estes dias que passam 848
Ninguém os quer II
(adenda)
ou "Sem olhosem Gaza"*
mcr, 22, 10-23
Num texto recente ao referir-me aos judeus e aos palestinianos como o título ninguém os quis nem os quer tentava dizer que na Europa (antes ou depois da 2ª guerra e desde quase sempre, aliás) a presença de judeus em quase todas as nações era algo que desagrava a muitos, muitíssimos. ou a uma forte minoria, de europeus que, de resto o demonstraram com continuada perseverança ao longo de séculos, O anti-semitismo foi um dos caldos de altura da Europa bem mais do que no Oriente até à partilha da Palestina.
Posteriormente, também aí se desenvolveu de modo galopante, como é sabido.
Ocorre, entretanto, que há um outro grupo que, no Médio Oriente ganhou as esporas de indesejável. Refiro-me aos refugiados palestinianos que ninguém está disposto a aceitar. Por junto, só Líbano e a Jordânia os receberam. Aliás, só o fizeram por serem países contíguos a Israel e, sobretudo, fracos e sem grande hipótese de os rechaçarem. Todavia, como qualquer aluno de História do primeiro ano sabe nunca os desejaram, sempre os trataram mal (quando não os chacinaram em grande número, e em ambos os países) nunca prosseguiram políticas de integração de qualquer espécie.
No que toca ao Egipto, está à vista (mais que desarmada!...). Basta ver como a fronteira de Raffah está aferrolhada. Ou como, o que parece inacreditável dado o constante estado de hostilidades entre Israel e Gaza, é de Israel que vem a eletricidade, a água, os alimentos e o combustível e provavelmente outros bens e serviços...).
Por outras palavras, Israel ao fornecer todos estes bens tem uma quota-parte de responsabilidade na manutenção de condições de funcionamento dos próprias Hamas e Jihad islâmica seus inimigos jurados.
O que espanta é que, sabendo disto, alguém se admire com o bloqueio destes fornecimentos, logo que os atentados e os ataques por foguetes foram executados.
Também, houve quem se espantasse quando se soube (aliás sempre foi público e notório) que uma forte percentagem da ajuda da Europa a Gaza era desviada para o Hamas e provavelmente para outros grupos armados.
Conviria, de resto, inquirir se a ajuda ocidental foi sequer igualada por ajudas dos países árabes.
Desconta-se o caso do Irão que apenas fornece treino e armas aos seus agentes no terreno (Hezbolah e Hamas).
Alguém me consegue explicar por que é que do Egipto não chegou até ao momento, água, eletricidade, combustíveis ou alimentos (os duzentos ou trezentos camiões na fronteira trazem donativos da ONU, do Crescente Vermelho e da União Europeia).
A solidariedade "fraternal" muçulmana que se agita nas ruas de tantos países não contempla mais do que gritaria e ameaças.
Então, enquanto para Israel seguem diariamente judeus de todo o mundo para defender um país que, em boa verdade não é o seu senão pela ligação religiosa ou por tradições cada vez mais esbatidas, não se consegue ver um par de árabes prontos a morrer por uma terra e uma gente que está para ali encurralada?
0,1% do rendimento líquido anual dos países do Golfo tornariam Gaza num jardim luxuoso que faria os israelitas morrer de inveja. Dotá-la-ia de dessalinizadoras, centrais eléctricas e tudo o resto. Aqueles milhares de edifícios há muito que poderiam estar dotados de painéis solares que sol é que mais dá naquela terra desoladas. Todavia, nada disso aconteceu e, tenho por certo que não acontecerá. A "fraternidade " islâmica e muçulmana atira para cima da UE e do Ocidente em geral as contas a pagar e, de passo, dá uma trincadela nos fundos que chegam.
Casas más, de fraca construção, onde amontoam pessoas sem especial, sem nenhum condorto, Gaza não é exactamente uma prisão a céu aberto mas sobretudo um campo de refugiados, desnorteados que dependem de toda a espécie de ajudas exteriores e são (des)governados por uma pandilha corrupta, fanática, cega pela esperança de varrer Israel do mapa. Convém dizer que a maior parte dos dirigentes deste grupo terrorista (que jura "amar a morte") vive descansada e confortavelmente noutras paragens menos inclementes.
