estes dias que passam 808
Reflexões avulsas sobre aquela espécie de submarino
mcr, 23-6-23
o título diz exactamente o que quero. Este assunto não tem especial relevância malgrado a atenção que as televisões lhe dedicaram.
Em primeiro lugar, o “submarino” era uma coisa em forma de assim (obrigado O’Neil) que não possuía qualquer certificação nacional ou internacional.
É verdade que fez umas dezenas de viagens mas era voz corrente e (no caso) autorizada que aquilo era um protótipo amador que levantava sérias dúvidas aos peritos mais distraídos que, aliás, inúmeras vezes avisaram que “aquilo ia dar raia”.
Em segundo lugar mesmo que a ideia inicial para a utilização fosse vagamente científica depressa a empresa percebeu que ir dar uma voltinha aos destroços do Titanic é que valia a pena.
Eu nunca percebi a curiosidade mórbida em visitar um barco naufragado, sobretudo aquele que navegou poucos dias para se perder contra um iceberg e ceifar umas centenas de vidas de que se recordam os hóspedes de primeira classe. É verdade que houve um filme que só com boa vontade sai da categoria de medíocre mas que arrebatou prémios e alcançou grandes plateias internacionais. Mais vaçe cair em graça que ser engraçado, é tudo o que concluo do arrebatamento das multidões cinefilas ou nem isso que se boquiabertaram perante uma historieta de amor `moda antiga.
Parece, além do mais, que a empresa proprietária do pseudo submarino era também a empresa que detinha (???) os direitos pela exploraçãoo dos restos que estão a bom recato a cerca de 4000 metros de rofundidade.
Também não é novidade que a tal profundidade as coisas podem correr mal, muito mal ou pessimamente A simples pressão é de tal modo forte que praticamente não há naves tripuladas que se arrisquem a tal mergulho.
Que três milionários e mais dois também ricos entendam que aquilo é uma aventura é lá com eles. Que não tivessem o discernimento de fzer um julgamento adequado dos riscos, sobretudo naquela espécie de caixa de fósforos usada, brada aos céus e faz-nos duvidar do bom senso mais ainda da inteligência dos turistas.
Será que as fortunas gigantescas que estas criaturas detinham lhes deu a volta à mioleira e não foram capazes de fazer uma breve análise dos riscos que corriam pelo pífio privilégio de viajar mal sentados para durante uns breves momentos ver parte da coberta do barco destruído?
E pagaram, diz-se, 200.000 dólares pelo mergulho! De todo o modo o dinheiro era deles mesmo se a coisa se pareça arrepiantemente como um capricho de ocioso rico e pouco sagaz.
Já o carnaval à volta do acontecimento me pareceu demasiadamente ruidoso, quase uma não notícia ou uma notícia de páginas interiores de jornal de sensação.
Que quatro ou cinco países tenham destacado meios imensos para encontrar o submersível em perda, faz-me perguntar se é para isso que os contribuintes pagam impostos. Ou então, e a hipótese parece-me mais interessante, os familiares dos estouvados submarinistas ofereceram fortunas para o resgate dos entes queridos.
Tudo isto dito, também convém não esquecer as alminhas piedosas que entenderam vir trazer para o mesmo plano as mortes diárias no Mediterrâneo sobretudo o naufrágio do ultimo barco negreiro que transportariam 500, 600, 700 ou mais pobres desgraçados fugidos de tudo e, atenção!, que pagaram somas importantes (e para eles enormes) por uma boleia para a Europa.
É bom lembrar que estas viagens em autênticos caixões flutuantes não são apenas no Mediterrâneo mas também em pleno Atlântico com a intenção de atingir as ilhas Canárias. Hoje, essa via está menos frequentada mas não se passa mês sem que se saiba de uma viagem bem sucedida graças às autoridades espanholas e várias de que apenas restam ecos, notícias vagas e a garantis de mortos e desaparecidos.
As boas almas vieram em polvorosa acusar o Ocidente (claro quem mais havia de ser?) deser pai para quatro milionários e padrasto para os que fogem da fome, das guerras dos genocídio, do horror.
É verdade que o malfadado e mal baptizado “titan” mereceu uma atenção inusitada mesmo se, como aliás é sabido, as tentativas de travessia do Mediterrâneo (e também do canal da Mancha) também ainda tnham chamadas de primeira página. De todo o modo, o carácter já quase habitual das tentativas de travessia em barcos podres mas caríssimos, tornou quase banal as mortes, os desastres, o estado em que se encontram os sobreviventes para já não mencionar o mau acolhimento de muitas dessas embarcações.
Deve. Porém, observar-se que condenar a Grécia ou a Itália pelas dificuldades de acolhimento sem muitas vezes lembrar que há toda uma série de países que não recebem um único fugitivo (Polónia, Hungria, Eslováquia etre outro, para já não fala na Rússia ou na Bielorrússia, se bem que neste último caso houve uma infame tentativa de forçar a passagem de emigrantes pela fronteira polaca. Tai emigrantes foram atraídos para isso mesmo pelos dirigentes bielorrussos com finalidades que nada tinham de humanitário como se sabe. Ignora-se o que lhes terá acontecido mas duvida-se que tenham sido fraternamente acolhidos. De resto fraternidade é coisa que esse protectorado de Putin não gasta .)
É verdade que a Europa envelhece e que sangue novo é preciso por todos os motivos desde mão de obra até rejuvenescimento da população. Também é verdade que, sobretudo a Europa ocidental tem uma tradição já secular de apoio a quem a procura- Entre outras razões porque teve impérios coloniais. Todavia, sem ir muito longe, não vejo outras potências mundiais receber sequer um décimo dos se veem na necessidade de procurar apressadamente outro país. Ou então são os emigrantes que não querem ir para a China ou para a Rússia. Ou para um largo leque de países muçulmanos do Médio Oriente que até os palestinianos encara com maus olhos. Ou, outra hipótese, desta feita à luz do materialismo dialectico, a pulsão capitalista dos desenraizados à força, impede-os de preferir as excelências do novo mundo novo e socialista...
Não vale a pena realçar aqui que, por exemplo, Portugal o tal país do racismo estrutural e hediondo, acolhe todos os que do antigo império o procuram.
Voltemos, todavia, ao naufrágio do mal denominado “Titan” que não honra a antiga fama desses seres míticos e gregos. Será que a empresa do semi-submarino tem sede em algum país sério? Será que mesmo tendo perdido o seu presidente, alguém a irá demandar pela falha absoluta e previsível (de acordo com as notícias) daquela expedição? Quem ressarcirá os países que intervieram na tentativa de salvamento que mobilizou meios caríssimos? A empresa detentora do “Titan” poderá continuar a existir e a publicitar os seus serviços (aliás fúnebres)?