estes dias que passam 826
coincidências
mcr, 12-8-23
ando num verdadeiro frenesim a arrumar coisas antigas, a fazer fichas de livros e de cds e dvds de cinema que se já existiam estavam, agora e para estes olhos, quase ilegíveis. no meio destas aventuras dei com uma pilha de mini-agendas de bolso respeitantes aos anos 1973 a 2004 (as que cobriam os anos 6o, entrda na uiversidade, a 72 foram pilhadas pela PIDE durante uma rusga seguida de prisão e nunca as consegui -nem tentei...-recuperar)-
Eam pequenas agendas que em seis folhinhas duplas continham os meses do ano com uma linha respeitante a cada dia. Portanto eu só podia escrever o que de mais relevante acontecera e ainda bem pois se a coisa fosse maior, a preguiça teria rapidamente impedido a relação de factos.
Ora, hoje, o Publico trazia na Revista uma longa reporagem sobre Amsterdam onde eu fiz o último ciclo dee curso de direito comparado (mais tarde continuei com o direito do trabalho comparado e com um coutro sobre as instituições europeias internacionais).
Nao vou sequer dar-me ao (saudoso, alegre, festivo) trabalho de descrever o que para um jovem advogado português esta frequencia da Faculté Internationale pour l'Einseignement du Droit comparé representou. Em tudo: na aprendizagem de algum Direito, na outra e mais vasta da liberdade, na troca de ideias com colegas de toda a europa ocidental (e de alguns raros estudantes, hungaros, romenos, polacos e jugoslavos da central então ocupada por uma caricatura reles feroz e vil de "socialismo" que, além de pobre, prisional e ditatorial, era tudo quanto Marx alguma vez previu nos seus piores pesadelos). Era, foi a experiência de viver fora do país cinzento e triste por períodos relativamente longos em terras italianas, francesas, holandesas que mais tarde se alargariam à Jugoslavia (Eslovénia) e a Espanha.
Lembrei-me de ir ver o que dizera nesse longíncuo dia 12 de Agosto de 1973, há preciamente 50 anos. E, de repente, uma pequena história de solidariedade com este prtuguês desamparado que começava a fartar-se das mesquinhas perseguições (e das cadeias onde ia estagiar de cada vez que era preso). De facto, nesse exacto dia 12, um dos nossos professores encontrado por mero acaso em Roterdão encontrou o nosso pequeno grupo exculsionista e almoçou connosco. Esse cavalheiro inglês atipico era alto funcionário bo Conselho da europa e ao saber dos meus dissabores políticos na pátria madrasta e, se me permitem a citação, "lugar de exílio" afiançou-me que me poderia arranhar trabalho nessa prestigiada instituição se porventura quizesse viver em Estrasburgo. Fiquei entusiasmado e combinei com ele preparar a minha ida caso as coisas continuassem a apertar. Tudo era melhor desde o ordenado até à segurança social e às férias. E só nao fui porwue a poucos dias de dar o salto um colega meu que fazia a tropa me preveniu do iminente golpe militar que sucederia ao desastre das Caldas.
era esse encontro holandes que registei no cadernin em cinco pobres mas esperançosas palavras "conversa com o professor R."(sic)
esse ano de ha cinquenta anos, esses mês pleno de descoberta ainda hoje me assombra. De facto, logo no dia da chegada,ainda mesmo antes de rumar à residencia estudantil onde ficaria hospedado, encontrei um amigo e colega holandês, o Bob com quem na primeira sessão do curso dorealizada na Gulbenkian, anos antes, travara amizade.
eu tenho (ou tinha) por hábito quando visito uma cidade desconhecida, munir-me de um mapa e deixar-me perder- Ora em Amsterdao a coisa é fácil porquanto nunca me lembrei que os canais se dispõem em círculo. Depois de dois ou três quilometros, farto de não chegar onde queria e com umasede ancestral, arribei a um curioso bar no Spoi, mesmo ao lado da famosa "beguinaje"e ao lado de uma livraria que se chamava Ateneum! E quem vi, no meio da multidão sequiosa, a alta e magra figura do Bob de copo na mão. Foi uma festae graças a esse encontro absolutamente inesperado, voltei a ever duas outras colegas holandesas uma das quais estava noiva de um descendente do dr Tulp o médico que preside ao erradamente quadro de Rembrandt conhecido pela "lição de anatomia".
