estes dias que passam 840
pintura revolucionária
mcr, 28-89-23
meia dúzia de corajosos jovens activistas invadiram um local onde decorria uma conferencia e arremessaram tinta verde sobre um ministro português. O referido político estava integrado num painel com duas altas individualidades ao serviço do capitalismo anti-ambiental. Se bem recordo seriam dirigentes de topo da GALP e de mais outra empresa igualmente perversa.
No dia seguinte houve nova intrusão, desta vez sem tinta nas pessoas mas apenas nas fachadas, em que outros tantos jovens com um pano a servir de cartaz continuavam a luta árdua contra o capitalismo e os fautores da destruição do planeta. Um par de seguranças conseguiu escorraça-los em poucos minutos e os trabalhos de aniquilação do planeta prosseguiram imperturbáveis.
A CG achou que um comentário meu era zombeteiro e anti-jovem e recordou-me a minha dificultosa juventude e o meu quase quotidiano protesto.
Tentei explicar-lhe que nessa época eu, e os meus amigos, sem latas de tinta muito menos armas de qualquer tipo, atacávamos palavrosamente um Estado que proibia, perseguia, silenciava, prendia e torturava qualquer vivente que ousasse duvidar do dr Salazar e do seu benévolo Governo que se regia pela técnica de aplicar aos energúmenos protestantes "uns safanões dados a tempo" (sic). Valeria a pena lembrar que à época reinava o partido único, a censura prévia, a viciação de eleições que, de resto, estavam ganhas à partida, a proibição de partidos políticos e agremiações políticas e culturais diversas . Sobre tudo isso, travava-se em África um guerra que consumia lentamente algumas centenas de soldados por ano. (isto sem falar nos do outro lado que morriam aos milhares quer tivessem culpas ou não. Bastava-lhes o facto de serem pretos, indocumentados, quase não falarem português e, na maior parte dos casos revelarem medo dos soldados que os interpelavam. )
Eu nada tenho contra quem quer que seja que queira defender o planeta, contestar as políticas ambientais tíbias de vários países, a desertificação, a poluição dos mares e linhas de água, uma política construtivas que impermeabiliza solos e permite cheias cada vez mais violentas.
Lembraria, apesar de tudo que os países mais poluidores são igualmente aqueles onde o protesto está proibido, é violentado e os seus militantes perseguidos, presos ou, em casos extremos, mortos.
Recordaria, igualmente, que são os países europeus, democráticos e ocidentais quem mais tenta minimizar as práticas anti ambiente, proteger a natureza, reduzir os efeitos nefastos das perturbações climatéricas.
E insistiria ainda no facto de nestes mesmos países haver permissão de manifestação, de agremiação dos descontentes e alguma aceitação das suas teses.
Todavia, é aqui, que há quem se manifeste e mesmo quem não de lembre que em países pobres (e são uma multidão) há desflorestação, uso de carvão de madeira, desprotecção de espécies, más práticas agrícolas para já não falar em analfabetismo ambiental.
Trata-se de um surpreendente anti capitalismo que, nos casos relatados poupou os representantes dos proclamados agressores da natureza para se cevar na roupinha do ministro, vítima mais simples e menos perigosa.
Não tenho especial simpatia pelo aludido ministro qu, no entanto, é uma espécie de oásis no conjunto de luminárias a que chamamos Governo.
Também foi notícia que seis jovens portugueses propuseram uma acção num tribunal internacional contra 32 países. Para além de Portugal, desconheço quais serão os restantes mas aposto que no lote não constarão, a Rússia, a Índia, a China eventualmente o Brasil a Venezuela, a Coreia do Norte ou três ou quatro repúblicas semi-populares da América Central.
Os referidos litigantes são assistidos por uma firma de advogados britânica especializada em ambiente e alegadamente a trabalhar pro bono.
Lamento esclarecer a CG e algum/a leitor/a sobre as diferenças entre os meus antigos protestos que me valeram um par de demorados encarceramentos, muitas horas de interrogatório de pé e sem dormir para já não falar na proibição de profissões ligadas à função pública até ao 25 A.
Os actuais protestatários tem honras de televisão, ninguém lhes afaga os lombos a cassetete e é duvidoso que algum tribunal os condene se, porventura, houver alguma queixa mesmo quando o ocorrido é público e se traduza num ataque directo e prejudicial contra uma figura pública ao serviço do Estado.
Não pretendo, era o que me faltava, valorar os antigos tempos, ou os dirigentes da época, puta que os pariu!..., mas tenho a vaga impressão que estas manifestações traduzem mais uma moda do que uma reflexão; usam meios que não serão os mais adequados; atacam apenas quem parece menos protegido; ignoram tudo o resto e não aduzem argumentos claros, perceptíveis e, sobretudo entendíveis por quem não tem a sorte de ser estudante, viver confortavelmente e, de todo o modo usar produtos de tecnologia mais que anti ambiental desde os "ténis" aos smartphones,. Mas isso dava para outro folhetim...