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Incursões

Instância de Retemperação.

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estes dias que passam 774

d'oliveira, 30.01.23

A caricatura do fascismo

mcr, 30 -1-23

 

Jô Soares esse extraordinário actor, humorista e autor brasileiro, numa rábula que satirizava a Mafia dizia “não manda a máfia para o Brasil que o Brasil esculhamba a mafia”.

Ou seja que no Brasil a mafia perdia os dentes, virava samba de uma nota só e errada, perdia a sua trágica dignidade (enfim aquilo que eles entendem por dignidade) enfim tornava-se uma anedota.

 

O mesmo se pode aplicar aquele ajuntamento do passado fim de semana de que algumas televisões maliciosas mostraram os incidentes mais ou menos grotescos (e foram vários...) A entronização do “chefe” foi um musta de mau gosto, ridículo e gritaria Os viva Portugal, viva o chega e viva André Ventura com que uma boa dúzia de congressistas acabavam os paupérrimos discursos põem uma criatura com tendências suicidas a tentar desesperadamente desembaraçar-se da corda com que tentava enforcar-se pois verificava que havia no país gente ainda mais desfavorecida do que ele. Todavia, com a barrigada de gargalhadas acabava por desastradamente morrer de apoplexia! 

Quem como eu apanhou com 33 anos de dose de poder autoritário, provinciano e clerical, fica espantado com o nível daquelas discursatas berradas, daquele fervor tíbio, daquelas toliçadas passadistas. 

Se o dr. Salazar ressuscitasse e ouvisse o pouco que ouvi, corria de certeza à procura da cadeira agoirenta que o atirou para aquele limbo inacreditável (e imerecido, apesar de tudo) em que viveu durante algum tempo, iludido pelos médicos, acompanhantes e outras tristes figuras que o mantinham na ideia de que ainda governava. 

É verdade que morreu na cama mas os seus derradeiros meses foram inconcebivelmente pindéricos, parecia o fantasma da ópera na yellow brick road. Pior muito pior do que o fantasma de Canterville se é que ainda há leitores de Oscar Wilde...

Algum desses “happy few” lembrará que já no fim das aparições o fantasma roubava o baton da jovem filha de família para com o vermelhão ele pintar vestígios de sangue no soalho do castelo. 

Eu não me lembro de Hitler ou Mussolini esmo se já por cá andasse (como bebé, está bom de ver...) mas recordo uma pandilha de sul americanos, os antepassaos do presidente da Coreia do Norte, o inefável Enver Hoja o sinistro Stalin, tudo ditadores que eram semelhantes em tudo e sobretudo na perseguição à liberdade e ao povo subjugado pelo Partido, pela polícia, pelos fieis que de braço levantado ou punho ao alto os endeusavam. 

Por cá as tentativas fascistóides foram um pouco “esculhambadas” basta pensar nos “Camisas Azuis” de Rolão Preto que, de resto, acabou a sua vida política e pouco gloriosa a juntar-se à “Oposicrática” reviralhista.

Eu, de meu natural pacífico e tolerante, não desejo ao dr. Ventura  (que, convenhamos, é medíocre) um fim idêntico aos do Hitler e principalmente do Mussolini para já não falar no desastre que consumiu o Conducator romeno que teve um processo tão miserável quanto a sua vida infame exigia. 

É verdade que a criatura vê crescer a sua messe de ameaças e proclamações serôdias, graças às tolas tergiversações de certa Esquerda e ao facto de já ninguém ligar aos anúncios do BE e do PC. Muita da gente que vota naquela coisa chamada Chega é malta que se fartou das tonitruâncias da Geringonça.

A direita direitona e trauliteira prospera nos terrenos desertificados pela Esquerda inconsequente e incapaz de perceber que o mundo mudou. 

Repare-se  no mapa eleitoral onde progride o Chega e veja-se quem é que lá estava antes. E não é só nos feudos da Direita moderada que as coisas ocorrem (basta dar uma volta pelos bairros desfavorecidos das grandes cidades ou pelo Alentejo desencantado.

Na AR também não tem sido brilhante a aclão dos que cortam a palavra ao seputado Ventura e, agora, aos seu séquito de “yes men”. O proto fascismo, mesmo esta caricatura, não se combate com slogans e afirmações de fé revolucionária mas antes com uma política séria no terreno. 

Mas isso precisaria de outros actores, de alguma modéstia, de uma política que fosse ao encontro dos múltiplos descontentamentos (lembremos a gente da justiça, das escolas ou da saúde, para não falar da agricultura onde pelos vistos até condenados são nomeados...)

Até lá, teremos, as convenções patrioteiras, de relentos xenófobos e racistas, de fervor pela pobre imitação de um “duce” de país bananeiro onde, pelos vistos, ninguém se dá conta do ridículo...

 

No capítulo dos dramas de faca e alguidar temos que a criatura Keyla Brasil andou desaparecida três dias. Diz-se que foi ameaçada de morte por algum alucinado homofóbico ou trans fóbico. A ser verdade, pergunta-se porque é que a “trabalhadora do sexo e actriz” (sic) não apresentou ela própria queixa numa esquadra, munida das cartas ou mails de ódio que referem. Bastaria a companhia de um advogado ou de alguns corifeus LGBT para prevenir algum enxovalho. 

A menos que o desaparecimento tenha outras e mais sofisticadas razões. 

E, a propósito, os que lhe chamam “trabalhadora do sexo# não serão os mesmos que negam às prostitutas o direito de o serem, de serem legalmente protegidas e toleradas? 

Responda quem souber...