Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 846

d'oliveira, 20.10.23

Ninguém os quis nem os quer

mcr, 19-10-23

 

Nunca fui pró-israelita mas também nunca dei para o peditório dos pró-árabes. Desde que me recordo, os Estados do Médio Oriente (excepção feita, e apenas durante alguns anos, do Líbano) tudo aquilo era repelente, autocrático, ditatoria le mesmo quando havia uns alegados partidos de "esquerda" a coisa descambava para o nepotismo, a corrupção, o desprezo pelas "massas" e, claro, sempre com tendência para governo de partido único.  Monarquias e repúblicas Ibn Saud ou Nasser, um reizinho da Jordânia um general iraquiano e por aí fora. O Irão era pousio de uma dinastia recente, sôfrega, autoritaria que queria modernizar  o país contra uma resma de clérigos chiitas, ignorantes, anti-progresso e anti feministas. As sucessivas revoluções (e eu ainda me lembro dum gorucho chamado Faruk que reinava no Egipto até ser deposto por um general chamado Naguib que por sua vez foi defenestrado por um coronel chamado Nasser e por aí fora. Na vizinha Líbia, outro reizinho que se chamaria Idris foi mandado para a reforma por outro coronel, desta feita Kadafi que se notabilizou por ter uma guarda pretoriana feminina, ser mandante de atentados terroristas, roubar o seu pobre povo e finlmente ter ojusto destino dos grandes criminosos.

Todavia, desde a independência argelina onde também se sucederam os golpes e contra golpes, as insurreições populares afogadas em sangue, que todos estes Estados nascidos à sombra da desaparição do Império turco, nada funcionava já não digo democraticamente mas pelo menos sem violência. Nada!

Ou melhor. a partir de 1948, ano em que a ONU praticamente criou o Estado de Israel , apareceu uma chamada "causa árabe" que, pretendendo auxiliar os palestinianos varridos das suas casas pelos exércitos irmãos que queriam mãos livres conta os inimigo sionista e pelos judeus que não deixavam de querer o mesmo,fundaram os primeiros e repelentes campos de refugiados no Líbano e na Transjordania. 

É bom lembrar que todos os restantes países "irmãos" se recusaram então, como hoje, a receber refugiados da palestina que provavelmente eram os mais educados e mais modernos de todos. 

Mais,  os refugiados em territórios mais ou menos jordanos form alegremente massacrados, anos depois, a pretexto de uma tentativa de golpe de Estado. Anda por aí muito rapazinho e muita rapariguinha, esquerdissimos todos, que disto nada sabe, nada interessa nada convém.

A verdade é que graças ao Egipto, à síria, à fraca Jordânia e ao fraquíssimo Líbano, com ajudas directas ou indirectas do Iraque, Israel foi crescendo em território depois de cada tentativa de ataque feita por estes Estados.  E cresceu por duas razões. Primeiro não tinha para onde ir. Depois havia a solidariedade dos judeus americanos que com o seu peso obrigaram as administrações  a ajudar o jovem Estado. 

Da parte da Europa, quer de Oeste, quer de Leste (lembremos que ainda havia um bloco dito "socialista") Governos e muita população sentiam-se bem livres da indesejável presença dos judeus. É bom lembrar que em toda a Europa do Atlântico aos Urais, sucederam-se durante séculos perseguições de toda a ordem. No leste, onde se criou a comunidade askenaze, os pogroms eram assustadores e repetidos. No Ocidente, desde os guetos até à santa inquisição peninsular também não tiveram melhor sorte. De pouco lhes valeu serem os médicos e os banqueiros de reis e príncipes.  Volta e meia, alguém se lembrava que tinham matado Jesus e zás! toma lá que já bebes. 

Também não se deve ocultar que, sobretudo na Polónia, na Lituânia e noutras zonas limítrofes, milhões de judeus sobreviviam miseravelmente nos "shetls" camponeses de onde só começaram a sair depois da 1ª grande guerra. Falavam yidish, eram incultos, religiosos e pobres. Chagal retratou-os bem em algumas das suas mais conhecidas telas. Do lado de cá, na Alemanha e na França, sobretudo, havia uma elite judia culta, rica e protetora das artes e das letras que forneceu (como também na Rússia mais cosmopolita) músicos, escritores, artistas plásticos, banqueiros, e políticos. No caso da Rússia, uma boa parte dos primeiros revolucionários radicais vinha de famílias judias mesmo que, na generalidade, já não professassem o judaísmo nem acreditassem num impossível regresso à terra do leite e do mel. 

A gr matança nazi acabou com a grande maioria dos judeus não escolhendo entre ricos e pobres, crentes ou ateus. Não foram só eles a sofrer os campos de extermínio (houve, ciganos, mestiços alemães das antigas colónias africanas, católicos, conservadores, doentes mentais, homossexuais e toda a espécie de membros dos partidos comunista e socialista que, anos antes, alegremente, se matavam nas ruas de Berlin.

Acabada a guerra, os mais corajosos, os que melhor conheciam os países de onde vinham, os mais visionários, entenderam ser a hora de ir para Israel, ao abrigo de uma promessa tonta feita por um lorde Balfour a um grande banqueiro judeu e multinacional.

É bom acrescentar que a Palestina foi um destino que se impôs depois de se ter pensado em Madagáscar e no sul de Angola. A Agencia Judaica reuniu fortes capitais e desatou a comprar terrenos onde se "assentaram" os primeiros colonatos, quase sempre kibutzes de forte marca socialista. E onde nasceu o "Haganah, o exército secreto judeu, os grupos terroristas Stern ou Irgun, os sindicatos e o partido trabalhista. 

