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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

estes dias que passam 905

mcr, 13.05.24

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...Zombam da fé os insensatos..."

(um agnóstico vê passar os peregrinos)

 

mcr, 13-5-24

 

Já por alturas das jornadas da Juventude dei aqui conta da gigantesca onde de fraternidade e relgiosidade simples que animava os meus (nossos) compatriotas. E espantava-me com o facto de nunca ter aparecido em Portugal um partido confessional à semelhança da Alemanha ou da Itália. 

É verdade que a DC morreu como, aliás, morreram todos os partidos fundadores da República Italiana post 25 Abril (também lá é dia de festa e de celebração) desde o gigantesco PCI até à DC passando por vários partidos socialistas e radicais mas na Alemanha continuam poderosos os dois partidos confessionais cristãos a CDU e a CSU dominante desde sempre  na Baviera.

São e não são o mesmo partido mas há notórias diferenças entre a CDU (federal) e a sua "filial" bávara, normalmente mais à direita e fortemente católica (eu que lá vivi alguns meses diria mesmo quase só católica  pois a região nunca aderiu à "revolução" protestante. E dou sempre como exemplo a substituição do Guten Tag (bom dia) pelo "Gruss Got" que, em tradução apressada mas fiel quer dizer "que Deus o saúde, ou ainda mais portuguêsmente (e á antiga) "salve-o Deus! 

Por muito bom alemão que se fale -não era o meu caso!- usar o Guten Tag indicava sem lugar a dúvidas um estrangeiro ou pelo menos um não alemão do Sul).

É verdade que, por cá, ainda está muito arreigado  o "até amanhã se Deus quiser" expressão que dá fé de uma fé antiquíssima e popular , mas partidos confessionais de base católica nunca existiram com base popular forte. É mais fácil ouvir falar de "evangélicos" a moldar movimentos políticos basta lembrar a eleição de Bolsonaro no Brasil. Por cá aventou-se a possibilidade daquele estranho partido ADN estar também enfeudado a gente da mesma banda mas nunca ouvi qualquer confirmação disso.

Todavia hoje apenas quero referir-me às multidões (e o termo não é exagerado) que em pequenos o grandes grupos se meteram `estada em marchas que muitas vezes ultrapassavam  percursos de cem ou mais quilómetro a convergir sobre Fátima (curiosamente nome de origem muçulmana!, o mesmo se diga de Mamede e dos vários São Mamede  que dão nome a igrejas e lugares deste país ...

Para um agnóstico que saiu da Igreja (se é que alguma vez lá entrou sinceramente) no fim da adolescência, o fenómeno chama cada vez mais a atenção  e questiona certas ideias feitas sobre uma alegada descristianização  portuguesa. É verdade que há uma crise de vocações sacerdotais, que os chamados católicos não praticantes pululam (pelo menos nas cidades maiores) mas quando chega a hora da verdade é ver como os enterros segundo o rito católico são frequentes. Como os baptismos ou mesmo as comunhões solenes. Nas estatísticas, ateus e agnósticos e ainda indiferentes (queira isto dizer o que se quiser..) são menos de dez por cento (sé que sequer chegam perto dessa percentagem).

Desta vez, diz-se, o número de peregrinos ultrapassou todos os recordes recentes e anteriores. 

Na televisão as reportagens, bem menores do que no caso de um casamento aberrante salpicado de violência de género e de "socialite", viram-se filas de peregrinos em todas as estradas a caminhar serenamente mas empolgados, cumprindo promessas de todos os tipos ou encomendando  pedidos para a sua vida ou futuro deles e dos seus. 

Nunca zombei destes espectáculos, destas pessoas crentes (e não uso a expressão crédulas) que em grupos saíiram das suas aldeias, vilas e cidades, enfrentando as chuvas, algum frio, os pés feridos de bolhas, o cansaço. 

E impressionou-me sobretudo a presença importante de gente jovem, de gente com todo o ar de ainda não ter chegado sequer aos quarenta, isto é a metade dos anos que carrgo.

E, de certo modo, creiam ou não, senti-me próximo deles, não da fé deles mas sua tranquila emas reoluta  vontade de afirmar valores que bem falta fazem em muitos círculos que se tomam por elites políticas, culturais, sociais ou outras. 

E relembro um post antigo em que citando a poetisa Noémia de Sousa, a "mãe dos poetas de Moçambique", escreveu um belíssimo poema também aqui publicado e que termina "Deixem passar o meu povo".

E é disso que finalmente se trata. E é isso que de facto representa Abril. E Maio que o mudou, esse Maio, maduro Maio que muitos anos antes o Zeca anunciava.