Nada disto, porém, iliba Israel de culpas no que toca a respostas duríssimas quando se sente atacado. Aqui, deste lado reina u áxima olhos por olho, dentes por dente. É o síndroma do pequeno Estado cercado mas isso não permite esquecer que há acções militares que, como avisou Joe Biden, se assemelham mais a vinganças medonhas do que a justiça e respeito pelos direitos humanos.
Mas também isto era, sempre foi, sabido pelo Hamas e pelas multidões que o votam, o aclamam ou se insurgem noutras partes do mundo contra este actual estado de guerra.
Finalmente, parece que todos os caritativos, bondosos, progressistas espíritos que choram pelos habitantes de Gaza, puseram entre parêntesis esta tremenda verdade: aquilo pode ser tudo o que quiserem mas nunca foi sequer a caricatura de uma democracia. Ao mesmo tempo, e nos últimos meses, todos quantos ainda olham com olhos de ver (e ouvidos de ouvir) para Israel tiveram oportunidade de assistir às gigantescas e diárias manifestações de cidadãos que, em Israel, defendem a democracia e um Estado laico. E que, eventualmente, estavam a ganhar terreno contra o Likud, a extrema direita e os fanáticos religiosos que também por aqueles lados medram como coelhos. De todos os restantes lados daquela região apenas se divisam teocracias, autocracias, regimes de partido único e, corrupção, a boa e velha e rentável corrupção. Do Egipto, onde manda um dirigente de um golpe militar, da Síria onde um miserável carniceiro se aguenta no poder graças ao auxílio "desinteressado" da Rússia, do Irão onde a padralhada maltrata, prende, mata mulheres, aos emiratos que nadam em petróleo e vivem cercados de criadagem asiática a quem pagam mal e porcamente à Arábia saudita que assalaria a peso de ouro jogadores de futebol que não contestam um regime tão isolado e tão anti democrático quanto os outros. O Líbano não existe, a Jordânia não rosna o Iémen vai sendo destroçado por uma guerra civil e o Iraque está como se sabe. Em todos eles, "direitos humanos", democracia, liberdade de pensamento, de acção e de religião são apenas blasfémias. Que por cá haja quem admire isto, quem apoie isto não espanta. Como de costume, são poucos e detestam a democracia e a liberdade em que os restantes vivem e acreditam.
Voltando ao título, ninguém (exceptuando algumas criaturas da comunidade judaica do Porto que a quem pede, requer ou eventualmente paga certidões de descendência sefardita, descobre e atesta antepassados judeus desaparecidos há quinhentos anos para parte incerta) neste mundo cão está especialmente interessado em que os judeus regressem em força ao local onde foram maltratados, proibidos, expulsos ou massacrados.
No Médio Oriente não e vislumbram samaritanos dispostos a acolher dois ou três milhões de pessoas que não tem outro remédio senão viver no que elas próprias chamam prisão a céu aberto.
Também por isto, defendo o regresso ao princípio dos dois Estados. Não é uma boa ideia mas é a menos má de todas as outras.
Ainda pensei em titular esta crónica voltando ao brilhante romance de Aldous Huxley, "Sem olhos em Gaza" para significar que os amigos dos palestinianos estão como Sansão, cegos e prisioneiros de uma ideologia barata e vaga. São, se me permitem meros filisteus e agem como tal. O romamce em causa não trata exactamente disto mas toma a história do forte guerreiro judeu como pretexto para descrever um par de peripécias de um membro da boa sociedade lutando contra os seus fantasmas.
Todavia, quem fingindo apoiar a causa palestiniana, se mostra nas ruas das nossas cidades nunca quis pensar a sério nas raízes deste conflito mas apenas o usa para espantar outros fantasmas que, como alguém uma vez disse, andam à solta na Europa...