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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 892

mcr, 08.03.24

de novo , dois anos depois, a 8 de Março

em vez de voltar às costumeiras práticas do dia 8 de Março  resolvi republicar m texto antigo  que nem dois anos tem. E enendi fazer isso depoisde uma campanha eleitoral onde a actualidade internacional esteve esquecida, evaporada, desdenhada. Como se verá não vou ater-me a Gaza, à Cisjordânia (que algum leitor  treslê  ou finge não perceber mas isso é com ele) ou à Ucrânia (idem, aspas, aspas) mas volto pela enésima vez ao Afeganistão. sem me esquecer do Sudão (milhões de deslocados a morrer de fome sem ajuda por via de uma guerra civil infame), dos paíss do Sahel a braços com os costumeiros fanáticos muçulmanos, do Congo que se vê novamente metido numa guerra infindável e atiçada por vizinhos, por seitas e pela corrupção endémica e desenfreada. E de Moçambique que sofre no Norte dos mesmos males como se quisessem provar que aquilo não passa de um Estado inacabado e desgovernado.

Como de costume, quando há guerras civis ou incivis, são as mulheres (e com elas as crianças...) quem mais sofre. Todavia, até parece que sendo elas do 3º, 4º ou 5º mundo  não contam. Por isso aqui vai, de novo  o

 

 

 

Au bonheur des dames 558

 

 

As mulheres são metade do céu*

ou: au malheur des femmes

mcr, 23-12-22

 

A frase é Mao Zedong que, no meu tempo, era Tse Tung. Como de costume este tipo de frases parece querer dizer tudo e acaba por dizer pouco ou mesmo nada. Mao, no que toca à gens feminina, não foi exactamente um exemplo acabado de defensor da igualdade de género para não dizer algo mais expressivo e justo.  

De todo o modo, não é para voltar ao “grande timoneiro” que hoje se está aqui.

Leitor empedernido de jornais apanho, de quando em quando, com artigos de opinião que me fazem fugir a sete pés. Desta feita foi sobre o Afeganistão. Uma colunista vem dizer em letras gordas que a luta das afegãs é um hino à causa feminista.

Não irei dizer que na sua heroica tentativa de resistir à canalha talibã não haja um sentido também feminista mesmo se, ao que tudo indica, a luta das estudantes ora banidas das universidades, seja sobretudo uma luta bem mais ampla por uma coisa que já parece ter caído em descrédito (sobretudo em certos meios muito “progressistas”) a liberdade.

Nos escassos comentários televisivos vi mesmo homens afegãos criticarem a medida e, pelos vistos, há notícia de críticos “desaparecidos”, aprisionados ou meramente espancados.

A talibanagem sabe bem que se porventura a oposição  crescer contra as medidas que dia a dia vão sendo tomadas e que fundamentalmente se reconduzem a repor com todo o seu sinistro rigor o mesmo estado de coisas de há trinta anos. À barbárie, para usar uma simples palavra.

Tenho por mim que o Afeganistão é uma bendita miragem para os molahs e pasdaran do vizinho Irão agora a braços com uma persistente manifestação que já leva uma boa centena de mortos para não falar em duas execuções públicas que são apenas as primeiras de uma série que se anuncia. Aqui, até à data, são os homens os executados mesmo se, pelo menos, uma mulher curda tenha sido a primeira vítima mortal dos excessos de selo dos guardiães da moralidade. No Afeganistão todos guardam a moralidade e todos passam fome de rato exceptuando a minoria armada e educada nas madrassas que governa ou desgoverna o país.

As mulheres afegãs devem ao interlúdio “americano” a tentativa de fim da “burka”, a educação escolar, alguma actividade política e o ensino superior para uma minoria. E devem sobretudo a tentativa de serem consideradas não umas coisas que pertencem ao pai, aos irmãos machos, à família ou ao marido mas uma vaga e incipiente igualdade que durou pouco e que foi sepultada sob os ditames de uma religião que permite interpretações de tal modo aberrantes que não há pachorra para sequer atender ao famoso respeito pelas crenças dos outros.

No Afeganistão não são apenas uns punhados de talibans ignorantes e supersticiosos que impõem uma lei antiquíssima e a exclusão de uma enorme maioria de cidadãos do governo da cidade. E como de costume para melhor mascarar o poder de poucos nada melhor que criar entre homens e mulheres a falsa barreira da supremacia do macho.

De todo o modo, isso só funciona se no leite materno já vier – como vem –a conformidade com as tradições, com os usos, abusos e costumes que se perpetuam.

 O Islão não está só nesta defesa da capitis diminutio feminil. Outras religiões o acompanharam durante séculos e, mesmo hoje, certas seitas cristãs atiram a mulher para o papel de mãe, de escrava doméstica, de coisa negando a metade do género humano os direitos de que a outra metade disfruta. E quando não é a religião, são as tradições, os usos e costumes que, finalmente distinguem dois tipos de mulher, as familiares (mãe, irmã, filha) e as putas que é tudo o resto.

Nem sequer refiro, por desnecessário, as diferenças salariais, as hierarquias na política, no emprego, nos cargos oficiais. Quantas deputadas V conhece? Quantas presidentes de câmara ou de junta de freguesia? Quantas dirigentes de topo de grandes empresas? Ou, mesmo, de médias e pequenas?

E por aí fora...

Em Portugal, e só este ano já vi em dezenas o número de mulheres abatidas por maridos, amantes, namorados e outros filhos da puta do mesmo género. Já nem são notícia. Eu mesmo que durante anos aqui fui protestando contra esta infame realidade já me cansei de referir o tema. Bem sei que um blogue é uma garrafa atirada ao mar com uma carta dentro. Os caprichos das marés e do vento raras vezes as airam para uma praia onde alguém mais curioso recolhe a mensagem, a lê e a difunde. Todavia, a cada um o seu papel. O meu, mesquinho que é, é de traçar estas pobres linhas. A quem me lê poderá, caso queiram, competir o resto.

E entretanto as afegãs são varridas a jactos de água, proibidas de trabalhar em quase tudo, espancadas e o que mais ocorrer a um bando de religiosos fanáticos que só existem porque os toleram. Se os talibãs voltaram a governar foi porque os Estados Unidos se fartaram de ser os únicos a tentar contrariá-los e, por isso, a serem atacados por imperialistas, capitalistas e fascistas. Tudo o resto são desculpas de mau pagador...