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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 782

d'oliveira, 06.03.23

Afinal em que ficamos?

mcr, 6-3-23

 

Nunca fui um adepto da dr.ª Marta Temido como, de resto, se pode ler em textos do tempo em que a senhora parlapateava sobre a saúde. Tive sempre a ideia de que ela era um exemplo lancinante do famoso princípio de Peter que afiança que pessoas que atingiram o seu máximo brilho em certos lugares quando são promovidas caem desabaladamente escada abaixo. 

Durante muito (demasiado) tempo esta criatura foi a paladina mais intransigente  do SNS.  Claro que um/a ministro/ada Saúde não pode andar por aí a ajudar ao bota abaixo deste serviço que aliás tem óbvios méritos e é, isso sim, uma verdadeira conquista de Abril. Porém, razões de vária ordem, incluindo o seu próprio sucesso, tem corroído o bom nome e, sobretudo, a eficácia, do SNS.

Financiamento e meios humanos tem sido a amazelas mais graves (e com mais e piores consequências) que se apontam. Por outro lado há hábitos daninhos (o entupimento das urgências por motivos pouco importantes) que não ajudam a tornar os hospitais públicos mais expeditos. 

Também é verdade que quem tem pressa e meios recorre cada vez mais ao sector privado. Eu mesmo verifiquei isso e nunca me arrependerei de o ter feito. Não que num hospital público não fosse atendido com competência mas apenas porque a ângústia da espera por vez é, de per si, já um sofrimento. Sofrimento que posso, felizmente, evitar graças à ADSE e à possibilidade de desembolsar o preço que me for exigido. 

No entanto, alguns maus amigos do SNS (amigos de Peniche ou, pior ainda, das Berlengas...) nunca perceberam ou, melhor dizenfo, nunca quiseram, por meras razçoes ideológicas (pobremente ideológicas, saliente-se)  usar de bom senso quanto à apreciação do serviço nacional de saúde. Para esses talibans do estatismo a toda a custa, tudo se resume a duas burrices supinas. Combater o execrando “privado” é um dever revolucionário tanto mais que os seus agentes fazem da saúde um negócio! E, depois, aniquilada essa hidra de Lerna tudo seria maravilhoso e os hospitais sobrecarregados com dois ou três milhões de utentes a mais  fariam o milagre do pão e dos peixes!...

Isto significa não perceber que o desenvolvimento do sector privado, além de criar milhares de empregos libert os hospitais de uma medonha pressão de utentes aflitos, permite-lhes respirar.

Claro que, nunca o confessando, também dizem entre dentes que a saúde privada rouba médicos pagando-lhes mais! Ou seja os profissionais (e aqi estão também todos os restantes corpos da saúde) deveriam continuar a receber um salário miserável ou quase (digamos a caminho do que se paga aos professores...)

A dtªª  Temido alinhou durante bastante tempo por este diapasão com uma culpa acrescentada: ela conhecia por dentro o sistema e tinha à mão todas as estatísticas produzidas pelo MS. 

O Governo que integrou deixou morrer três PPP (Loures, Braga e Vila Franca) mesmo se todos os indicadores de gestão apontavam para um notável  serviço às populações , mais rápido do que o público e mais barato.  Agora, poucos anos depois, começam a surdir cada vez mais fortemente críticas a este divórcio. Ests três hospitais funcionam pior, tem mais atrasos e custam mais dinheiro do que no tempo das PPP. Até o Tribunal de Contas (provavelmente um órgão de bloqueio e da “reacção”) já acentuou isso.

O mais extraordinário foi agora, a dr.ª Temido, vir dizer numa entrevista a televisão, que os hospitais privados esses monstros ávidos do sangue e do dinheiro dos cidadãos indefesos, tiveram uma excelente prestação durante a pandemia e que, inclusive, colaboraram melhor do que certos serviços públicos (presume-se que de saúde!!!)

Quem me lê estará lembrado dos anátemas ao “privado” durante esse mesmo período, com acusações de desinteresse, falta de solidariedade e por aí fora. 

Tal campanha teve pelo menos uma ouvinte silenciosa senão interveniente: a dr.ª Temido que, isso sim, nessa altura, poderia ter deitado alguma água na fervura das críticas exaltadas e...  sem sentido. 

Agora que, dizem os mentideros, se prepara para ser candidata do PS à Câmara de Lisboa (ai o princípio de Peter!....) eis que esta senhora muda ostensivamente de registo e lá vai deixando alguns elogios aos “outros” que em tempos não tão distantes combateu encarniçadamente. 

Eu não vou cair na ingenuidade de afirmar que o sector privado da saúde não prossegue o lucro. Claro que investimentos daquela grandeza tem na mira lucros da mesma ou maior dimensão.  Também é verdade que desde sempre paguei a ADSE que, aliás, me pesa na reforma como me pesou no ordenado. Agora que preciso, lá vou indo a um hospital privado, para a consulta do diabetes, para as injecções nos olhos sabendo que se recorresse ao hospital público pagaria menos. O problema porém não está nisso mas apenas na rapidez com que sou atendido. Até agora nunca me adiaram uma consulta, um exame, uma cirurgia (os olhos de 9 em 9 semanas). Nunca! Ainda por cima não sobrecarrego o serviço público  (e comigo dois ou três milhões de utentes!...) E pago os impostos não direi com alegria mas seguramente com resignação sem enganar o fisco como, sicut Pinho, o dos corninhos, é costume generalizado... 

 

(para a próxima, iremos relembrar as aventuras trapalhonas da TAP  a tal que depois de privatizada foi exaltadamente nacionalizada e irá de novo com quatro mil milhões de euros a arejar, passar a mãos privadas e, espera-se, mais capazes)