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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 926

d'oliveira, 27.07.24

 reparar o colonialismo?

 

mcr, 27-7-24

 

 

Não sou um admirador de João Lourenço,  presidente de Angola, mas sou obrigado a reconhecer que no caso das "restituições & restantes despropósitos neo-coloniais" meteu um golo a um estranho e não especialmente dotado guarda redes metropolitano. 

De  facto, ao ser inquirido sobre a pouco, nada, instante questão das indemnizações por colonialismo, o responsável angolano disse que o caso não se punha agora nem nunca se poria, dizendo que passados 49 anos de independência sem nunca se tocar no tempo, já não era ocasião para o fazer.

E aproveitou a boleia para referir o problema das fronteiras nacionais herdadas do período colonial que, mal ou bem parecem irreversíveis depois de cerca de 100, 120 ou 150 anos da sua criação. 

Só gente tolinha se lembraria de invocar uma redefinição de fronteiras africanas que, no melhor dos casos balcanizaria medonhamente o continente. 

Na verdade, tirando casos especiais Egipto, Marrocos ou Etiópia) todas as restantes fronteiras africanas possíveis deparam com problemas gigantescos e não é sequer pensável recorrer a critérios étnicos, linguísticos ou meramente históricos (caso dos impérios do oeste africano). Mesmo no caso dos países reeridos em primeiro lugar, a definição de fronteiras é difícil , basta lembrar o conflto sobre o sul de Marrocos  ou os que resultam da actual situação das regíões abissínias, caso da Eritreia ou da província insurgente do Tigré.

João Lourenço referiu este problema  e no caso de Angola está cheio de razão porquanto, a Angola actual é fruto de diferentes etapas colonizadoras e há territórios (cerca de 50% do actual espaço angola que se acrescentaram muito tardiamente à Angola história se é que os povoamentos anteriores a 1800 se podiam sequer considerar contíguos e controlando eficazmente as regiões do interior. 

Um terceiro e último problema é o da língua. Não é por acaso que usamos o termo palop (país africano de língua oficial portuguesa) De facto, a língua do colonizador e mesmo hoje ima "língua oficial" que substituiu os diversos vernáculos  que correspondem à grande variedade de etnias que o espaço nacional compreende (e que na imensa maioria nos casos fronteiriços ultrapassa os limites oficiais do pais). O  que se verifica é que nas principais cocentrações urbanas a língua oficial prevalece sobre as línguas vernáculas que correm, pelo menos aí, o perigo de desaparecimento. De facto as cidades tornaram-se pontos de atração para enormes multidões camponesas que imparavelmente aí acorreram (ou fugindo da pobreza, da guerra civil, das secas e da falta de futuro). Nessa espécie de melting pot africano a língua materna desaparece em três quatro gerações ou mais cedo ainda. O recurso à língua "oficial" torna-se imperioso  mesmo se, ao mesmo tempo, se criam crioulos  pouco expressivos  também eles votados à desaparição.

convenhamos: as criaturas que levantaram como principal problema a questão das reparações pela colonização (e se ela foi temível não apenas pela escravatura, mas também pelo sistema de trabalho obrigatório, pela imposição de culturas obrigatórias, pela introdução da economia monetária e do fisco, etc...) abriram as portas a todas as restantes heranças da presença do colonizador.

As antigas metrópoles coloniais continuam a ser para muitos africanos um imã Ainda ontem, na cerimónia da abertura  dos jogos olímpicos podemos ver um atleta francês de origem magrebina como portador principal da chama olímpica enquanto a marselhesa era cantada por uma grande cantora lírica negra, Estas duas mgníficas presenças mostram bem que, além do cálculo político que seguramente influenciou a sua escolha, a ideia honrada e generosa da possibilidade de integração racial num país como a França. gostaria de ter visto a cara dos adeptos da srª Le Pen, como também hostari  de ver e ouvir a reacção dos " cheguistas" à presença importante e crescente de atletas de origem africana na equipa olímpica portuguesa. 

Em Portugal, além do habitual grupo de  afro-descendentes que choram todas as mágoas do raciskmo , colonialismo e imperialismo um coctail mal amanhado e mal concebido  que usam como esconjuro para todas as maleitas reais ou imaginárias, sociais ou económicas, culturais ou étncas de que se acham vítimas, apareceu o sr Presidente da República cuja loquacidade seja a que nível for ultrapassa todo e qualquer entendimento a, num brilharete perante jornalistas referir esta última moda do masoquismo ocidental e da ideologia woke.

Sª Exª parece estar a tentar um novo caminho de declarações para se manter à tona do (re)conhecimento público. 

