Estes dias que passam 934
Na morte de um velho amigo
mcr, 7-9-24
Não sei bem quando conheci o Augusto M Seabra pois estivemos ambos no MES (74/75) onde nos encontramos durante vários debates debaixo da mesma bandeira mas, qualquer coisa me diz que já antes nos teríamos cruzado no Festival de Cinema da Figueira, ainda ants do 25 de Abril.
Seja como for fomos durante uma boa dúzia de anos companheiros de percurso cinéfilo e/ou artístico apesar de vivermos em cidades diferentes e, sobretudo distantes não só geograficamente mas também nos aspectos em que os nossos gostos coincidiam.
De todo o modo, eu tinha a vantagem de o ler sempre que ele publicava algum artigo e nesse tempo, o AMS publicava muito (e muito bom) no Expresso primeiro e depois no Público, jornais que leio desde o primeiro número. De todo o modo, foi no Festival da Figueira que mais nos encontrávamos. Aí (juntamente com o Francisco Bélard e o Eduardo Prado Coelho) varamos noites quase inteiras e posso dizer que com breves e ligeiras discordâncias sempre tivemos um largo campo comum o que, de resto, e nos últimos anos, vinha já do que nos unira no MES
Nem ele, e muito menos eu que era bstante mais velho, estávamos para ajudar aquela missa carnavalesca que, de resto pouco anos mais durou, A deriva ultra-esquerdista, a cópia risível dos métodos aparelhísticos do PC, a incapacidade de perceber o país fora do circuito fechado dos movimentos universitários e(ou protestários e minoritários de meia dúzia se "amigos do povo" (mais tarde reconvertidos em amáveis e pachorrentos deputados e responsáveis políticos),, deu-me oportunidade de, numa reunião de nóveis dissidentes daquela breve experiência pouco feliz de luta política convertida num mero espernear de insofridas tentativas de protagonismo sem bases políticas, sociais ou outras, fez com que conhecesse e ficasse amigo de algumas pessoas de que apenas citoo Luís Matias ex-emigrado político e eventualmente o Augusto se é que a hipótese de nos termos cruzado na Figueira pecar por falsa memória.
Dizem agora os jornais, que o Augusto Seabra era irascível até dizer basta e que nada o punha mais satisfeito do que polemicar com quem tinha opinião diferente. Nos cerca de 12/15 anos em que nos encontrámos frequentemente nunca notei essa ferocidade de que alguns falam mas também é provável que os encontros frequente mas não diários nem mesmo semanais que mantivemos não tivessem dado para tanto. Depois, era eu sobretudo qu tinha notícias dele atravé do que escrevia. E escrevi sobre muita coisa que me passava ao lado sobretudo no que toca à crítica de espectáculos que obviamente a trezentos e tal quilómetros de distância eu não estava em condições de o contraditar.
Provavelmente, não tivemos tempo de aprofundar eventuais divergências e, também porque em certos domínios mormente a música contemporânea eu nunca saí da cepa torta. aliás o pouco que conheço devo-o a ele e ao Mário Vieira de Carvalho, um querido amigo de infância que me revelou que um antigo e desaparecido amigo da crise de 62 se tornara num extraordinário compositor (falo de Emanuel Nunes que nunca mais vi depois do tempo da crise académica mas que aparecia por essa altura em Coimbra e a quem eu ligava quando de longe em longe quando ia a Lisboa).
Ainda tive oportunidade de convidar o Augusto Seabra para participar num ciclo de concertos e de colóquis sobre música que durnte o meu mandato à frente da Delegação Regional de Cultura levei a cabo.
Devo dizer que a prestação do Augusto foi simplesmente brilhante e, sobretudo, inteligível pelo público . Depois, por razões meramente canalhas, entendi demitir-me desse cargo. Rareei por alguns anos as minhas idas a Lisboa pelo que só mais uma vez no funeral do Eduardo Prado Coelho o encontrei. E pareceu-me já nessa altura que ele não estaria bem. Depois, a sua colaboração nos jornais começou a tornar-se escassa a pontos de apenas uma vez o poder referir neste blog aquando da estrpitosamente imbecil ameaça de João Soares, uma perfeita mediocridade olhe-se por onde se olhar, ameaçando Sebara e Pulido Valente de umas bofetadas. claro que aquilo era só da boca para fora mas permitiu-me fazer a defesa de AMS. Anos depois ainda o referi sempre aqui com os elogios que entendi que ele amplamente merecia. Lamento nãoter tido tempo de ir à procura desses textos tanto mais que nesta matéria sou quase um info-exccluído.
Fala-se muito na "excepcional" memória de AMS. Talvez valesse a pena explicar que na realidade ele (que de facto tinha boa memória era senhor de um grande inteligência e de uma sólida cultura. E era isso, essa combinação acrecida ao trabalho de pesquisa, ao estudo e a curiosidade que o tornou uma referência no campo da crítica.
A mim apenas me espanta (e mais: dói) que o Augusto não tivesse nunca querido passar ao ensaísmo e publicado obra menos "efémera".
Provavelmente, este maníaco da independência intelectual não estava para aí virado. Prova disso é o facto de nunca, com grave prejuízo económico, nunca ter queriso ser quadro de jornais ou de qualquer instituição cultural. Queria-se "de fora" e de fora ficou. Até morrer.
Quando se tem a minha idade, a morte é de há vários, longos, muitos anos uma espécie de visita ou, pelo menos, algo que cada vez mais se avista. E de cada vez que se fixa em alguém nosso amigo é como se nos estivesse a avisar que o nosso dia não demorará a chegar. E, de certo modo, vai-nos matando aos poucos.