estes dias que passam 759
Até a Roménia!
mcr, 25-11-22
A notícia é fresquíssima e desagradável. A Roménia ultrapassou (ou ultrapassará já no próximo ano) Portugal no que toca ao PIB per capita. Lembremos que ainda há uma dúzia de anos a Roménia era o país mais pobre da Europa!...
Como anda toda a gente atarefadíssima com o apoio à selecção é provável que esta triste novidade caia em saco roto. À uma porque é uma chatice das fordas. Depois porque o Sr. Presidente e as restantes altas figuras do Estado andam tão embevecidos com o apoio à Selecção que nem saibam o que se vai passando neste baixo mundo da economia .
E se, acaso, se lembrarem disto , logo retorquirão que a culpa é do Passos Coelho! Ou da troika! Ou da pandemia. Ou do diabo que os carregue...
No pouco sorridente ano de 1971 iniciei-me no Direito Comparado num primeiro ciclo de estudos ocorrido nas instalações magníficas, superlativas, da Gulbenkian que, posteriormente com generosas bolsas me apoiou até fundar tal empreitada. Conheci gente de quase todo o mundo e, entre essa pequena multidão, um romeno, mais velho, juiz, cultíssimo e multilingue, que me ensinou as primeiras anedotas anti-comunistas ou anti-soviéticas o que vinha a dar praticamente no mesmo. Descreveu-me o seu país condenado pela geografia e ocupado pela URSS via um casal de tiranos locais que felizmente morreu às mãos da turba maltratada, empobrecida e irada por alturas da revolução de 1989. Suponho que o Mihail (se é que soletro bem o seu nome) ainda terá podido assistir a esse momento libertador mas, como lhe perdi o endereço, nunca o saberei ao certo. Recordo porém, as nossas conversas sobre Faulkner, uma paixão mútua e sobre a pobreza dos nossos dois países. O Mihail afirmava que, em comparação com a Roménia, Portugal era rico, riquíssimo e, bem mais livre, o que aliás, na altura, me foi difícil de compreender e menos ainda de aceitar. Cinquenta anos depois, eis que a riqueza dos cidadãos romenos que, contudo, emigram supera a dos portugueses que, aliás, também emigram e às carradas...
Todavia, como já disse e previa, a pátria ou o que, por cá, se toma por pátria está extasiada com a vitória sofrida sobre o Ghana. E foi por pura sorte que não se empatou como se sabe.
E o Sr Presidente lá cumpriu, enfim lá disse duas larachas numa conversa com uns interlocutores que não eram qataris, sobre Direitos Humanos. Por acaso, via CNN portuguesa, tive ocasião de ouvir um comentador português que explicou a quem o quis escutar que, ao lado de várias ONG e de várias organizações internacionais que intervieram no Qatar, a charla portuguesa e presidencial era pouco senão nada. Como, de resto se previa mesmo se o governo local tenha chamado o embaixador português para duas palavrinhas.
Convém lembrar que Portugal é um dos três países que manda o seu mais alto magistrado ao campeonato. Pior manda igualmente os dois seguintes se é que não se resolvam a borregar na sua espalhafatosa e inútil atitude. A menos que vejamos o dr. Costa com uma braçadeira LGTBQ (como a ministra alemã fez questão de usar) e o Sr. Presidente da AR com uma gravata arco-íris!
De todo o modo, excepto meia dúzia de ranzinzas, o país viu o jogo, rejubilou, amuou, voltou a rejubilar e jura que à próxima vez, “até os comemos” Coném ter alguma cautela pois o Uruguai costuma ser indigesto.
O que não é de todo digerível é este facto surpreendente de sermos ultrapassados pela Roménia no que toca a PIB per capita.
Parece que agora, só há mais seis países abaixo de nós. E o mais provável é que daqui a dois, três anos sejamos mesmo o último com futebol ou sem ele, aliás quase certamente sem Ronaldo... Ai Jesus, Maria José! O que mais nos irá suceder?...