

Casas e estrangeiros ricos

mcr, 24-11-22

 

 

Há, só na região de Lisboa, 27.000 casas arrendadas por menos de cem euros! 

Não sei se estão em boas ou más condições de conservação e habitabilidade, mesmo se tenha a quase certeza de que o seu estado não deve ser brilhante. Nenhum senhoria consegue  fazer obras numa casa alugada a este preço. Quanto aos inquilinos, duvida-se que se resignem a reparar o que não lhes pertence. O resultado é a degradação cada vez mais rápida do edificado. 

Também não sei qual é a condição social dos inquilinos mesmo se presuma que, na maioria, serão pessoas idosos e, muito provavelmente, com poucas posses (o que é um eufemismo para significar pobres).  Duvido igualmente que os senhorios em causa sejam ricos. Se o forem não o devem às rendas recebidas. 

Este não é o único problema da habitação em Portugal, nem sequer o mais generalizado, uma vez que o mercado do arrendamento não cobre mais de20/30% do mercado da habitação. 

Agora, por óbvias razões, a questão agudiza-se com a subira das taxas de referência para empréstimos bancários mas o problema vem de longe e tem a ver com as leis que desde há muito regem o arrendamento urbano. As poucas casas para arrendar atingem valores altos, fora do alcance de uma forte maioria dos que querem uma casa alugada. 

Durante décadas as leis do arrendamento urbano prejudicaram severamente os senhorios o que levou à rarefacção do mercado e à súbita e incontrolada subida da tendência para a compra de habitação própria.  Com os resultados que se conhecem e com as angustias que se preveem.

E, como de costume, com o Governo a distorcer o mercado com ocorreu ainda recentemente  com mais uma fixação administrativa de rendas. E, pior, com a ameaça, de estender tal fixação ao mercado e novos arrendamentos. 

Consta que há senhorias que já começaram a retirar casas do mercado. Não tenho quaisquer meios para infirmar ou aceitar esta ideia mas, na verdade, verifica-se uma fuga de casas devolutas para outro género de mercados e fundamentalmente para os alugueres breves. 

De verdadeiro sabe-se apenas que centenas ou milhares de inquilinos vão sendo expulsos do centro para as periferias, cada vez ais longínquas, das grandes cidades. 

Os estudantes, as famílias jovens, desesperam por um quarto a preço decente ou um apartamento que sirva para um casal. Não há! Ou o que aparece é a preços que ou são altos ou, pura e simplesmente, especulativos. 

Com os meus familiares, terminei há dias de me desfazer finalmente (Aleluia! Aleluia!!!) de um prédio numa zona nobre de Lisboa, vendendo a última fracção após a morte de uma inquilina que ia nos seus 102 anos!...  Provavelmente porque não valorizamos devidamente  o apartamento, apareceu um comprador em menos de uma semana. É verdade que o prédio esteve sempre bem cuidado, estimado, nunca regatámos obras que, obviamente, foram sendo cada vez mais caras. Todavia, os restantes condóminos (o processo de venda começou  há anos e foram vários os inquilinos que não hesitaram em comprar os andares onde moravam nem nunca se questionou a necessidade de obras de manutenção julgadas necessárias ou apenas aconselháveis. Houve mesmo uma fracção que foi a leilão entre pretendentes a comprador!.. E já ocorreu – aliás recentemente- vender um apartamento ocupado por um inquilino que já lá se encontrava desde há muito).

Ter inquilinos, mesmo no nosso caso que, em dezenas de anos, apenas tivemos uma razão de queixa, é um risco que, pessoalmente, e logo que possa, deixarei de enfrentar. Não tenho paciência, muito menos idade ou vontade, e não me sinto especialmente vocacionado para substituir-me ao Estado no que toca à sua vertente social de protecção do Direito à Habitação. Muito menos estou para ser alvo de pequenas franjas radicais que veem o capitalismo selvagem, o imperialismo abusador e o fascismo rampante em todo o lado. Recuso-me a ser pião das nicas da iliteracia políca e económica de algumas figurinhas que se pavoneiam na Assembleia da República...

E já que estamos com a mão na massa, gostaria de saber que raio de influência tem os compradores ricos e estrangeiros, amadores de andares de luxo, com o mar em pano de fundo, com a falta ou a carestia de casas nitidamente construídas para classes médias  ou menos que médias, de tamanho reduzido e em bairros de muito menor gabarito? Quem vai por um andar em Alvalade, em Lisboa ou no Bonfim, no Porto  não se prepara para competir com os compradores de casas na primeira linha de mar do Estoril ou da Foz do Douro. Não é que não quisesse mas este género de comprado não vai atrás do luxo, mas apenas pretende um sítio que não seja um buraco para viver. Provavelmente, nem teria dinheiro para pagar o condomínio de luxo, a segurança 24 horas os porteiros de noite e dia e tudo o resto que, por arrasto, é pressuposto nas moradias de luxo. 

Usar o tema como arma de arremesso político é, além de uma burrice, um insulto à inteligência das pessoas.

Pessoalmente, sou absolutamente contrário à venda fisfarçada de passaportes ou de direitos de passagem por Schengen graças à compra de um pequeno palácio.Quem se diz pronto a investir em Portugal que o faça em investimento industrial ou desserviços e, deverá sempre ser verificado se o dinheiro é de fonte limpa. E o capital de muito investimento chinês, russo ou brasileiro tresanda! Isto, esta venda de benefícios é tão imoral quanto a entrega de mão beijada de passaportes portugueses a gente que, arguindo de um antepassado sefardita de á cinco séculos, alardeia um infinito amor a Portugal ou, sobretudo, a cidadania europeia. Não sabem nem pretendem estabelecer-se em Portugal, não falam a nossa língua, ignoram totalmente os nossos costumes e cultura mas, depois de um extravagante manipulação de dados biográficos, feita por gente que para o efeito, apenas tem a chancela de um duvidoso contacto com autoridades religiosas e o aval preguiçoso e criminoso do Estado que delega funções que só a ele cabem, fabrica portugueses a todo o vapor.  

Identicamente, no capítulo problemas da habitação aponta-se o tiro para todos os alvos excepto para o real que é a ausência de uma política que funcione, a incapacidade de proteger os inquilinos frágeis e idosos com uma medida tão simples quanto barata de, investigado cada caso, lhes conceder o subsídio de renda adequado até que, num futuro que nunca será imediato, criar uma rede pública de oferta de casas com rendas económicas e viáveis. 

Tudo o resto é fantasia. 

 

 

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.