estes dias que passam 855
As regras não escritas da Democracia
mcr, 10-11-23
Verifico sem especial surpresa que o gesto do dr António Costa (pedido de demissão) suscitou rasgados elogios por quase toda a parte.
A pergunta que ocorre perante esta avalanche de suspiros admirativos é apenas esta: que outra atitude poderia ele tomar?
E quando digo ele, digo qualquer político indígena ou estrangeiro vivendo numa Democracia.
Pelos vistos toda a gente aceitou como boa a versão que o cargo de primeiro ministro não pode estar sujeito sequer a uma simples suspeita pelo que Costa entendeu que deveria mudar de ares.
Todavia se, eventualmente, foi essa (como de resto transpareceu do que disse) a razão fundamental do seu procedimento, conviria lembrar que estava acompanhada por motivos fortíssimos que terão ficado no tinteiro.
A saber: o seu chefe de Gabinete fora preso: o seu melhor amigo (que por várias vezes aparecera à boca de cena pela mão de Costa) preso fora. Um dos seus ministros, porventura o que Costa entendera defender contra todas as circunstâncias que o enterravam, era considera arguido (o que mesmo se não é igual a culpado, para lá caminha). Esta derrocada poderá não ser mais que circunstamcial mas talves, quase seguramente, vem demonstrar que os critérios de Costa quanto a escolhas de colaboradores não parecem ser os mais evidentes. Junte-se a este dia negro, um par de episódios de forçadas demissões de gente que tendo sido chamada tropeçou na primeira dobra do caminho, estatelou-se e viu-se obrigada a , rapidamente, "dar de frosques" se é que me permitem o plebeísmo.
Vou mesmo ao ponto de aceitar que várias horas depois de co,eçadas as bbuscas em S Bento ainda não tivessem sido encontradas as pilhas (e não seriam poucas pi pouco espessas) de notas que o senhor chefe de gabinete guardava ali para poder acudir a qualquer pequena necessidade. Dir-se-á que aquela maçaroca toda dá para muitas, muitíssimas, pequenas (ou mesmo grandes, enormes) necessidades mas isso é coisa que não conta... Nem aponta um culpado mas tão só alguém que porventura desconfia de bancos e que teme que o dinheiro em casa possa atrair ladrões (ou evporar-se...)
Ora, é este cúmulo de situações que não deixa qualquer escapatória a um responsável político sobretudo se, como é o caso, for pessoa inteligente.
antónio Costanão tinha qualquer possibilidade de continuar no seu cargo. Percebeu isso perfeitamente e anunciou a demissão. Se, entretanto, desfiou um rosário de considerações sobre a "dignidade do cargo" temos de considerar benevolamente que não quis atirar para cima dos acima citados cavalheiros mais areia do que aquela em que eles já estavam enterrados.
Portanto, e para abreviar, não louvo o gesto que, a meu ver, nada tem de extraordinário ou de eminentemente exemplificativo de democracia e restante bla-bla-blá ma tão somente reflete a inteligência que nunca se negou ao inda líder do PS.
E a este propósito, vejo com particular apreensão a eventual sucessão porquanto as espectativas dos comentadores e analistas parecem indicar que o inimigo das "perinhas dos banqueiros alemães a tremer" parte com alguma vantagem para a corrida.
Eu, sempre que oiço falar em frentes alegadamente populares, fico desconfiado e recordo o trágico destino das unificações à esquerda mormente as ocorridas no antigo bloco de leste e, entre elas, a esplendorosa unificação na chamada república democrática alemã e no aborto ditatorial, policial e autocrático que foi o "Partido socialista unificado" que ao abrigo de arma farpado, campos de minas e tiros e quem fugia governou aquela parcela de território até à implosão e queda do muro de Berlim.
Mas, para já, isso daria outra conversa.
Bastará, portanto, reafirmar que uma das famosas regras em voga e em uso nos países democráticos é esta quando um escândalo atinge uma instituição os seus responsáveis mesmo inocentes demitem-se não por terem procedido mal mas apenas por não terem tido as suficientes cautelas para que as coisas não emperrassem. Ora, até prova em contrário, foram essas cautelas que faltaram estrondosamente neste caso.
E, de passo, relembro a pequena e parva provocação de pôr o sr ministro Galamba a fechar em nome do Governo o debate sobre o Orçamente. Onde inclusivamente, a pobre criatura, se espojou com uma citação forçada de Marcelo Rebelo de Sousa.
Elegância saloia...