estes dias que passam 801
-Falta de sentido de Estado?
Falta de tudo!
mcr, 1--23
Agora é aquela apagada criatura, Mendonça qualquer coisa, que anda nas bocas do mundo-
E anda por exclusiva culpa própria, por inabilidade cavernícola, por incapacidade de resolutamente largar um “no comments”, definitivo e cortante à revoada de jornalistas que não vão largar aquele osso pela continua e pobre tergiversação até agora demonstrada.
Eu não sei de onde surdiu mais esta luminária, para que serve, e como serve. Ainda vamos ter saudades do anterior ocupante o cargo, substituído depois de se ter descoberto um itinerário pouco glorioso como autarca.
Um leitor pergunta-me, espero qu por mera curiosidade e com boa fé, porque é que eu não continuei a dedicar-me à política.
Pelos vistos, lembra-se de mim numa outra encarnação no tempo em que perdia anos de dias, muitos, de liberdade devorado pela vontade de acabar com o Estado Novo.
Os anos que mediaram entre 1960 e 75 passei-os num frenesi de que, por vezes, quando estou mais agoniado com o espectáculo actual, me chego a arrepender. Anos de vida atirados para o lixo pelas consequências do tal dia inicial e limpo. Coisas que não fiz, não porque o não quisesse mas porque a urgência da luta pela Democracia e pela Liberdade, não deixavam espaço para viver.
E anos de ingenuidade, há que acrescentar pois eu tinha a obrigação de saber que as revoluções deixam sempre um rato de problemas e não cuidam de proteger os seus filhos. Antes os comem sem apelo nem agravo.
Claro que os dias cinzentos, os dias do medo, os dias da esperança também deixaram a sua pegada de alegria, as pequenas vitórias, a camaradagem, a ideia do dever cumprido. Só que, na balança desses quinze anos, perdeu-se juventude traçou-se um destino a que, depois, nos meados de setenta e nell mezzo camin di nostra vita, há que dar um rumo ao tempo que nos resta para viver e, portas, muitas portas, entretanto se fecharam.
De todo o modo, olhando para trás angustiadamente (ah, o Osborne que premonitório foi sem que isso nos fosse, na altura tão evidente), acabo por pensar que ainda bem que não quis fazer mais política activa e recusei alguns poucos convites para lides que de certeza, ao que hoje vejo, me iriam entristecer ou, pior, renegar da pouca independência que tenho.
É que a vida parlamentar, por onde tudo começa, tem para mim um defeito de origem absoluto. Isto de um deputado ser eleito numa molhada tira-lhe todo o sentido de responsabilidade perante os que o elegeram e que não podem exigir-se pessoalmente contas. Um deputado, como na gigantesca maioria das democracias existentes, presta contas aos seus eleitores responde pelo que prometeu e cumpriu ou não cumpriu. Ser apresentado dentro de uma lata de sardinhas com os restantes colegas de círculo eleitoral torna-o numa espécie de coisa fungível e permite pensar-se que a sua escolha obedece mais a motivações internas do aparelho do que à capacidade de servir os eleitores e a república. E, de resto, isso mesmo é verificável na AR. Aquela gente levanta e baixa o dito cujo à ordem de uma direcção e pouco mais faz mesmo quando está numa comissão parlamentar. Em círculos onde se elegem mais de cinco deputados os eleitores não conhecem todos os que se apresentam ao sufrágio, não tem sobre eles qualquer espécie de controlo porque, acabadas as eleições, os eleitos podem continuar na AR ou dispersar-se por ministérios e outros cargos sem que a vontade expressa na eleição se possa considerar respeitada.
Entretanto, vou verificando que, apesar de certas coisas serem óbvias, há gente que as concebe como esdrúxulas e vá de uivar á simples menção dos fracos populismos que não assolam apenas Portugal mas toda a Europa, melhor, todo o mundo.
Parece que, depois do 25 A e do 25 N e da normalização e da entrada na Europa, havia a ideia que que isto era o paraíso do progressismo, que jamais se assistiria ao regresso da Direita pira e dura, ou que, graças a geringonças de variadas espécies, o nosso PC se democratizaria, os nossos radicais assentariam a cabecinha sonhadora e todos mas todos juntos iriamos construir um futuro éden dos trabalhadores. Tudo sem esforço, sem reflexão, sem trabalho e sem sacrifícios. Tudo com os dinheiros pedinchados à Europa, claro. À Europa horrível mas necessária para barrar o pão com manteiguinha. O melhor dos mundos, finalmente.
O diabo é a realidade. Ou, como luminosamente aponta um título de Victor Cunha Rego, na prática a teoria é outra.
Portanto, quando me espanto por, nos dias que correm aparecer um secretário de Estado a não saber responder a uma pergunta simples, a não saber assumir uma responsabilidade menor, a desconversar pensando que isso é uma prova de inteligência quando não passa de pura e simples indigência política e mental, devolvo a pergunta por inteiro ao meu amigo questionando-o sobre se teria sido melhor para qualquer de nós, sobretudo para mim, meter-me neste atoleiro em que cada resposta é um passo em falso, em que cada acção defensiva parece antes uma corrida para o abismo. Não!, com esta gente ou com a que se perfil para entrar em liça, todo o cuidado é pouco e o famoso vírus de que falam pega-se o mais cauteloso.
É passar de largo e a exemplo de Manuel Bandeira, ouvir um tango argentino.
Ou melhor: ler Manuel Bandeira a quem O’ Neil chamava “meu avozinho”!