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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 760

d'oliveira, 01.12.22

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“La Cina è vicina”

mcr, 1-12-22

 

Os leitores (e as leitoras) desculparão o título em italiano mas usei-o sobretudo pela sonoridade. Em português (onde o filme chegou com uma dúzia de anos de atraso!!! E já depois do 25 A) a coisa dá assim: “A China está próxima”, o que, de todo não rima.

Em boa verdade quer nos anos 60 quer hoje, A china nunca esteve próxima, seja de que maneira for. E duvido que, nos próximos tempos, tal milagre ocorra. 

Todavia, para da lá espessa cortina de bambu que esconde a realidade chinesa, algo parece estar a acontecer. Nada de gigantesco, nada de esperançoso, mas apenas um ténue sopro de liberdade e de protesto que, miraculosamente vem dos cidadãos comuns, dos operários das fábricas e, por arrasto (e por hábito antigo) se propagou aos estudantes e à juventude. 

O motivo próximo será a férrea campanha “covid zero” que lembra, na sua insolente concepção e, provavelmente, nos pobres resultados obtidos o que aconteceu com as campanhas duríssimas dos tempos maoístas desde “o grande salto em frente” às “mil flores”.

Não irei ao ponto de afirmar que, também, esta vez haverá fomes medonhas, gigantescas e trágicas mas, seguramente, a liberdade inexistente sofrerá. 

Que ao Ocidente cheguem e em grande quantidade imagens, pequenos vídeos, fotografias de cidadãos espancados, de pessoas com papéis brancos ao alto, diz muito do prodigioso salto que a China viveu mesmo que à culto de sacrifícios enormes e de liberdades coartadas. 

Agora já se não pode esconder tudo, varrer tudo para baixo do tapete como, aliás, ocorre com a perseguição desenfreada às minorias religiosas e étnicas.

Beste aspecto a China que não é vizinha acaba por o ser. Como também o foi nos breves minutos de Tien An Men, afogados em sangue, execuções e prisões. Ou, mais proximamente, em Hong Kong onde reinará a tranquilidade dos cemitérios e das condenações à prisão. A tecnologia vence os “defensores” da ordem a todo o custo e não espanta que no meio dos protestos contra a política covid zero se oiçam, e ada vez mais perceptíveis, os gritos contra Xi Jiping, o actual pai do novo pensamento supremo, uma espécie de sucessor do grande educador das massas Mao Zedong. 

Já não me lembro do que pensei quando vi, em Paris, “La Cina è vicina”. Não sei se me apercebi do imenso logro que espreitava todos quantos esperávamos da China uma renovaçãoo da esperança num mundo melhor já que ninguém se atrevia ainda  pensar num mundo diferente. 

Os aos passaram e todas as promessas que idealizaráramos estavam naufragadas na imensa decepção da “grande revolução cultural e proletária” que de grande (de gigantesco, de inconcebível) só tinha o nume de mortos e a mais brutal regressão ética e civilizacional do processo revolucionário. Centenas, milhares dos mais respeitados revolucionários chineses foram arrastados pela horda infantil atirada para a frente por um grupo que mais tarde obviamente também acabou por seria aniquilado, incluindo Lin Biao o “mais próximo companheiro”  do presidente Mao que virá a desaparecer com a família mais próxima quando o avião em que fugia caiu iu mais presumivelmente foi abatido. Já morto ainda passou pelo vexame, rancoroso e cobarde, de ser expulso do Partido e condenado por  traidor!!!

Cinquenta anos depois continuamos a assistir a purgas mais discretas (ou menos ferozes ainda que ostensivas como a última retirada de um ex-presidente da sessão (aberta !!!) do Congresso que reafirmou o poder absoluto de Xi Jiping) mas igualmente reveladoras da via chinesa pra o comunismo...

Marx está cada vez mais longe e mais desnaturado sem que sequer por isso haja uma ressurreição dos velhos ideais do Celeste Império, agora império apenas mas mais poderoso. 

E a questão renova estará ou não a China vizinha? 

*na vinheta: fotograma do filme que dá nome ao folhetim de hoje