estes dias que passam 835
Juiza com juízo
mcr, 9-9-23
Ponto de ordem: não coheço, nem me apetece conhecer, quer a srª dr.ª Ana Gomes quer o sr. empresário Mário Ferreira.
Nada tenho a davor deles por muitos e altos serviços que possam ter prestado à pátria ao desenvolvimento do Douro e ao país. Contra também nada de especial mesmo se a truculência da sr.ª Gomes ea jactância do sr. Ferreira em muitocontribuam para uma indisfarçável antipatia minha.
Todavia, e como já disse, desde que me não pisem os pés, eles que vivam descansados mas longe.
Ora acontece que hoje sai notícia desenvolvida dacondenação da denhora Gomes por ter qualificado o sr Ferreira de “escroque”. E tê-lo-á feito alto e bom som quer na televisãoo quer numa qualquer rede social.
Desconhecia até ontem que tal epíteto tivesse sido arremessado à cara do sr. Ferreira e que este, e bem, muito bem, se tenha sentido ofendido e, por isso tivesse arrasyado a srª. gomes ao banco dos réus.
Uma das muitas coisas que devo à escola primária de Buarcos e a um sem número de liceus é um certo, razoável, conhecimento da língua portuguesa. Igualmente, sou devedor de uma multidãoo de escritores que juntamente com gentes variadas deste país me ensinaram o valor das palavras, o seu significado bem como o uso devido e indevido de palavrões ou de injúrias.
A palavra escroque, dê lá por onde der, é uma injúria e é ltamente ofensiva acerte ela em quem acertar, inclusive num “escroque”.
Assim o entendeu a juíza do caso que desconsiderou uma alegada nova espécie de juízoa de valor que pretenderia provar que “escroque” não é um juízo ad hominem.
E, à conta disso, condenou a srª. Gomes a pagar cerca de 10.000 euros ao sr. Ferreira que já declarou que o que lhe caberá receber irá direito para uma obra de caridade ou algo no género.
A sr.ª Gomes deveria ficar satisfeita, endim, residnada por saber que o sr. Ferreira não enriquecerá à sua custa mas, pelos vistos, irá tentar não pagar recorrendo.
Eu, mesmo sem ter pela ré condenada qualquer espécie de simpatia sempre lhe recordarei (pois consta-me que se licenciou em Direito) que da condenaçãoo, pelo menos moral, já se não safa.O recurso, se recurso houver, lá seguirá o seu caminho mas, entretanto, a notícia é uma e só uma. Condenada!
Confesso que pecador que sou, raras vezes segui atentamente a sr.ª Gomes nos seus arrazoados televisivos ou na sua campanha política. Sempre a achei demasiado truculenta, sempre me pareceu que gritava demasiada e desafinadamente, oque até conseguis tirar-lhe razão onde razão parecia haver.
Tenho demasiada consideração paras senhoras peixeiras, tanas delas mãe de amigos de infância, e mais recentemente pela D Rosa que durante anos me vendeu peixe e comigo amavelmente conversou sobre tudo e mais alguma coisa. A F Rosa é da Afurada, mesmo em frente ao Porto e, além de bonita e inteligente tem uma língua afiada de mulher livre e do mar, entr este “pobre homem de Buarcos” e aquela fidalga do outro lado do rio, estabeleceu-se uma complicidade própria das gentes “pé de areia” que muito me honrava e divertia.
Só por isso é que não uso a expressão “peixeirada” para descrever algumas das alocuções da sr.ª Gomes que me pareciamdemasiado estridentes, a descambar para o populismo mais imediato e fácil.
Eu entendo, porventura mal, que uma ex deputada, ex-diplomata e ex candidata à Presidência da República, deve ter algum tento na língua, alguma elegância no verbo, alguma prudência no estilo. Mesmo se, por alguma surpreendente razão, a televisão que a hospeda a possa ter contratado pela descontrolada e façanhuda verve que usa.
Ms isto, esta minha opinião, é apenas comigo e não a quero, de nenhum modo, impor à senhora em questão.
Lembraria, de todo o modo, que “quem com ferros mata, com ferros morre” e que nem todos os que são visados por uma linguagem ferina e pouco conforme à chamada boa educação se conformam com s insultos com que são mimoseados. Sobretudo se, como é o caso, têm meios de se defender nos tribunais e advogados a quem podem pagar tal serviço.
Pelos vistos, nem sempre os tribunais tem pelos réus conhecidos e reerenciados pelo público, a consideraçãoo a que estes, al e tontamente, julgam ter direito.
E é bom lembrar isto num país e num tempo em que arguidos demoram anos, decénios até erem presentes numa sessão de julgamento. E quanto mais impoerante for a sua anterior posição política, dinanceira ou social mais tempo esperam no que, numa análise simplista poderia ser qualificada de preteriçãoo de justiça, de favor perante a eventual condenaçãoo.
Desta vez, para surpresa e gáudio de muitos a coisa andou célere. Que o exemplo frutufique é tudo quanto se pede.
Amen!