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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 805

d'oliveira, 14.06.23

A caricatura

mcr, 14-6-23

 

Ainda me  hão de mostrar uma caricatura digna desse nome que não desfeie o caricaturado que não carregue a traço grosso as características menos simpáticas do rosto em causa.

Causou, pelos vistos, grosso escândalo, o poster com Costa. A maioria sublinhou o nariz de porco mas na verdade, subjacente estava o desenho “negroide” dos lábios. 

Não apreciei a caricatura mas por desajeitada do que por “racializada” mesmo se isso é evidente. Muito menos apreciei a defesa esparvoada do autor alegando que “aquilo” era arte. Não é. Nem sequer arte povera, menos ainda arte indigente. Aquilo é um mau desenho de um senhor professor que parece ser “próximo” do pc, coisa que, de resto, também me não admira especialmente.

O que sobressai é que esse poster brandido por uma dúzia de pessoas, alegadamente professores não sindicalizados mas igualmente indignados, frustrados nas suas espectativas (de resto legítimas e legais) insere-se num debate político evidente em que Costa como os professores, ou como a pobre criatura que tem a pasta da Educação, estão numa trincheira sem saída nem futuro. 

Costa, por várias vezes pisou o risco. A palavra  “habituem-se” quando se referiu a esta maioria absoluta que  existe só significa que o regime está parado numa encruzilhada de teimosias, casos, escândalos e guerra aberta causada por outro vago ministro que está moribundo ou mesmo putrefacto à espera de certidão de óbito urgente. 

Costa não só não é meigo no debate político mas tem o especial condão de “chutar para canto” quando o tema não lhe agrada. Há quem chame a isso habilidade política mas eu tomo a coisa pelo lado da indelicadeza e sobretudo pelo da fuga ao debate. Quando se é 1º Ministro,  e por isso se tem desde logo as chaves do debate na mão, este tipo de subterfúgios, de meia discussão e de desqualificação do argumentário do opositor abre-se o caminho para guerrilha  onde pelos vistos tudo é permitido. 

As negociações com os professores tem mais de um ano de curso e, como se vê, não se avançou um passo.  Pior: espera-nos um futuro ainda mais desagradável na medida em que este ano irão reformar-se cerca de quatro mil professores para os quais não se vislumbra uma multidão de substitutos, se é que tal multidão ou parte dela ou apenas meia dúzia de ingénuos existe. 

A verdade é que estes professores que saem quase semanalmente para arua trabalhou os tais sesis anos seis meses e não sei quantos dias. que pagou o  que tinha de pagar em sede de impostos por isso; que vem as TAPs, a Banca e mais um par de outras aberrações político financeiras engolirem centenas ou milhares de milhões. 

É claro que as famílias endinheiradas já andam a retirar as suas criancinhas da escola pública pondo-as no recato do ensino caro, caríssimo e particular, que aliás ocupa todos os primeiros lugares das classificações das escolas.

Não quero com isto dizer que não haja, aqui e ali (aparent rari nantes in gurgite vasto, Eneida, 1-118) exemplos de escolas que graças a professores dedicados, direcção experiente  e boa organização, não tenham indicadores quase miraculosos. Mas são uma excepção e com o avanço da idade da classe docente podem rapidamente desaparecer do quadro de honra (público e não o geral).

Não vou aqui  sequer referir alguns vícios tremendos do eduquês (vírus que grassa nos corredores do Ministério da Educação ) nem da bizarra estrutura das matérias leccionadas que alegadamente visaria preparar cidadãos como antigamente a divisão de orações gramaticais praticada no cadáver exangue dos Lusíadas nunca produziu um camoniano, um amafor da poesia magnífica do autor, das suas canções e de tudo o resto. Dessa pungente experiência de que fui vítima (mesmo se no exame do 5º amo liceal tenha dispensado da oral da secção de letras) guardo as piores recordações não tanto por mim mas pela infame utilização do poema.

Não vou defender  os antigos programas mas apenas fazer notar que os actuais são rasteiros e não mobilizam as inteligências juvenis. Chego a pensar que a horda do eduqês não tem filhos nem nunca viu uma criança.

Valho-me do que sei dos programas de outros países europeus onde nem toda a modernice é modernidade ou algo que se lhe assemelhe e se sai do ensino secundário com algum razoável conhecimento do mundo e das coisas.  

Voltando, porém à vaca fria (e isto é uma expressão portuguesíssima e nada mais do que isso, muito menos uma tentativa de caricaturar o que quer que seja) o alvoroço dos posters do Peso da Régua, as indignações que mereceu, as aflições dos sindicatos, as patacoadas do piedoso coro dos indignados do costume, esconde uma questão simples e clara: nada vai bem na Educação

Há professores de casa às costas que ganham metade do que pago à senhora que me trata da casa. Há, genericamente, um crescente desprezo pela classe docente, há cada vez menos candidatos a tal carreira. Não se percebe como é que um profissional razoavrlmente competente chega quase ao final da carreira e não tem a categoria ou pelo menos o salário que a lei estipula. Ou seja, não se percebem os malabarismos que o Poder faz com a progressão de carreiras, se é que não há uma vontade implícita de frustrar os professores e de lhes tirar de modo sofisticado um direito.

E quando um ministro ou aquilo que por lá faz essas vezes afirmar que já se resolveu o problema de 10, 20 ou 30% dos trabalhadores precários, a vontade do comentar é de lhe esfregar na cara (reparem que não disse focinho, ventas ou outra expressão do estilo) essa estúpida asserção. Pôr fim à precariedade é um dever urgente, absoluto e não e compadece com patacoadas de qualquer espécie.

A democracia, palavra com que certa gentinha enche a boca mas nunca o coração e menos ainda o cérebro, pede, exige, mais e melhor. A começar exige inteligência, depois compreensão do país e do mundo, finalmente antevisão das consequências da inação ou da acção incompleta.

Mas isso é pedir de mais.

E, por favor, senhor “artista” pouco inspirado: Deixe o porco em paz que á animal de que se aproveita tudo!

E dedique-se a outra arte se sequer percebe o que quer dizer a palavra. 

 

 

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