O ingleses, fartos de atentados (o mais famoso dos quais foi o do Hotel Rei David...), fartos de um território sem petróleo, desandaram deixando para trás uma confusão diabólica  que já mostrava que nenhum entendimento era possível.

Com uma energia e uma tenacidade invulgares os israelitas constru,corram um país moderno, quase um jardim no deserto, dotaram-no de infraestruturas inigualáveis ainda hoje, criaram um exército cidadão e eficaz enquanto os vizinhos desaproveitavam as riquezas dos seus territórios. É verdade que beneficiaram da gigantesca ajuda da diáspora judia na América mas os vizinhos, graças ao petróleo poderiam (como agora fazem alguns) ter desenvolvido tão bem ou melhor os enormes territórios que detém e feito progredir as respectivas populações. 

Israel, com todos os seus defeitos e soberba construiu uma democracia frente à qual só se vê um amontoado de regimes ditatoriais. violentos, corruptos e politicamente instáveis.

E nestes o que parece progredir é o mais exaltado, requentado, fanatismo religioso que se alimenta da ignorância e do analfabetismo populares, vive  â custa de subvenções mormente europeias que em chegando a Gaza enchem mais depressa os cofres do Hamas do que a alegada fazenda pública. 

A isto junta-se a ajuda do grande irmão iraniano que fornece armas, treino, clérigos chiitas que, mesmo em territórios maioritariamente sunitas, lá vão construindo uma teia de instituições apenas destinadas a expulsar o inimigo sionista e nunca a melhorar a sorte da população que, ainda por cima lhes serve de escudo humano.

Muto se fala do corte da água, da luz, dos combustíveis e dos alimentos a Gaza.  Então era de Israel que tudo isso vinha e não do grande irmão egípcio? 

É conveniente lembrar que Israel abandonou a faixa de Gaza há mais que tempo suficiente, que extinguiu à força todos os seus colonatos na zona. É verdade que sempre que um tresloucado guerrilheiro acantonado em Gaza atira um petardo para território israelita, a resposta é violenta e duríssima Há um israelita morto para vinte palestinianos  de cada vez que se abre uma hostilidade.

Este ataque do Hamas nunca se destinou, nem podia, a enfraquecer Israel  a convidá-lo para um qualquer diálogo. Quem atacou, quem o ordenou, sabia exactamente o que em resposta ocorreria (e que ainda nem sequer terá seriamente começado).

Passemos às histórias dos últimos dois dias. Uma escola financiada por ingleses atacada e quando servia de refúgio e um hospital destruído  (mas que afinal continua de pé e a funcionar) por um alegado míssil que não deixa vestígios no solo nem sinais nos prédios próximos. 

Não estou a afirmar que a causa do incêndio seja outra mas apenas pergunto como é que Israel poderá ter cometido um erro tão grosseiro, uma estupidez tão supina, quando o que mais precisa é de compreensão e apoio da opinião pública internacional. Já me andava a espantar que, depois de ter ordenado uma saída de civis para sul (que, como se sabe, o Hamas tenta, por todos os meios, impedir), houvesse  tantos ataques nessa zona de segurança. A tropa israelita, altamente profissional, endoideceu? 

Eu sei que Netanyahu não é flor que se cheire, que é como agora se diz um "iliberal" que é capaz de muita coisa para se conservar no poder e longe da cadeia mas, depois de imprudentemente  (e como Stalin em 1941) nõ ter considerado os avisos das secretas e do Egipto, ainda sabe qual é a última linha vermelha a não ultrapassar. E, na falta dele, há muitos outros dos seus camaradas que sabem e mantém algum bom senso e inteligência.

 

Há para além disto tudo, num momento em que a propaganda reina, um aproveitamento político que conduz a um único ponto. Aqui os maus da fita não são os matadores fanáticos que assassinaram a sangue frio mil e quinhentos civis e raptaram mais de cento e cinquenta velhos, mulheres e crianças, mas apenas os "colonizadores", os imperialistas sionistas e seus amigalhaços que fartos de trucidar russos libertadores e inocentíssimos na Ucrânia resolveram tornar a coisa ainda mais global...

Também sei que o excessivo apego às ideologias mais radicais, e com cada vez menos eco nas sociedades ocidentais, pode conduzir a extremos de miopia política como se vai vendo por aí. Dão poucos mas gritam por muitos e seguramente mais do que as pessoas de bom senso.

Não lhes interessa (como ocorre em vários países árabes) patavina a sorte dos desgraçados habitantes de Gaza. São "danos colaterais"  na grande causa da Revolução a messiânica a que se votaram. Por ela, vale tudo, os fins justificam os meios e as massas da faixa de Gaza não pesam na futura contabilidade dos dias futuros que cantarão. 

Contra eles, apenas defendo que tudo se reconduza à política de reconhecimento de dois Estados que não sendo uma solução maravilhosa, longe disso, é a possível   e a que menos danos trará à paz no Médio Oriente. 

Ou por outras palavras: acho possível parar de eliminara ideia (muito do agrado dos chefes do Hamas) que amar a morte ´é superior aquela mais mesquinha de amar a vida (pelos vistos e na mesma óptica, a israelita. cfr as declarações de um alto dirigente do Hamas, que, obviamente, vive no Qatar com todas as mordomias que o seu alto e sangrento estado permitem.