estes dias que passam 829
as desventuras de Pinho
mcr, 20-8-23
A última página do Público, edição de hoje, domingo, relata, a quatro colunas (!) que o antigo ministro, afora em prisão domiciliária, viu a sua substanciosa pensão arrestada pela terceira vez(!!) E sempre pelo mesmo magistrado, a pedido de um procurador (que também é sempre o mesmo) e sempre por motivos que se prendem com um processo que, afirma-se no artigo, já dura há doze anos.
Pelos vistos, o Tribunal da Relação já, por duas vezes (!) revogara a decisão do juiz!
Desta feita, no último dia em que esteve no Tribunal Central de Investigação Criminal, o juiz Carlos Alexandre, voltou a "congelar" a mesma pensão (de 26000 euros, ena, ena!) porque, segundo Pinho, é "o único arguido do caso EDP que tem contas no estrangeiro e filhos que não vivem no país". Supondo que esta parte é idêntica ao que vem nos autos, mas desconhecendo todo o processo, fico um tanto ou quanto alarmado. Na verdade gostaria se saber se há ou não as referidas cobras, quanto valem e qual a razão porque ainda (ao fim de doze anos!...) ainda não houve processo de as arrestar.
Depois, há a questão (sempre pressupondo que esse motivo foi invocado ) dos filhos que vivem fora. Cometeram estes algum acto que permita desconfiar que são de algum modo cúmplices do pai, restas de ferro deste ou que, de algum modo, possam prejudicar o andamento piano, pianíssimo deste processo?
Por outro lado, desconheço os argumentos da Relação que, por duas vezes, chumbou a decisão do agora seu novo membro. Na altura não foram invocados para o arresto estas duas mais que conhecidas circunstâncias, a saber o facto de Pinho ter prole e contas fora do país?
Nao tenho pelo ex-governante a mínima simpatia, bem pelo contrário. Não gosto da criatura, nunca gostei, assarapantei-me como é que o homenzinho se dedicava a fazer corninhos a um deputado, nunca percebi como é que conseguiu dar aulas na Colúmbia University, escola altamente reputada nem jamais entendi como é que alguém terá entendido pagar-lhe os salários milionários que terá auferido. Apenas o vi uma vez numa mesa de café frente à minha e só me recordo que se vestia com evidente mau gosto.
No meio da notícia refere-se ainda um procurador homofóbico (ou tido como tal e sujeito a um processo à conta disso) que descarregaria em Pinho a sua raiva contumaz no que contaria com a ajuda do juiz Alexandre que agora será também alvo de uma queixa.
Devo, aliás, dizer que tenho algumas reticências sobre o bom trabalho do juiz Alexandre que me parece pessoa integra e trabalhadora mas também incapaz de trabalhar em equipa seja com quem for. Também neste ponto apenas me baseio no que, vezes sem conta, os jornais noticiaram. Este magistrado mesmo assoberbado de trabalho não gostaria de ter colegas bo mesmo Tribunal e isso poderá, como recentemente aconteceu (caso Altice) m ter prejuicado os interrogatórios dos principais susoeitos que viram a sua detenção prolongada pelo facto do magistrado ter sido obrigado a despachar uma centena de assuntos antes de os poder ouvir. Das duas uma: ou o juiz tinha um trabalho sobre-humano oque deveria desde sempre ter denunciado e recusado porque isso afecta claramente a tarefa de qualquer pessoa e mais ainda a de quem tem de poder julgar questões que podem interferir com a liberdade dos cidadãos; ou julgava-se um super-homem, quiçá uma espécie melhorada do juiz Roy Bean de saudosa memória mas sempre ancorada aos mitos do faroeste.
No meio disto tudo, e para lá da anedota, temos que há algo que está podre no reino de Portugal-
Um processo arrastar-se por doze anos e sem fim (nem julgamento) à vista é algo digno do pior fascismo, do pior comunismo da pior barbárie. Imagine-se, por um só e irrepetível momento, que, depois disto tudo, os arguidos vão a julgamento e são absolvidos. Doze, treze ou quinze anos devida perdida, de reputação destruída, de vergonha pública permanente.
E não vale a pena tentar perceber onde reside a fonte deste escandaloso desperdício, deste vexame nacional. Fala tudo desde funcionários nos tribunais, tribunais decentes, gabinetes adequados, informática , técnicos de toda a ordem. E agora, cereja no bolo, parece que nem sequer há candidatos suficientes ao CEJ. E isto quando, apesar de tudo, os ordenados dos magistrados estão acima, bem acima, da média dos restantes da função pública.
Dir-me-ão que o mesmo se passa vergonhosamente com os médicos que fogem do SNS a sete pés, que o Estado não consegue recrutar informáticos suficientes ou que, a tropa se debate com uma crescente sangria de praças, cabos a pontos de se dizer que há dois superiores para cada inferior!!! (notícias de ontem em jornais, rádio e televisões)
Em boa verdade também na maioria destes casos não há ministros nem secretários de Estado que ultrapassem o nível de um técnico auxiliar e subalterno.
Não há, neste abençoado país quem leve a sério os ministros da Educação, da Saúde, da Justiça, das Infra-estruturas ou da Agricultura. Nem sequer os militantes e activistas mais destacados do partido socialista. Quando falo disto com amigos socialistas dói-me ver como eles se retorcem, coram, esquivam e acabam por balbuciar que "no ouro lado é a mesma miséria!"
Será. Não será o filho do meu pai quem os contradirá mas, na verdade, o poder está nas mãos, e com maioria absoluta!, do Partido Socialista e ao fim de oito anos ainda se queixa do anterior !...
Os primeiros quatro anos o PS andou ao colo do Presidente da República que dividiu tal tarefa com o senhor Jerónimo de Sousa que foi o verdadeiro padrinho da Geringonça e o principal, senão único, responsável pela paz nas ruas, pela ausência de greves e pela mansidão dos protestos (e, provavelmente, por isso, pelo definhamento do seu partido...)
Por outras palavras: tem a faca e o queijo na mão e cortam a mão!
Ora aqui está como se começa pela desventura particular do sr Pino e se acaba pela mais geral e mais pungente que é a que nos cabe.
(como calculará qualquer leitor/s prudente e avisado/a a queixa de Pinho morrerá na praia, Por várias razões e nem todas boas. Mas o mundo e, muito especialmente, Portugal não estão maduros para responsabilizar magistrados)