Ano novo vida velha

mcr, 1-1-23

Chove que Deus a dá, como ontem! E anteontem e em muitos dias do último mês.do último ano...

É domingo, não há jornais, também não é fácil encontrar um botequim onde aviar a primeira e maravilhosa bica da manhã mas com persistência e uma pequena dose de sorte, depois de duas tentativas falhadas lá lobriguei um local aberto. 

Ao pedir a bica em chávena fria, com adoçante e um copo de água, o patrão sorrindo informou-me que a água era de ontem. E piscou o olho, galhofeiro. Ri-me porque achei alguma piada e porque no primeiro dia do ano há que ser simpático com quem o é e e nos serve um café “de café” como manda a sapatilha (se é que esta expressão já com barbas ainda se usa ou, sequer, faz sentido).

Entram dois cidadãos que se acolhem ao balcão perto de mim e pedem dois “tintos”. Para “afinar” o ano, acrescenta um que prossegue o discurso afirmando ter visto o Presidente a tomar banho de mar no Brasil. Pelos vistos, este popular, não vai à bola com o dr. Rebelo de Sousa a quem chama “palhaço, palhação” Isto antes de começar a consumir o vinho! 

Depois acrescenta que o mais alto magistrado anda por lá com o dinheiro do povo, a troçar do mesmo que aguenta estas cargas de água, e que devia aparecer um jacaré que lhe levasse um bocado da perna para ficarmos com um presidente “mnquelitó” (sic).

Penso com os meus botões que o Senhor Presidente devia ouvir estes desabafos cidadãos e perceber que nem tudo é selfies, beijinhos, pancadinhas (e pancadonas) nos “sacrificados” e robustos   lombos governamentais. 

Acho que os governos deveriam ter uma espécie de agentes com funções de “olhos e ouvidos do imperador” para perceber que nem todos os silêncios populares são aprovação. 

(fique claro que não proponho nenhuma espécie de “bufaria” de que, aliás fui vítima durante largos anos, mas apenas que , de algum modo os murmúrios da paisanagem lhes chegassem às trompas de Eustáquio.

É que, no risonho “pais de minha tia cheio de bondade e aletria” (O’ Neil) a vox populi é frequentemente ignorada se é que alguma vez foi ouvida. 

Alguém, já eu ia de saída, referiu a morte de Bento XVI.  “não me diga!..”, ripostou uma senhora com faro excesso de carnes que devorava um mil folhas tamanho grande. “É que eu pensava que o homem já tinha morrido...”

De facto, e em boa verdade, quando o “Papa emérito” se recolheu ao seu eremitério foi como se morresse. Raras vezes, surdiu do seu apagamento e, de certo o modo, esfumou-se a sua influência. A Igreja é hoje outra mesmo se as mudanças não pareçam enormes. 

“Deus chamou Ratzinger à sua presença” proclama outro refugiado em busca de café e calor humano. Apeteceu-me responder que poderia continuar a chamada e convidar Putin que ontem, a propósito de uma data que a Rússia só celebrará daqui a dias, brindava com espumante do Cáucaso com soldadesca que devasta a Ucrânia. Agora nem os russistas putinistas de cá dão sinais de vida. A menção “guerra” usada pelo novo Secretário Geral do PC para referir a “operação especial” deve ter abalado aqueles empedernidos coraçõezinhos saudosos da antiga URSS.

2022 já lá vai mas ainda não se sabe o que 2023 traz à saga TAPista e ao arejo de quinhentas milongas. De concreto (ou inconcreto...) sabe-se que ninguém sabia de nada! Amigos, amigas do peito não sabiam;  visitas de casa não sabiam; colegas de trabalho não sabiam!...

Eu não irei ao ponto de afirmar que isto parece a Camorra e o silêncio ensurdecedor que acontece por aquelas bandas sul italianas. Longe de mim olhar para estes sucedidos & acontecidos como quem olha para a Sicília ou para Nápoles. Falta-lhe tragédia, um monte de “luparas” apontadas, a férrea lei do silêncio, “motus et bouche cousue” diz-se nas franças e araganças. Por cá isto é mais terras de falazões e aposto singelo contra dobrado que mais semana menos mês, já tudo andará nas bocas do mundo

Como dizia a Velha Senhora que tive por avó.   no “torrãozinho de açúcar” o segredo é “manteiga em focinho de cão “ 

E com esta me fico. E me vou.

Tenham um excelente ano ou, pelo menos, um pouco melhor do que acabou