Mesmo que eu duvide muito das coincidências (pero que las hay, las hay...) e,  num sentido relativamente coincidente sentido, uma senhora doutorada em antropologia por uma universidade americana, veio afirmar em altas parangonas em duas inteiras páginas de um jornal de referência, que "a escravização financiou toda a empresa dos descobrimentos" !!!

eu recordatia à referida luminária que grande parte dos descobrimentos estava concluída até 1500, data do "achamento do Brasil" 

As caravelas portuguesas que começaram por descer  a costa africana m sucessivas etapas até à passagem do Cabo da Bo Esperança e ao reconhecimento da contra costa africana até tomarem a rota da Índia, não tinham capacidade pra transportar mais que cinco ou seis cativos  nem isso intressava muito aos seus cpita~es que iam em busca de coisa mais trasportável e preciosa. Não é por acaso que a Costa do Marfim e a Costa do Ouro ainda hoje tem esses nomes. Por outro lado, uma vez descoberta a rota da Índia foram as especiarias o alvo da cobiça, comércio, transporte nas pequenas embarcações. A coroa, de resto, cobrava forte e feio nessas arriscadíssimas viagens. "Descoberta" a índia logo uma pequena multidão de portugueses aí se instalou para traficar localmente ou para armar pequenas esquadras rumo aos confins do índico para encontrar as melhores e maiores zonas produtoras. É verdade que nesse tráfico também terá havido algum modesto, modestíssimo aprisionamento de escravos.  Fernão Mendes Pinto, ele mesmo terá sido aprisionado e escravizado um par de vezes mas a escravatura a sério, e sobretudo o seu tráfico teve de esperar por meios de transporte maiores e bem mais tardios. E teve sobretudo de esperar pela conquista das Américas incluindo a do Norte e pela introdução das culturas do açúcar primeiro e outras posteriormente  já ia adiantado o século XVII . A escravatura financiou ou coadjuvou tais produções  agrícolas que no caso português tiveram lugar fundamental no Brasil, um pouco n Madeira e, de certo modo povoaram as ilhas de Cabo Verde e S Tomé. Nesta tarefa nada houve de "Descobrimentos" pelo que a afirmação da doutora por extenso peca extensamente por ignorância absoluta e catatónica. 

Conviria lembrar que, os portugueses foram sobretudo intermediários entre as zonas de "exportação" de escravos e as zonas onde eles foram a principal mão de obra. 

De resto, mesmo nas colónias (melhor dizendo no Brasil) cedo se ouviram vozes contra a escravatura. A primeira denúncia partiu dos jesuítas instalos no Brasil  que começaram por criticar e condenar a tentativa de escravizar autóctones do Brasil, empresa que e resto falhou rapidamente e por isso deu origem à importação de africanos.

Depois, sem querer desculpar a particiapação portuguesa no tráficoseia bom lembrar que a grande percentagem de tráfico, transporte e venda de escravos competiu a outtraw potências europeias (Espanha para Cuba e boa parte da América central e o norte da América do Sul; França para as suas ilhas antilhanas e para as colónias americanas e a Grã Bretanha que terá sido responsávl por mais de 50% da angariação forçada, transporte e venda de escravos que continuou mesmo depois da independência dos Estados Unidos)

Também seria bom lembrar que a escravatura existia em África, em toda a África nomeadamente nas zonas fronteiriças ao Sahel e  na costa oriental africana (com especial predominância em Zanzibar)  quase sempre com destino ao Médio Oriente mas também ao Magrebe.

Na China que se manteve quase sempre inacessível aos europeus, a escravatura sempre existiu mas isso é questão que nunca terá aflorado à senhora antropóloga se é que la sabe que existiu um "celeste império". No que antigamente se convencionou chamar Insulíndia o fenómeno esclavagista existiu  muito antes da intrusão dos europeus, mormente dos holandeses  dos britânicos.

Que um jornal de referência dê duas inteiras páginas aos dislates da doutora por extenso sem sequer uma pequena nota e algum jornalista mis alfabetizado e sabedor destas coisas que se foram prendendo desde os primeiros anos de ensino de História é que me surpreende. E me amedronta em relação o futuro.

Hoje mesmo José Pacheco Pereira advertia que a tal "geração mais bem preparada de sempre" era de uma ignorância letal a tudo o que cheirava a História, Cultura Geografia Literatura e outras disciplinas que parecem ter sido esquecidas pelos planos gerais de eduquês e pelas universidades. Um desastre!

Um naufrágio a lembrar os da História Trágico Marítima que pelos vistos ninguém l(ou muito poucos...) lê ou sequer sabe que existe. 

Havia um dito do século XVII  que afirmava que Portugal (como a nau S Francisco Xavier) ia ao fundo com o peso da pimenta. Desta feita é com o da ignorância...