estes dias que passam 814
Não vale a pena...
mcr, 17-7-23
A semana que passou não fica para a história seja esta qual for, incluindo a cómica. Por uma lado o parlamento, melhor dizendo, a maioria socialista, aprovou um relatórios que, para citar Camilo, merecia “passar para o ventre da mãe terra pelo esófago da latrina”.
Isto no caso de não entupir porquanto estes úteis utensílios de higiene suportam mal tudo o que lhes pareça fancaria, No caso, ainda por cima, esta era de má qualidade.
O alegado ministro da Cultura poderia, caso o bom senso e o sentido de oportunidade lhe fossem vagamente usuais, exercer os seus magros talentos críticos naquela redacção a roçar o analfabetismo político (e literário- se é que se poderá sem corar usar esta palavra a propósito daquilo) que uma inerte porção de deputados votou sem corar.
Aproveito o ensejo para relembrar que um multidão de portugueses viu as audições da CPI que, subitamente desapareceram do que deveria ser, entre outras coisas, uma acta do sucedido durante meses.
É claro que sempre poderemos dizer que a autora daquele esforçado papelucho seria cega, surda e muda pelo que apenas gatafunhou (com perdão das gatas cá de casa e de todos os felinos em geral) o que viu e ouviu.
Segundo os jornais, a redactora do relatório foi sempre uma criatura discreta. Ora aqui está um adjectivo que com anormal e gigantesca generosidade se lhe aplica. Com a vantagem de não poder ser tomado por acinte ou injúria...
Deixemos pois este vago ectolasma político e passemos ao flamante político agora arvorado em porta-voz político do Governo.
O dr Marques Mendes, comentador encartado da SIC veio ontem traçar um perfil do ex-comentador Adão e Silva. Como se sabe, para o dr Mendes estas luminárias que ornamentam o esquálido panorama político são sempre inteligentíssimas. Convém usar esta paroxismo adjectivante para depois mais facilmente lhes meter a choupa no cachaço.
Como alguém dizia: é dar-lhes meia praça que eles atacam de cabeça baixa (e perdida).
Convenhamos que no caso, o superlativo de Mendes não tem razão de ser. Aliás basta citar as palavras deste “chien de garde” (cito Nizan... ) a propósito dos políticos com assento parlamentar e que, atrevidamente, ousaram macaquear personagens de filmes “série b dos anos oitenta”.
Esta observação que só aos olhos dos ignorantes poderá parecer cinéfila propões vários problemas sobre o que realmente foi o cinema desses anos, a série B, e tudo o resto. Claro que, para alguém nascido em 74, a referência ao cinema dos anos 80 parece indiciar uma actividade cultural muito precoce mas tudo é possível. Também valeria a pena saber a que filmes, série B se refere o novel açoitador dos deputados da CPI. De resto, a que deputados se referia ele? Todos ou apenas aos que não seguem a cartilha governamental e socialista?
Quem vai escrevendo isto já e por várias vezes criticou deputados ou varias actividades parlamentares. Sempre com a ideia de que, graças a uma crítica talvez se melhore aquele órgão que é o cerne da vida democrática seja onde for.
Mas há mais. Enquanto um mero cidadão votante posso dizer o que penso e usar até uma linguagem mais dura. Um membro do Governo deveria saber que neste caso de criticas a um outro órgão de soberania há limites, linhas vermelhas, dever de solidariedade e prudência. Digamos que um ministro sofre neste campo de uma “capitis deminutio” essencial. Como aliás um militar em relação ao poder político.
Poderíamos pensar que a frase “escapou” ao ministro-comentador. Que foi no auge do entusiasmo que a proferiu. No caso, uma declaração clara de desculpas poderia salvar a face. Mas não! O sociólogo Adão e Silva manteve-se na sua e obviamente os deputados (não todos, claro, mas muitos e incluindo socialistas) refilaram.
Tudo indica, incluindo o passado público do comentador Adão e Silva, que ele cumpre apenas o papel de punching ball de Costa. Vai dizendo um par de asneiras mas isso serve para desviar as atenções do 1º Ministro que, há que dizê-lo, anda em maré baixa.
Ora enquanto a opinião pública se desvia deste alvo graças a façanhudo ministro, outros respiram de alívio.
Eu não sei se o novel ministro da alegada “cultura” se sente com vocação para pião das nicas mas dado o seu passado de admirador de Sócrates a coisa parece possível.
Nada tenho contra os entusiastas de Sócrates, como nada tenho contra os apoiantes de Pedro Nuno ou de Ventura. Ou outros ( e não são poucos) que idolatram o chefe momentâneo desde que ele os abrigue sob um qualquer guarda chuva político.
Apenas deixo um reparo: tão embrenhados estão nas suas pequenas carreiras que o resto, a felicidade dos cidadãos, a fortaleza da democracia e a saúde da República lhes passam ao lado. Portugal continua adiado e estes primeiros vinte anos do século são disso um triste exemplo- Caminhamos para a cauda da Europa enquanto definhamos na renovação geracional. Vamos perder população ao mesmo tempo que engrossa a multidão de velhos. De velhos sós, doentes, abandonados. E pobres. Definitivamente pobres. Como legado para as novas gerações é obra!
Mas disto não cuida o comentador promovido a ministro e transformado em guarda costas político do chefe. A evidência passa-lhe ao lado como, aliás passou no texto da discreta e esforçada deputada que redigiu aquele documento que ficará para a história da incapacidade política hindígena.