Graças a esse encontro pude visitar a casa de família desse novo conhecido que por ter um longínquo antepassado retratado por Rembrandt tinha nessa casa myseu todos os restantes avoengos também retratados pelos melhores artistas contemporâneios de cada um deles.
De resto a Holanda foi uma conrínua festa de encontros e surpresas.
Um dos mais cómicos encontros, em Amsterdao se não erro foi com duas conhecidas, mais do que amigas, portuguesas de que ocultarei o nome por raões óbvias. De facto as duas aventureiras pela europa tinham comprado logo que se viram na Jolanda umas camisas transparentes (mod de 73!) que se usavam sem soutien que também na altura era mal visto pelas feministas mais radicais. Ao encontrar-me ficaram atrapalhadísimas, tentavam esconder os jovens peitinhos. tive de lhes explicar que desde a residencia onde vivi até qualquer sítio o que mais se viam eram peitos nus enfom conertos por um manto leve e dáfano de fantasia. E convidei-as para um almoço num restaurante indonésio onde o rijstafel era bom, abindante e barato. elas encabuladas mas com farto apetite aceitaram e lá para o fim do repasto já não tapavam o peito com uma mão. ainda estão vivas e voutendo raras muito raras notícias delas.
1973, pelo menos na Holanda, ou em Amsterdam ou mais exactamente na Freie Universitat e especilmente na residencia ue me acolhia, era para um portuga relapso mas muito so sul, uma fonte de surpresas. A começar pelo quarto que me destinaram cujo ocupante habitual estava de férias. Deixou-me uma nota em qie punha todos os seus parcoa ghaveres à disosição e pedia-me que alimentasse im gato gordo e vadio que também pernoitava ali. E indicava inclusive as rações. Cumpri galhardamente essa obrigação. Nas raras vezes que de manhã fui até à cozinha, encontrava mais holandesas desta feita em traje absolutamente menores que nada deixavam à imaginação! Lá nos cumprimentávamos amavelmente mas, confesso, que nunca perdi de vista o que via e que valia, juro, a pena. As holandesas não se mostraram aborrecidas com o olhar do pasmado do macho lusitano e até me ofereceram o cartaz que hoje faz de vinheta. às tantas aquela nudez nórdica, generosa e descuidada era apenas solidariedade.
E não foi esta a única mostra de olidariedade recebida. Naqueles anos um jovem advogado ganhava pouco. Boa parte dos meus clientes eram sindicalistas e outros tantos era rapaziada a contas com a polícia política. A viagem e a estadia num país rico tiveram padrinhos: A Gulbenkian deu-me uma generosa bolsa, oa Faculdade não me cobrou quaisquer propinas, o governo holandês cujo primeiro ministro era aliás professor de Direito e membro do Conselho da FIEDC, ainda acrecentou outra bolsa, voluptuosa, em bons florins que fizeram de mim quase um estudante rico!
Finalmente, e sempre no capítulo "encontros surpreendentes, eis que no Mauritshuis (o melhor museu pequeno do mundo) quando parei diante da "vista de Delft" de Vermeer surpreendi uma discussão entre duas jovens francesas sobre que personagem de Proust afirmara que o "petit pan de mur jaune" era a prova provda da grande arte.
Ora eu lera umformidável romance de Jorge Semprum em que um casal diante da mesmíssima obra prima discutia sobre o volume de "em busca do tempo perdido" aparecia a personagem de Bergotte e a teoria do melhor quadro do mundo, ou algo no género.
Interrompi pois a discussão das duas francesinhas em flor e referi o livro de Semprum (A segunda morte de Ramon Mercader, Lisboa, 1970) que lera há pouco tempo.
As francesas duvidaram: aquilo parecia uma tentativa de engate imaginativa mas .um um tanto ou quanto brejeira. De todo o modo lá trocámosdirecções e para provar a minha inocência tive, de à passagem por Paris no regresso da campanha holandesa, de comprar o livro para lhes enviar. A resposta foi calorosa e as minhas suspeitas tinhamfundamento. Infelizmente, que me lembre, esse encontro literário e proustiano, em Haia, não teve seguimento já não sei por que razões...
(quando se chega a esta provcta idade, é preferível ter memórias a não a ter de todo graças ao alzeimer e outros males- Aos leitores resta-lhes ter paciência.)
* a gravura não deixa grandes dúvidas quanto ao texto que, de todo o modo, aqui vai: "libertemos Portugal das grras da ditaura"